Título: CUT quer CMN amplo para mudar debate sobre juros
Autor: Marli Olmos
Fonte: Valor Econômico, 15/03/2005, Brasil, p. A5

A direção da Central Única dos Trabalhadores (CUT) lança hoje proposta para nova composição do Conselho Monetário Nacional (CMN), que prevê aumento do número de membros dos atuais três para dez. Desses, cinco seriam do governo e cinco da sociedade. O grupo governamental seria formado pelo ministros da Fazenda, do Planejamento, do presidente do Banco Central e mais outros dois representantes. A equipe da sociedade envolveria dois representantes do empresariado, mais dois dos trabalhadores e um do meio acadêmico, a serem escolhidos pelo presidente da República. Essa ação de contraposição à política do governo Lula ganha peso com a união dos empresários e do meio acadêmico. A proposta será apresentada em evento do qual participarão representantes da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e integrantes da ala acadêmica, que já demonstraram interesse na ampliação do CMN. Recentemente, o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), órgão consultivo da Presidência da República, também defendeu a ampliação do número de integrantes do CMN de três para nove. Segundo o presidente nacional da CUT, Luiz Marinho, as discussões devem avançar e o número final não é o mais importante e pode mudar. "O que não pode é continuar tendo três membros porque assim qualquer discussão já começa com dois a um", diz o dirigente. Entre os objetivos da medida, o sindicalista aponta a "necessidade de sair da lógica do controle da inflação por meio de juros". Para ele, é preciso distribuir o nível de forças entre o sistema financeiro e o produtivo. "No atual modelo, metas da inflação são mais importantes que a produção, embora gente da produção possa colaborar com o controle da inflação", completa. Para o dirigente, o formato do CMN de hoje inibe investimentos e crescimento. "O empresariado fica em dúvida para investir no aumento da capacidade produtiva porque tem medo de ser surpreendido", afirma. O trabalho de aproximação da CUT com a ala acadêmica começou no fim do ano passado. A necessidade de ampliar a participação da sociedade no Conselho Monetário Nacional foi um dos itens mais discutidos numa reunião em que a direção da CUT convocou renomados professores das universidades brasileiras. Nessa reunião, os participantes já haviam concluído que o CMN não deveria ter o poder que tem na prática hoje. "Seu papel deveria ser o de regulamentar o que foi aprovado no Congresso", disse um dos professores presentes. "Controlar a inflação é fácil; basta elevar a taxa de juros e que se dane a economia real", criticou outro. Com a aproximação do meio acadêmico e dos empresários, a central sindical tenta, ainda, evitar que o movimento receba qualquer conotação panfletária. O tom é de uma ação coletiva de todo o setor produtivo. O CMN foi criado em 1964 para definir as diretrizes da política monetária, de crédito e de câmbio no país. Desde 1999, o conselho passou a fixar a meta anual de inflação. O órgão já foi bem amplo, chegando a ter 27 membros em meados de 80. O número foi reduzido a três desde 1994.