Título: Licença de Sarney soma 35 votos
Autor: Agostine , Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 01/07/2009, Política, p. A11

Em uma sessão presidida por Marconi Perillo (PSDB-GO), PSDB, DEM e PDT pediram o afastamento do senador José Sarney (PMDB-AP) da presidência do Senado. Somadas, as três bancadas têm 32 senadores, do total de 81 parlamentares. Com duas dissidências do PMDB e um senador do P-Sol, já são 35 senadores que pedem a saída de Sarney, ainda que temporária, do cargo. Enfraquecido politicamente, o pemedebista aposta no apoio do PT e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para manter-se na presidência. O PT, com 12 senadores, é o fiel da balança.

O poder que Sarney concedeu ao DEM nas últimas semanas não foi suficiente para manter o partido ao seu lado. Sarney deixou o comando da diretoria-geral do Senado para o DEM, representado pelo primeiro-secretário, Heráclito Fortes (PI), que em uma semana demitiu cinco diretores indicados pelo ex-diretor Agaciel Maia - ligado ao presidente do Senado.

O partido, um dos principais responsáveis por sua vitória na disputa na presidência da Casa e vital para a sustentação política, descolou-se de Sarney com receio de se desgastar junto à opinião pública. Segundo o líder do DEM, Agripino Maia (RN), a decisão "foi em função da opinião pública", tomada depois da denúncia que o neto do pemedebista José Adriano Cordeiro Sarney intermediava crédito consignado entre bancos e funcionários do Senado.

O desgaste de Sarney foi percebido até mesmo pela ausência dele no comando da sessão de ontem, quando foi alvo de críticas de senadores. Sarney já se defendeu três vezes em plenário e enviou carta aos senadores, explicando-se. O presidente do Senado ficou em seu gabinete e no começo da noite, o porta-voz da presidência procurou a imprensa para falar que "Sarney não se sente pressionado por ninguém, nem por sua família, e que o afastamento é uma decisão pessoal´. Havia rumores de que a família dele estaria pressionando pela renúncia do cargo. O porta-voz do presidente do Senado reforçou: "O afastamento sequer está em análise".

Nos corredores do plenário, senadores comentavam que Sarney deverá renunciar caso não tenha governabilidade. O PSDB mostrou-se preocupado por não haver um nome de consenso para substitui-lo. Caso Sarney renuncie, uma nova eleição será convocada. Se ele se licenciar, Marconi Perillo, primeiro vice-presidente, assumirá.

O PT preocupa-se com a possibilidade de entregar ao principal partido da oposição o comando da Casa por um tempo indeterminado, no fim do mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O PSDB também tem receio e tucanos dizem que Perillo não está preparado para a função. Ontem, Perillo, na cadeira da presidência, discutiu com as principais lideranças tucanas, como Sérgio Guerra, Arthur Virgílio e Álvaro Dias.

A bancada do PMDB reuniu-se e soltou uma nota afirmando que "continuará apoiando" Sarney. Antes da reunião, o ex-presidente do Senado Garibaldi Alves (RN) disse que se estivesse na presidência, se licenciaria.

O PSDB propôs a Sarney que se afastasse e nomeasse uma comissão para que comandasse o Senado, até o fim das investigações. O pemedebista escolheria um parlamentar de cada partido, mas segundo o líder do PSDB, Sérgio Guerra (PE), a proposta foi rejeitada.

PSDB, DEM e PDT não pediram a renúncia de Sarney, mas sim o afastamento até que as investigações do Ministério Público, da Polícia Federal, do Tribunal de Contas da União e do Senado sejam concluídas. O P-Sol apresentou uma representação contra Sarney e contra Renan Calheiros (PMDB-AL), junto ao Conselho de Ética, mas o conselho ainda não está formado.

O PT reuniu-se ontem para definir sua posição, mas até o fechamento desta edição a reunião ainda não havia acabado. A líder do governo no Congresso, Ideli Salvatti (PT-SC), saiu em defesa de Sarney. Segundo Ideli, a crise é antiga e é preciso tranquilidade. "Ninguém pode ser incriminado antes que a investigação seja concluída".