Título: Dólar barato estimula compra de insumos e máquinas no exterior
Autor: Sérgio Bueno, Vanessa Jurgenfeld, Ivana Moreira
Fonte: Valor Econômico, 11/03/2005, Brasil, p. A6

A baixa cotação do dólar está estimulando empresas importadoras a ampliar a compra de insumos no exterior. Algumas estão procurando novos fornecedores (em substituição a fabricantes locais) e outras estão apenas aproveitando a oportunidade para reforçar estoques a um custo mais baixo. O movimento não é generalizado e tampouco indica risco para as estimativas de um saldo comercial superior a US$ 25 bilhões este ano. Entre as empresas, a gaúcha Tramontina está procurando fornecedores na China, enquanto a cooperativa catarinense Regional Alfa quase quadruplicou seu estoque de farinha de trigo em janeiro. Já a pernambucana Terphane, fabricante de embalagens, importou 213% mais em janeiro, mas essa "explosão" decorreu da compra de máquinas e equipamentos no exterior, parte de um investimento de R$ 53 milhões destinado a duplicar a capacidade de produção da empresa. No primeiro bimestre deste ano, as importações cresceram 28% em relação a igual período do ano passado, um crescimento inferior aos 32% registrados na exportação. Nos 12 meses encerrados em fevereiro, contudo, o ritmo de incremento das compras no exterior é idêntico ao das exportações: 32%. A média diária de importações, em fevereiro, foi de US$ 262,3 milhões, valor inferior, apenas, ao dos meses sazonalmente mais fortes (setembro a novembro). A Tramontina, fabricante de utilidades domésticas, ferramentas, materiais elétricos e móveis no Rio Grande do Sul, é uma das empresas que está procurando aumentar a importação de matérias-primas e componentes para reduzir custos e elevar a competitividade dos seus produtos nos mercados interno e externo. No ano passado a empresa já trouxe da Alemanha e da França 20% do aço inoxidável utilizado no período, o equivalente a 3 mil toneladas. Agora ela está prospectando, na China, oportunidades para suprir itens como cabos, alças e parafusos para panelas. Segundo o presidente da companhia, Clóvis Tramontina, alguns desses componentes poderão ser importados com uma economia de até 50% em relação aos similares nacionais devido ao câmbio e aos preços menores na origem. Em 2004, as importações de insumos pela Tramontina alcançaram US$ 13 milhões, 62% acima do ano anterior, e devem se manter nesse patamar este ano devido ao tempo necessário para a maturação de novos negócios. O Estado de Santa Catarina importou 37% mais em janeiro deste ano em relação a janeiro de 2005. Entre os principais produtos importados estão garrafões, garrafas, grãos, uréia e polietilenos, cujas compras catarinenses ultrapassaram o percentual de crescimento de 30%. A Cooperativa Regional Alfa, localizada no Oeste catarinense, importou US$ 1,8 milhão em trigo em janeiro frente aos US$ 271,8 mil no mesmo mês do ano passado, um crescimento de 567%. "O preço estava bom", diz o presidente da Cooperalfa, Mário Lanznaster. Segundo o dirigente, foi conveniente para a cooperativa ampliar as compras porque o valor do trigo apresentou queda no mercado internacional (o que não deve continuar nos próximos meses) e o dólar esteve favorável às importações de companhias brasileiras. A cooperativa, que fabrica 350 mil quilos de farinha por dia, aproveitou e comprou em janeiro trigo suficiente para um estoque de quatro meses. Normalmente, o estoque que fazia era de um ou dois meses. Lanznaster destaca que pagou US$ 105 a tonelada de trigo, sendo que em janeiro de 2004, a mesma tonelada custava cerca de US$ 125. A mercadoria veio principalmente da Argentina, mas também houve compras do Paraguai. Na Copesul, central de matérias-primas do pólo petroquímico de Triunfo, o aumento das importações de nafta e condensado está ligado às vantagens comerciais oferecidas no mercado externo. No ano passado, a empresa importou da Argélia, Arábia Saudita, Argentina e Guiné Equatorial 53% da nafta e condensado que utilizou no período, o equivalente a 1,9 milhão de toneladas. Agora a participação já está em 60% Segundo o responsável pela aquisição dos insumos na Copesul, Hardi Schuch, os preços cobrados no Brasil pela Petrobras, única fornecedora de nafta e condensado no país, seguem as cotações em dólar do noroeste da Europa, o que anula os efeitos da variação cambial. A vantagem da importação, conforme o executivo, é que no exterior os pagamentos podem ser feitos em 30 ou 60 dias sem encargos, enquanto no Brasil a quitação deve ser à vista ou em 30 dias com juros em torno da taxa Selic. A Fertilizantes Santa Catarina ampliou as compras de uréia. De acordo com dados da Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc), a companhia importou US$ 1,2 milhão em janeiro de 2005 ante US$ 396 mil em janeiro do ano anterior. Segundo o presidente da companhia, Pedro Kuzniecow, o volume maior é resultado de atrasos de navios, que deveriam ter realizado entregas em dezembro. Ele explica que poderá, no entanto, haver vantagem de preço no fechamento da cotação, movimento que vem em boa hora, já que o setor sente neste momento retração das vendas. As indústrias mineiras, especialmente dos setores de siderurgia e metalurgia, aumentaram significativamente as importações neste início de ano, indicando uma possível substituição de insumos nacionais por importados em conseqüência da queda do dólar. A compra externa de coque mineral, matéria-prima utilizada pelas siderúrgicas na fabricação do aço, subiu 60% em janeiro em relação ao mesmo período do ano passado. As importações na categoria carvão, na qual está incluída o coque, chegaram a US$ 47 milhões. Outro insumo que registrou alta expressiva, de 61%, foi o cloreto de potássio utilizado pelas indústrias de fertilizantes. A pauta de importações de Minas também registrou alta em níquel e sulfeto de zinco. A presidente do Conselho de Relações Exteriores da Fiemg, Marta Lassance, explica que a substituição de insumos nacionais por importados foi mais comum nas pequenas indústrias. "A linha de fornecimento é um negócio de longo prazo", afirmou. "As grandes indústrias não conseguem mudar rapidamente um fornecedor porque o preço do dólar caiu." As importações pernambucanas de tecidos de filamentos de poliéster tiveram um incremento de 138,8% entre janeiro de 2004 e janeiro de 2005. O valor importado, que era de US$ 519,6 mil passou para pouco mais de US$ 1,2 milhão nesse exercício. Uma das principais importadoras dessa matéria-prima foi a Terphane, que produz filmes de poliéster para embalagens flexíveis e aplicações industriais. Os dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) apontam que as importações da empresa, que eram de US$ 459,7 mil em janeiro de 2004 passaram para US$ US$ 1,4 milhão no início deste ano, um crescimento de 213,5%. "Estamos duplicando a nossa capacidade. Isso levou a uma ampliação das nossas importações. Estamos trazendo novas máquinas e também produtos manufaturados para abrir novos mercados", diz o diretor da fábrica pernambucana, Moacir Santos. Um outro segmento importador na indústria pernambucana é o de tecidos sintéticos. Este segmento registrou um aumento de 513% nas importações, passando de US$ 27,5 mil para US$ 168,8 mil. "A explicação para esse crescimento está em grande parte na China, que consumiu grandes volumes de algodão no ano passado. Isso elevou o preço no mercado interno e os produtores de confecções foram obrigados a substituir o algodão pelo tecido sintético, que por sua vez é largamente produzido na China", diz Luciano Ferreira, presidente do grupo pernambucano Avil.