Título: Tarso Genro deixará o governo em janeiro
Autor: Lyra , Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 24/07/2009, Política, p. A10

O ministro da Justiça, Tarso Genro, terá uma conversa, dentro de um mês, com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na qual oficializará o pedido para deixar o governo em janeiro. Definido como pré-candidato do PT ao governo do Rio Grande do Sul, Genro quer deixar o cargo para descansar e estudar suas teses, antes de "mergulhar de cabeça" na campanha. O pedido de antecipação da saída não tem nada a ver com a queixa da oposição, que teme o estrago que pode fazer um candidato, como Tarso, que comanda a Polícia Federal. "Eu os desafio a fazerem uma representação contra mim no Ministério Público se eu estiver usando a Polícia Federal a meu favor. Enquanto não fizerem isto, é mero falatório político", afirmou o ministro da Justiça.

Desde que a pré-candidatura de Tarso Genro foi confirmada no último final de semana pelo diretório gaúcho do PT, a oposição, que já vinha alertando para a incompatibilidade entre o pleito eleitoral e o comando da Polícia Federal, por meio do Ministério da Justiça, que dá acesso a inquéritos e investigações, intensificou os alertas. Os presidentes do PSDB, Sérgio Guerra (PE), e do DEM, Rodrigo Maia (RJ), pediram que ele deixasse o cargo.

Os tucanos afirmam estarem apreensivos porque temem uma utilização política da Polícia Federal nas investigações envolvendo a governadora do Rio Grande do Sul, Yeda Crusius (PSDB), que enfrenta acusações de corrupção em sua gestão. A governadora será a principal adversária de Tarso Genro. "Alguém dizer que eu tenho que me afastar porque a Polícia Federal está combatendo a corrupção é facilitar a vida dos corruptos", rebateu o petista.

Tarso Genro fez questão de frisar que, ao dizer isto, não está dizendo que as pessoas que estão sob investigação são corruptas "Quem vai dizer isto é a Justiça". Ele aponta as responsabilidades: "a Polícia Federal investiga, o Ministério Público denuncia e o juiz condena ou absolve. Metade é absolvida e metade é inocentada. O ministro da Justiça não tem nada a ver com isto a não ser o fato de, administrativamente, a Polícia Federal estar subordinada ao Ministério da Justiça", afirmou.

Deixando de lado o fato de que os seus adversários têm mandato popular, Genro diz que sua situação é menos vantajosa do que a dos governadores tucanos José Serra (SP) e Yeda Crusius (RS), que poderão disputar as eleições do ano que vem e permanecer no cargo. "A rigor, um governador que concorre à reeleição tem muito mais força que eu. Ele comanda a polícia, pode definir questões de tributos e tem uma relação direta com o empresariado", disse.

O ministro da Justiça até minimiza o seu poder, lembrando episódios anteriores nos quais foi emparedado por presidentes e líderes de partidos da coalizão, queixosos quanto à atuação da Polícia Federal. "A PF investiga aliados também. Nestes casos, como eu ficaria? Se supõem que eu ganho votos ao investigar oposicionistas, também os perderia investigando aliados".

Desde que assumiu o cargo em 2007, Tarso Genro convive com acusações de que a Polícia Federal é utilizada para fins políticos. Ele lembra que, ao ser definido que ele substituiria o ex-ministro Márcio Thomaz Bastos, perguntaram-lhe se a intenção era candidatar-se à presidência da República em 2010. "Se eu quisesse ser candidato à presidência, este seria o último lugar em que eu deveria estar. Convenhamos, esta não é uma pasta que conquiste simpatias", afirmou o ministro, dando a entender que não tinha intenção de suceder o presidente Lula.

Ele admite, no entanto, que estar em um cargo público dá visibilidade a qualquer pré-candidato. "Isto é natural em uma democracia. É evidente que a atuação em um cargo público pode gerar dividendos eleitorais para quem planeja tornar-se candidato. Mas existe uma diferença muito grande entre esta situação e a utilização, indevida, da máquina pública para beneficiar-se eleitoralmente". Genro acha que a sociedade tem mecanismos suficientes para evitar abusos e recorre à recente atuação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). "Justa ou injustamente, não importa, pessoas acusadas de uso da máquina em campanhas eleitorais estão sendo cassadas", lembrou o ministro da Justiça, acrescentando que os Tribunais Regionais Eleitorais também exercem papel ativo nesta fiscalização.

A primeira conversa de Genro com Lula sobre a sucessão ao governo gaúcho aconteceu no início do ano. Estes primeiros sinais incomodaram a cúpula petista, que desejava um acordo político com o PMDB local. "O Genro é muito mais antigo que eu no PT, deveria ter mais juízo ao sair por aí dizendo que planeja ser candidato", queixou-se um integrante do Diretório Nacional, há dois meses, portanto muito antes da consolidação da candidatura. O ministro da Justiça insistiu na tese e conseguiu que seu nome fosse ratificado pelos petistas.

"A direção nacional tinha uma política de buscar alianças com o principal parceiro estratégico nacional, o PMDB. Mas também deixou claro que, nos casos em que houvesse consenso em torno de uma candidatura, não haveria necessidade de adiar a decisão para fevereiro", completou o ministro. Genro foi escolhido com o apoio de dois de seus principais oponentes pelo posto de candidato à sucessão de Yeda Crusius, Ary Vanazzi, prefeito da cidade de São Leopoldo, e Adão Villaverde, deputado estadual pelo PT. "Eu sou quem tem condições de encabeçar uma chapa de consenso no Estado".

O ministro não acredita que as queixas da oposição possam sensibilizar Lula. "O presidente Lula pensa exatamente como eu, ele tem total confiança no trabalho que venho exercendo no ministério". Para o petista, se Lula acreditasse que a Polícia Federal trabalha por motivações políticas, teria barrado os trabalhos da corporação durante o escândalo do mensalão e no episódio envolvendo o seu irmão, Genival Inácio da Silva.

Se Lula lhe pedir para que fique até março, quando os ministros candidatos devem se desincompatibilizar, Genro diz que não tem problema. "Meu primeiro dever de lealdade é com o presidente Lula".