Título: PT teme desgaste e pode insistir na saída de Sarney
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Fonte: Valor Econômico, 24/07/2009, Política, p. A8

Com o recrudescimento de denúncias envolvendo o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), o PT poderá voltar a pressionar o pemedebista para que se afaste do cargo. A bancada de senadores petistas pediu a Sarney que se licenciasse até o fim da apuração das denúncias, mas recuou sob influência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Senadores do partido avaliam que a situação de Sarney está "insustentável" e que poderão desgastar-se caso continuem ao lado do pemedebista.

A avaliação de petistas é de que o partido precisará tomar outra posição depois do recesso, quando começarem os trabalhos do Conselho de Ética e a análise de denúncias e representação contra Sarney. A denúncia mais grave, dizem, é a quebra de decoro parlamentar, caso se confirme que o pemedebista mentiu quando declarou em plenário desconhecer o que são os atos secretos. Em diálogos interceptados com ordem judicial pela Polícia Federal, revela-se a ligação de Sarney a indicações e nomeações feitas em atos secretos. Foi por quebra de decoro parlamentar que Luiz Estevão (PMDB-DF) foi cassado, sob acusação de ter mentido sobre participação no esquema de desvio de verbas da obra do Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo. Estevão foi o único senador a ser cassado.

O presidente Lula, entretanto, mantém as declarações em favor de Sarney e ontem, em entrevista a uma rádio, defendeu-o novamente. Mesmo com a sustentação política do presidente, aliados de Sarney cobram mais apoio do PT e acusam a Polícia Federal e o ministro da Justiça, Tarso Genro, de vazarem escutas telefônicas.

O afastamento do PT em relação a Sarney não deve ser acompanhado pelo distanciamento em relação ao PMDB. Petistas avaliam que os dois partidos deverão manter-se juntos na CPI da Petrobras, cujos trabalhos começarão na volta do recesso parlamentar, em agosto. Os dois partidos têm indicações políticas na Petrobras e temem desgastar-se com as investigações.

A pressão pelo licenciamento de Sarney poderá aumentar se o DEM protocolar uma representação contra ele junto ao Conselho de Ética. Segundo o líder do partido no Senado, José Agripino Maia (RN), o DEM deverá decidir nos próximos dias se ingressará com a ação, por considerar que há "motivos de sobra". O P-Sol já ingressou com uma representação e outras quatro denúncias apresentadas pelo líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), deverão ser analisadas pelo Conselho de Ética na volta do recesso. A representação é mais forte do que uma denúncia, e só pode ser apresentada por um partido ou pela Mesa Diretora. Se for aceita pelo Conselho, o denunciado precisa se afastar. outros gestos políticos, de menor alcance, foram feitos ontem por Pedro Simon (PMDB-RS) e Cristovam Buarque (PDT-DF), que tentam antecipar a reunião do Conselho de Ética para a próxima semana, ainda no recesso. A proposta tem pouca chance de sucesso e de eficiência.