Título: Analistas consideram aumento saudável
Autor: Sergio Lamucci
Fonte: Valor Econômico, 11/03/2005, Brasil, p. A6

As importações crescem com força neste ano, mas o ritmo de expansão não assusta os analistas, pelo menos por enquanto. No primeiro bimestre, elas cresceram 28,4% (pela média diária) em relação ao mesmo período do ano passado, abaixo dos 31,9% das exportações. O mais importante é que as importações de bens de capital e matérias-primas e intermediários aumentam a taxas expressivas, indicando que as empresas continuam a investir para ampliar a capacidade instalada na economia. Ninguém espera uma explosão de importações neste ano, mesmo com o câmbio valorizado. O economista Fernando Ribeiro, da Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex), considera saudável o aumento em curso de importações. É um reflexo do crescimento mais forte da economia, afirma ele, lembrando que elas haviam caído para um nível muito baixo nos últimos anos, depois de atingirem US$ 59,7 bilhões em 1997. Nos anos seguintes, o desempenho foi fraco. Em 2002, totalizaram apenas US$ 47,2 bilhões, devido à fraca expansão do PIB e à desvalorização do câmbio. Depois de um aumento discreto em 2003, as importações cresceram 30% em 2004, para US$ 62,8 bilhões. Ribeiro avalia que o elevado saldo comercial e o desempenho das exportações abrem espaço para um avanço significativo das importações sem que isso cause problemas. Ele estima um saldo de US$ 29 bilhões para este ano, número que pode ser revisado para cima, assim como a projeções de exportações, de US$ 106 bilhões. "Exportar mais é importante justamente para poder importar mais, o que permite modernizar a economia e também satisfazer as necessidades de consumo." Ele diz que algumas empresas podem estar trocando fornecedores nacionais por estrangeiros, mas avalia que isso não é necessariamente algo preocupante. A questão é que, para Ribeiro, não haverá um grande surto importador. Em janeiro e fevereiro, as compras de bens de capital cresceram 28,5% em relação ao mesmo período de 2004, o que confirma a avaliação de que as empresas estão investindo mais, diz a economista Andressa Tezine, do ABN AMRO. Ela também aponta como saudável o aumento de 24,7% das importações de matérias-primas e intermediários. As compras de bens de consumo, por sua vez, aumentaram 24,8%. Ribeiro avalia que o resultado não é preocupante, por avaliar que não vai ocorrer uma explosão de importações desses bens como no começo do Real, mesmo com o dólar nos atuais níveis. O dólar barato preocupa Ribeiro pelo possível impacto sobre exportações. O maior risco é de que isso ocorra em 2006, se o câmbio se mantiver valorizado por muitos meses. Em 2005, porém, essa possibilidade é baixa, tanto que Ribeiro deve revisar o crescimento das exportações de 10% para cerca de 15%. Ele prevê uma expansão de 22% das importações, e não deve mudar essa previsão. As importações de combustíveis e lubrificantes têm ficado acima do esperado, por causa da disparada dos preços do petróleo. Em Nova York, o barril tem sido negociado a US$ 55. O reflexo disso é que, nos dois primeiros do ano, as compras desses produtos cresceram 45,4% em relação ao mesmo período de 2004. O economista Frederico Estrella, da Tendências Consultoria Integrada, estima que as importações de combustíveis, lubrificantes e derivados de petróleo atinjam US$ 7,4 bilhões em 2005, considerando o preço médio do barril em US$ 41. Se as cotações seguirem nos atuais níveis, os analistas vão aumentar suas projeções para as compras desses produtos, mas o impacto sobre o saldo não deverá ser dos maiores.