Título: Apoio do Planalto à candidatura Ciro em São Paulo desagrada PT e PSB
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 24/07/2009, Política, p. A8

A defesa feita pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva à candidatura do deputado Ciro Gomes (PSB-CE) a governador de São Paulo parece ainda insuficiente para minar as resistências de boa parte do PT estadual a esse projeto, ao mesmo tempo em que desperta desconfiança em setores da cúpula nacional do PSB.

No partido de Ciro, há quem veja na movimentação de Lula apenas um objetivo: afastar o deputado cearense do caminho da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) ao Palácio do Planalto. Para essa ala do PSB, as conversas sobre São Paulo enfraquecem a candidatura de Ciro a presidente e não garantem apoio do PT na disputa estadual.

O cancelamento da reunião de Lula com petistas de São Paulo, que aconteceria na quarta-feira, em Brasília, evitou uma conversa difícil, sem possibilidade de desfecho positivo naquele dia. No grupo que desembarcou na capital, havia defensores da aliança com o PSB em São Paulo em torno da candidatura de Ciro, mas havia também, quem estivesse disposto a convencer Lula das dificuldades que o nome enfrenta no PT estadual. O deputado é considerado uma incógnita, um parceiro que pode surpreender politicamente. Além do comportamento impulsivo, algumas vezes marcado por destempero verbal, o jogo político do ex-governador do Ceará é visto com suspeita entre os petistas.

Recente atitude de Ciro que prejudicou os entendimentos com o PT foi seu encontro com o governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), em Belo Horizonte. Apesar de fazer ataques ao governador de São Paulo, José Serra (PSDB) - nome mais forte do PSDB para a disputa presidencial -, o deputado também fez acenos a Aécio que desagradaram aos petistas. "O governador Aécio, sendo candidato a presidente da República, descomprime gravemente a necessidade estratégica de eu apresentar uma candidatura", disse Ciro, na ocasião. Se caiu mal no PT, o encontro também causou desconforto no PSDB, pelo fato de Ciro ser um dos maiores oponentes de Serra.

Os defensores de uma aliança em São Paulo entre PT e PSB - que reuniria PDT, PCdoB e poderia atrair PP e PR - com Ciro para governador apontam várias vantagens dessa estratégia ao projeto prioritário ao partido: eleger Dilma sucessora de Lula. Uma delas seria o exemplo que o PT paulista - criticado como hegemonista, não aliancista - daria aos outros diretórios do partido, abrindo mão de ser cabeça-de-chapa em prol das alianças. Se o PT insistir em nome próprio, corre o risco de ficar isolado no Estado. O PSB, por exemplo, que tem correntes ligadas ao PSDB no Estado, poderia até apoiar um candidato tucano. Outra vantagem seria apresentar ao eleitor uma candidatura competitiva, com chance de enfrentar a hegemonia tucana em São Paulo.

Além disso, o discurso combativo de Ciro contra o PSDB é visto como arma poderosa para enfraquecer a candidatura presidencial de Serra. Pesquisa do Ibope encomendada por aliados que testa 12 nomes dos partidos de oposição ao PSDB, mostram Ciro com melhores chances. Embora tenha feito carreira no Ceará, o deputado nasceu em Pindamonhangaba (SP), terra de Geraldo Alckmin - tucano que aparece nas pesquisas com chance de vitória em primeiro turno na disputa para o governo.

As articulações para que Ciro troque seu projeto de concorrer (pela terceira vez) ao Planalto pela corrida ao Palácio do Bandeirantes intensificaram-se nos últimos dias. Ontem, Lula afirmou, em entrevista à rádio AM de São Paulo, que a candidatura de Ciro é uma "grande possibilidade" e defendeu que o PT paulista construa uma "aliança política forte" no Estado. No PT, porém, sobram dúvidas. Há quem prefira que Ciro seja candidato a governador pelo PSB e o PT lance outro nome. O mais forte é o do prefeito de Osasco, Emídio de Souza. A aliança seria feita em um eventual segundo turno. Essa opção é afastada pelo PSB. O partido quer um projeto inserido numa estratégia nacional, que una os aliados. Por isso, uma ala do PSB quer preservar a candidatura de Ciro a presidente. O grupo lembra que o deputado só é considerado opção paulista por causa de sua importância no cenário nacional.