Título: Calote das empresas dispara
Autor:
Fonte: Correio Braziliense, 30/01/2010, Economia, p. 20

Em 2009, inadimplência subiu 18,8%, puxada pelas micro e pequenas, receosas com a crise financeira e a consequente redução do crédito

O número de empresas que deixaram de pagar suas contas em dia, a maioria de micro e pequeno porte, cresceu 18,8% em 2009, na comparação com 2008. Foi o maior percentual desde 2001, segundo o Indicador Serasa Experian de Inadimplência das Empresas. No topo da lista aparecem os títulos protestados (41,5%), seguidos pelos cheques sem fundo (38,6%) e as dívidas com bancos (19,9%). O valor médio das dívidas com bancos foi de R$ 4.569,30, o que resultou em aumento de 3,9%. Os cheques sem fundo tiveram valor médio de R$ 1.736,13, com 9,4% de crescimento, e os títulos protestados valiam, em média, R$ 1.679,83 ¿ incidência 26,2% maior.

De acordo com os economistas da Serasa, os resultados decorrem do receio dos empresários provocado pelo cenário de risco causado pela crise internacional, que ocasionou a menor oferta de crédito e a falta de financiamento no mercado. A Serasa avaliou que, com a evolução gradual da oferta de recursos, as empresas começaram a retomar os negócios, o que cria a expectativa de que, em 2010, o crédito para pessoas jurídicas cresça mais do que o destinado ao consumidor, com queda da inadimplência durante todo o primeiro semestre.

Empregos

As micro e pequenas empresas, menos atingidas pelos efeitos da crise econômica mundial, foram responsáveis pelo saldo positivo de geração de empregos formais do país em 2009. Enquanto esse setor da economia encerrou o ano com 1,023 milhão de novas vagas, as médias e grandes empresas chegaram ao fim de 2009 com 28.279 postos a menos. A constatação faz parte de uma análise realizada pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), com base nos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho e Emprego.

O levantamento apontou que foram criados no país, ao todo, 995.110 postos de trabalho. Segundo a gerente de estudos e pesquisas do Sebrae, Raíssa Rossiter, a contribuição reflete o crescente papel econômico e social que os negócios de menor porte (1)vêm assumindo ao longo da última década. ¿Elas (pequenas empresas) compensaram as perdas verificadas entre as grandes companhias, que, por dependerem mais da demanda do mercado global, foram diretamente afetadas pela crise¿, afirmou.

A gerente do Sebrae acredita que esse movimento foi impulsionado por medidas adotadas pelo governo nos últimos anos, que permitiram a ampliação do poder de compra da população. Entre elas, estão o aumento do salário mínimo, a expansão do crédito e a implementação de programas de transferência de renda, como o Bolsa Família.

1 - Demanda aquecida A pequena empresária Glorimar Sarro, dona de uma clínica de estética, conta que experimentou um ano de demanda aquecida e precisou contratar três novos funcionários em 2009. ¿Tive um aumento de 40% na procura pelos nossos serviços. Antes, tinha quatro funcionários, mas quase dobrei para dar conta de tudo e aproveitar este bom momento¿, disse.

O número 41,5% Aumento no volume de títulos protestados no ano passado, segundo levantamento da Serasa Experian

Maior confiança em 15 anos

Victor Martins Fabio Rossi /Agência O Globo - 9/12/04 Aloísio Campelo, da FGV: otimismo dos industriais está em alta

A confiança dos industriais está em alta. Pela 12ª vez consecutiva o índice da Fundação Getulio Vargas (FGV) que mede o nível de otimismo na economia apresentou variação positiva. Em janeiro, a elevação foi de 0,2% contra dezembro, incremento que levou a taxa para 113,6 pontos ¿ maior nível desde julho de 2008 (113,7 pontos). Com as boas expectativas próximas dos patamares pré-crise, o setor também espera que o ambiente de negócios melhore nos próximos seis meses e, de acordo com a Sondagem da Indústria de Transformação, essa indicação atingiu os 162,2 pontos, o maior nível da série histórica da FGV, iniciada em 1995.

De 1,1 mil empresas entrevistadas na sondagem, 66,6% esperam uma melhora na situação do ambiente de negócios até junho e apenas 4,4% uma piora. ¿Isso mostra o ânimo dos empresários, o que se reflete em ânimo para investimentos e contratações. Essa previsão é a melhor dos últimos 15 anos¿, avaliou o coordenador de Sondagens Conjunturais da FGV, Aloísio Campelo. Os industriais seguem com uma confiança tão elevada que mesmo com o Índice de Expectativas recuando 0,3% em janeiro frente a dezembro, a taxa de janeiro ficou como a segunda maior desde 1995. Chegou aos 114,5 pontos e perdeu apenas para dezembro passado, quando foi registrado 114,9 pontos.

¿Essa desaceleração é conjuntural. A indústria está trabalhando em um ritmo muito forte e deve continuar nessa trajetória de crescimento¿, ponderou Campelo, que mostrou alguma preocupação somente em relação aos estoques. Segundo ele, houve um aumento na quantidade de empresas com excesso de produtos estocados. ¿Isso possui relação com aceleração de produção nos últimos meses para atender a forte demanda. Consumo esse que foi impulsionado pelos incentivos tributários¿, afirmou.

A despeito dos armazéns e dos galpões estarem com uma ocupação maior que o planejado, o setor ainda está satisfeito com a situação atual dos negócios, da economia e da produção. Satisfação essa que avançou 0,6% em janeiro e atingiu os 112,6 pontos ¿ maior nível desde agosto de 2008, quando a taxa chegou aos 116 pontos. A única lamentação do setor foi em relação à demanda externa, que, diferentemente da doméstica, não se recuperou e ainda dá indícios de que deve demorar a se fortalecer.