Título: PT quer manter controle da economia, da área social e da coordenação política
Autor: Cristiano Romero e Raymundo Costa
Fonte: Valor Econômico, 11/03/2005, Política, p. A9

Como aconteceu na primeira reforma ministerial, o PT tornou-se o maior obstáculo para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva promover mudanças em sua equipe de governo. O partido, além de exigir a devolução da Coordenação Política, está resistindo a entregar parte de seus cargos no primeiro escalão. Divisões internas estão dificultando também a definição de nomes, embora a expectativa, no Palácio do Planalto, seja a de que Lula anuncie as mudanças no início da próxima semana. Em reuniões realizadas nos últimos dias, a cúpula do PT e os ministros mais influentes do partido decidiram que a sigla deve ter o comando de três áreas da administração consideradas vitais: a coordenação política, o comando da economia e o núcleo da área social (saúde e educação). O partido quer evitar também que a reforma ministerial mude a "cara do PT e do governo", ou seja, que sinalize aos eleitores uma guinada à direita ou uma concessão ao fisiologismo. "O governo é do PT. Não tem como fugir dessa lei", comentou ontem um parlamentar influente do partido. "Precisamos fazer o ajuste político sem alterar a cara do governo." Nos últimos dias, Lula deu sinais de que devolverá ao PT a Coordenação Política, hoje sob o comando do ministro Aldo Rebelo, do PCdoB. Segundo assessores graduados do Planalto, o presidente quer nomear o deputado João Paulo Cunha (PT-SP) para a função. O problema é que o partido estaria dividido quanto a essa possibilidade. A cúpula do PT e os ministros da Fazenda, Antonio Palocci, e da Comunicação do Governo, Luiz Gushiken, defendem que o ministro da Casa Civil, José Dirceu, seja o novo coordenador político. O nome de João Paulo sofre resistência também do líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), que disputa com o ex-presidente da Câmara dos Deputados a indicação para a disputa do governo de São Paulo, em 2006. Na conversa que teve com João Paulo, na noite de quarta-feira, o presidente Lula acenou com a possibilidade de nomeá-lo para um cargo na área social - provavelmente, o Ministério do Trabalho. Um dirigente do PT explicou ontem que, mesmo que não vá para a Coordenação Política, João Paulo, graças à experiência acumulada na presidência da Câmara e ao trânsito que possui hoje nas bancadas dos partidos, poderá ajudar a articulação política, como fez, por exemplo, Sérgio Motta no Ministério das Comunicações no primeiro mandato do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Em relação à coordenação política do governo, uma coisa parece certa: a substituição do líder do governo na Câmara, deputado Professor Luizinho (PT-SP). No que se refere à devolução da coordenação ao ministro José Dirceu, o assunto divide o governo e o PT. Entre os argumentos contrários está o fato de que Dirceu teria perdido inteiramente o diálogo com a oposição, uma necessidade para quem vier a exercer o cargo. Os dirigentes do PT defenderam junto a Lula a tese de que, graças à estatura que adquiriu, João Paulo não pode ficar sem função no governo. "Ele conhece bem o mapa da Câmara e, se ficar apenas como deputado, vai criar problemas para o governo", sustenta um petista. O partido do presidente está dividido também quanto a liberar a Pasta da Saúde, hoje comandada pelo ministro Humberto Costa, para um não-petista. A tendência de Lula é deslocar Ciro Gomes da Integração Nacional para a Saúde. Ontem, surgiram rumores de que Ciro não estaria interessado no cargo e que, por isso, o Planalto teria oferecido a presidência do BNDES. Assessores do ministro negam que isso tenha ocorrido. De qualquer forma, há no PT um grupo que não vê nenhum problema em entregar a Saúde a Ciro. Sem ambições eleitorais em 2006, Ciro não representaria uma ameaça política para a reeleição de Lula. Por isso, sua nomeação não abalaria o princípio de que a Saúde deve ficar sob o manto do PT. "Hoje, Ciro não representa mais uma relação entre governo e o PPS. Ele está no eixo político do presidente e do nosso partido", justificou um parlamentar. Um outro grupo do PT, no entanto, teme que o governo esteja entregando a Ciro uma importante plataforma eleitoral. Se não é candidato à Presidência em 2006, Ciro possivelmente o será em 2010, quando pelo menos dois petistas importantes do governo, José Dirceu e Palocci, pretendem entrar na disputa. O PTB fechou com Lula as novas bases de sua participação no governo. O presidente chegou a pensar em deslocar o ministro Walfrido Mares Guia do Turismo para o Planejamento, mas a sigla não aceitou. Além de permanecer com o Turismo, o PTB recebeu a promessa de levar também o comando do Instituto de Resseguros do Brasil (IRB), idéia à qual se opunha o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, e da Transpetro, atualmente ocupada pelo ex-senador Sérgio Machado, indicado pelo PMDB. Os petebistas ocuparão ainda diretorias nos Correios e na Eletrobrás. O PP ainda não conversou com Lula e está conflagrado: desde que deixou a liderança do partido na Câmara, o nome do deputado Pedro Henry (PR) vem perdendo força dentro da bancada. Uma opção seria o deputado Ciro Nogueira (PI), fiel escudeiro e homem da confiança do novo presidente da Câmara, Severino Cavalcanti, mas, neste caso, a resistência é do próprio governo. Além de diretorias em estatais, é cogitada a hipótese de o PP ficar com o Ministério das Comunicações. O Planalto sondou o PMDB sobre a possibilidade de tirar Eunício Oliveira das Comunicações, mas a reação da sigla não foi boa. Entre o Ministério do Planejamento, também sugerido ao PMDB, e as Comunicações, a sigla prefere ficar com este último, sobretudo se tiver carta branca para nomear os cargos dos ministérios e de suas estatais. Roseana Sarney estaria descartada para as Comunicações pelo fato de sua família ser proprietária de uma emissora afiliada à TV Globo. Restaria a ela o Ministério da Integração Nacional. Na conversa com o PMDB, Lula disse que quer fazer "uma revolução" na Previdência Social. O nome do partido para a sigla é o do senador Romero Jucá (RR), que também esteve cotado para o Planejamento. O problema é que o PMDB quer o ministério, mas também quer autonomia para preencher seus principais cargos, ainda em mãos do PT, como a Secretaria de Previdência Complementar. Teme também o esvaziamento da Previdência com a unificação, no Ministério da Fazenda, do sistema de arrecadação previdenciária com a Receita Federal. O ministério cuidaria só do gasto, o que de maneira alguma seduz o PMDB.