Título: Cada um com seus sinais de rejeição
Autor: Rothenburg, Denise
Fonte: Correio Braziliense, 03/03/2010, Política, p. 2

Antes mesmo da abertura da corrida eleitoral, mentores das campanhas dos pré-candidatos ao Planalto tentam identificar as fragilidades de seus políticos e antecipar soluções

A quatro meses do início oficial da campanha para presidente da República, analistas de pesquisa, políticos e marqueteiros passam horas tentando identificar desde já os pontos fracos de cada candidato ou pré-candidato à corrida eleitoral. Neste início de março, cada um já sabe onde aperta ¿ ou pode apertar ¿ o sapato da campanha. No caso de Dilma Rousseff, do PT, que, assim como Marina Silva (PV), já está aprovada num congresso partidário para a disputa, a equipe petista deu o veredito: as dificuldades da ministra estão justamente onde ela pretendia ter vantagem: entre as mulheres e aqueles que moram no Sul do país, onde Dilma fez política e ocupou cargos administrativos no governo do petista Olívio Dutra, como secretária de Energia. Agora, o PT passará a olhar com mais atenção para ver o que pode ser feito no sentido de aplainar esse terreno antes mesmo da campanha eleitoral.

Os números do Datafolha indicam que Dilma tem 24% do eleitorado feminino, quase dez pontos atrás de Serra (33%). Essa resistência foi prevista nas pesquisas internas do partido, tanto que, no congresso petista, todos os discursos foram no sentido de chamar a atenção do eleitorado feminino para a chance de colocar uma mulher no centro do poder nacional.

A rejeição de Dilma também é grande entre os mais ricos. Chega a 40% na faixa de renda dos que recebem acima de 10 salários-mínimos. Essa parcela, por ser uma das menores do eleitorado, não preocupa muito o PT. Hoje, a ordem é conquistar o eleitorado mais pobre.

Quem é Marina? A turma do PV, de Marina Silva, acredita que é justamente entre os mais pobres que está o melhor potencial de sua candidata. Marina tem hoje como ponto fraco o fato de ser desconhecida e o risco de ter uma campanha monotemática, no caso o meio ambiente. Os analistas de pesquisa consideram que ela pode representar o que Cristovam foi em 2006, quando repisou o tema educação e não decolou.

Da parte dos tucanos, seja José Serra ou Aécio Neves o escolhido, o ponto fraco identificado por marqueteiros e políticos é o Nordeste. Serra, por exemplo, é rejeitado por 28% dos eleitores dessa região. Aécio também fica dentro dos 20% de rejeição e tem o problema de ser menos conhecido em relação ao governador paulista. O PSDB começou a trabalhar essa parcela do eleitorado, ainda que de forma subliminar, com a ida de Serra ao carnaval do Recife e de Salvador, mas, como Dilma também esteve nessas festas e o eleitor estava mais a fim de folia, o vetor somou zero.

Os tucanos, no entanto, acreditam que, embora seja difícil dar um ar nordestino a Serra ou Aécio, não é impossível reduzir a rejeição com a formação dos palanques regionais que estejam realmente comprometidos com a campanha presidencial. ¿Temos que consolidar as alianças estaduais e, a partir daí, alavancar a presidencial¿, comenta o líder do DEM, José Agripino (RN).

Quem acompanha as pesquisas tem dúvidas de que o PSDB possa reverter a preferência por Dilma no Nordeste. ¿Ela se sai melhor ali porque o Lula é mais bem avaliado lá. Há uma geografia atravessada por questões políticas. O PSDB é mais presente no Sudeste, por isso é mais forte¿, explica o diretor do Instituto Vox Populi, Marcos Coimbra. Ele considera que é cedo para detectar todas as deficiências dos pleiteantes à Presidência da República. ¿Sem uma maior equalização na questão do conhecimento dos candidatos, é difícil fazer essa avaliação. Inicialmente, é possível dizer que Dilma tem um desempenho pior entre as mulheres porque elas tendem a ter menos informação que os homens. Por enquanto não dá para classificar isso como problema porque os resultados das pesquisas estão contaminados com o nível de conhecimento. Só poderemos dizer que é um problema quando todos estiverem conhecidos¿, diz.

Com quem andas? Com o PSB ainda indeciso sobre manter a candidatura presidencial, Ciro Gomes tem um segundo desafio: montar uma estrutura que permita dar ao eleitor a sensação de que ele tem uma turma ao lado dele. Afinal, ninguém governa sozinho e Lula está comprometido com Dilma Rousseff. Ou ele prova que tem condições de apresentar uma equipe ou corre o risco de ficar isolado, falando sozinho. Não é à toa que seu partido tem pedido a ele que busque alianças antes de se lançar numa carmpanha solo.

Telhado de vidro

Conheça os pontos fracos dos principais pré-candidatos e os ¿antídotos¿ encontrados pelos partidos

Dilma Rousseff (PT) Mulheres e eleitores do Sul são o principal obstáculo para a ministra da Casa Civil. Para tentar melhorar a performance, a ordem no PT é organizar encontro de mulheres petistas nos estados para, assim, formar um caldo favorável à pré-candidata nessa parcela do eleitorado antes do início oficial da campanha. A militância também vai atuar no Rio Grande do Sul e em São Paulo, onde Dilma melhorou os índices, mas não tem um quadro favorável.

Marina Silva (PV) A ¿invisibilidade¿ é o ponto fraco da candidata do PV, principalmente entre os eleitores mais pobres. As pesquisas qualitativas feitas pelo partido indicam que Marina pode tirar vantagem, por exemplo, do fato de ter uma história de vida parecida com a do presidente Lula. Ela vem de uma família pobre e se transformou numa líder no setor ambiental. ¿Ela tem um grande potencial entre a população mais pobre, que pode se identificar com ela¿, diz o deputado Sarney Filho (PV-MA), um dos mentores da candidatura.

José Serra (PSDB) Tucanos e democratas acreditam que só mesmo os políticos do Nordeste podem melhorar os índices do candidato na região. O PSDB terá o palanque de Paulo Souto na Bahia, de João Alves, em Sergipe, e de Rosalba Ciarlini no Rio Grande do Norte. Na Paraíba, o PSDB deve apoiar Ricardo Coutinho (PSB). Em Pernambuco, Jarbas Vasconcelos já admite ser candidato para ajudar Serra, de quem é amigo.

Ciro Gomes (PSB) Mais conhecido que Marina Silva, Ciro tem hoje um ponto fraco que todos os demais já resolveram: não tem parceiros para possíveis alianças. Portanto, antes de fazer uma radiografia de suas falhas diante do eleitor, o PSB espera para ver se terá uma parceria minimamente viável em termos de tempo de televisão ou se desistirá do projeto presidencial para se aliar ao PT, lançando Ciro como candidato ao governo de São Paulo.