Título: BNDES sustenta mais de 20% do investimento em máquinas no país
Autor: Bouças , Cibelle
Fonte: Valor Econômico, 01/07/2009, Brasil, p. A4

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) tem participação superior a 20% nos investimentos da indústria de transformação em máquinas e equipamentos. O banco é a principal fonte de financiamento para as empresas industriais no país, perdendo somente para o chamado autofinanciamento, quando as empresas utilizam recursos próprios para investir. Essa opção representa 46% da fonte de recursos para o setor de bens de capital, que está entre os beneficiados pela redução de juros no pacote econômico anunciado segunda-feira pelo governo.

Os dados, levantados pela Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), referem-se a 2008 e confirmam que o BNDES tem papel relevante no financiamento para o segmento de bens de capital usados na indústria. Com a redução dos juros nos empréstimos, o BNDES poderá compensar parte da redução verificada no autofinanciamento pelas empresas em decorrência da crise, diz Fernando Puga, chefe de departamento da área de pesquisa e acompanhamento econômico do BNDES.

Puga prevê que o banco poderá aumentar para cerca de 30% sua participação nas necessidades de financiamento das empresas nas áreas de indústria e infraestrutura. Um estudo feito pelo banco em 2007 indicou que o BNDES respondia por 26% desse total. O restante era suprido pelo autofinanciamento, com 52% das necessidades de empréstimo nas áreas de indústria e infraestrutura, pelas captações de recursos, com 9%, emissões de debêntures, 7%, e emissões de ações, 6%.

Puga também previu que a participação do BNDES na Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), que inclui investimentos em máquinas e equipamentos e na construção civil, deverá crescer este ano. A contribuição do banco ao investimento fixo era de 14% no ano passado, está hoje em 15% , e pode chegar a 16% no fim de 2009. As previsões no BNDES são de que a FBCF fique estável este ano, enquanto os desembolsos do BNDES podem crescer mais de 20%. A estimativa é que o banco desembolse cerca de R$ 110 bilhões em 2009 ante R$ 92 bilhões em 2008.

Apesar da forte queda no investimento no quarto trimestre de 2008 e no primeiro trimestre de 2009, Puga prevê que os investimentos comecem a se recuperar no segundo trimestre, movimento que tende a se aprofundar nos últimos três meses do ano.

Fernando Bueno, vice-presidente da Abimaq, disse que a participação do BNDES no financiamento ao setor de bens de capital para a indústria chegou a 23% em 2008, sendo 12% referentes a empréstimos diretos do banco e 11% a operações indiretas, feitas via agentes financeiros.

Bueno estima que o banco deva ter financiado quase R$ 20 bilhões para a compra de bens de capital para o setor produtivo no ano passado, o que representaria cerca de 25% em relação ao faturamento da indústria de bens de capital em 2008, que foi de R$ 78 bilhões. Bueno disse que a redução dos juros do BNDES pode alavancar investimentos em setores que não foram muito afetados pela crise ou que têm uma boa perspectiva futura. "O investimento ocorre por duas condicionantes: estar bem no presente e acreditar no futuro", afirmou o executivo da Abimaq.

Ele lembrou, porém, que hoje a ociosidade na indústria de transformação é alta, de 25%, mesmo percentual de queda dos investimentos no setor produtivo entre janeiro e maio deste ano em relação a 2008. Bueno citou como exemplo as quedas em alguns segmentos dos bens de capital, caso das máquinas-ferramenta, usadas para produzir outras máquinas pela indústria, cujo faturamento em, maio, caiu quase 54%.