Título: Número de horas extras aumenta e indica nova queda no desemprego
Autor: Bouças , Cibelle
Fonte: Valor Econômico, 24/07/2009, Brasil, p. A2

O crescimento muito fraco da população economicamente ativa (PEA) e uma geração de empregos na indústria acima das expectativas provocaram a redução na taxa do desemprego para 8,1% em junho, contra 8,8% no mês anterior, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A volta da taxa ao mesmo nível de dezembro não foi o único ponto favorável no mercado de trabalho. No semestre, o rendimento cresceu 4,1%, favorecido pela inflação baixa e pela recuperação do emprego. O número de trabalhadores com carga superior a 40 horas também aumentou, um indicativo de que as empresas devem voltar a contratar maior número de pessoas no terceiro trimestre.

De acordo com dados do IBGE, o número de trabalhadores com carga superior a 44 horas aumentou 0,5% no primeiro semestre, em comparação com o mesmo intervalo do ano passado, sendo que em junho 6,31 milhões de pessoas trabalhavam nessa condição. O volume de pessoas com carga entre 40 e 44 horas semanais aumentou 4,9% (9,623 milhões). O saldo de trabalhadores com carga semanal inferior a 40 horas diminuiu 2,7% no semestre (4,93 milhões).

A economista do Santander Luiza Rodrigues considera que o aumento da carga horária deve-se ao fato de que os empresários estão preferindo otimizar a capacidade de produção, optando por horas extras e banco de horas, deixando para contratar quando a expansão da demanda for mais forte e perene. "Agosto e setembro são meses mais forte para contratações na indústria, que se prepara para o Natal. O mais provável é que as contratações tenham expansão mais significativa no terceiro trimestre."

No momento, disse a economista, a opção mais adotada pelas empresas parece ser a contratação de temporários. Ela observou que, em junho, o número de trabalhadores com emprego informal cresceu 0,8% sobre maio, enquanto os empregados com carteira tiveram expansão menor, de 0,5%. No período, a maior contribuição foi da indústria, com crescimento de 1,67%, ou 58 mil postos. "Antes da crise, o crescimento chegou a ser de 6%", afirmou Cimar Azeredo, gerente da Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE, acrescentando que antes da crise a população ocupada crescia a um ritmo superior à população economicamente ativa, o que não ocorre este ano. Segundo o IBGE, em junho, 127 mil pessoas desistiram de procurar emprego; metade conseguiu entrar no mercado de trabalho e o restante migrou para a inatividade.

No mês, foram criados 164 mil postos de trabalho no país, enquanto o número de desocupados diminuiu em 169 mil pessoas. A economista-chefe da Rosenberg & Associados, Thaís Marzola Zara, observa que o aumento da população economicamente ativa foi de 0,2% em junho contra maio, a menor taxa de crescimento desde junho de 2005. "Essa redução deve-se em parte ao desalento. Muitas pessoas acham que não vão conseguir emprego e desistem temporariamente ou definitivamente de concorrer no mercado de trabalho", disse Thaís. A economista estima, porém, um aumento da procura por emprego no terceiro trimestre com a recuperação mais significativa da economia, o que provocará nova elevação na taxa de desemprego. Para o ano, a Rosenberg projeta taxa de 8,8%.

O economista da LCA Consultores Fábio Romão também observou que o estoque de ocupados (total de empregados) registrou a primeira queda no ano, de 0,1%, em comparação com junho de 2008. Em abril e maio, o estoque havia crescido 0,2%. "Entre abril e junho, o estoque ficou igual ao do segundo trimestre do ano passado. Isso ocorreu porque as contratações nas áreas de serviços e construção compensaram a queda nas contratações pela indústria", afirmou Romão. Para o terceiro trimestre, ele prevê uma retomada mais significativa do emprego na indústria, por fatores sazonais, e uma procura mais expressiva dos trabalhadores por emprego, "estimulados pela expectativa de recuperação da economia". A LCA projeta elevação da taxa de desemprego para 9% até dezembro. Segundo o IBGE, a taxa de desocupação média no primeiro semestre atingiu 8,6%, a segunda menor para o período desde o início da série histórica, em 2002. O resultado só fica abaixo dos 8,3% do ano passado.

Ainda conforme o IBGE, o rendimento médio real no primeiro semestre atingiu R$ 1.331,57, montante 4,1% superior à média do primeiro semestre do ano passado. Em junho, houve retração de 0,3% em comparação a maio. Para Azeredo, do IBGE, a inflação menor, os reajustes do salário mínimo e a maior formalização do mercado no período anterior à crise contribuíram para a alta do rendimento médio. Cálculos da Rosenberg indicam que, no acumulado de 12 meses, a massa salarial (composta pelo conjunto ocupação e renda) cresceu 6,3%, ante 6,6% nos 12 meses até maio. A contribuição da renda foi de 4,3 pontos percentuais. "Nos últimos cinco meses, a renda caiu em comparação com o mês anterior, mas a desaceleração em 12 meses só ficará mais visível neste semestre."(* Valor Online)