Título: Opportunity deverá brigar pela BrT
Autor: Michelly Teixeira*, Talita Moreira e Catherine Vie
Fonte: Valor Econômico, 15/03/2005, Empresas &, p. B5

É remota a chance de o Citigroup conseguir um acordo para selar, de forma pacífica, a saída do Opportunity da gestão do fundo CVC. Houve conversas entre as duas partes, mas as negociações não evoluíram. O banco americano acredita, agora, que o Opportunity - de Daniel Dantas - vai brigar para permanecer à frente da Brasil Telecom (BrT), diz fonte envolvida no processo. A BrT é uma das empresas controladas pelo CVC. Também fazem parte da carteira Telemig Celular, Tele Norte Celular, Sanepar, Santos Brasil e Metrô Rio. Esse interlocutor afirma ter "certeza absoluta" de que Dantas está disposto a brigar para permanecer na operadora. "É da natureza dele o conflito. Ele se alimente do conflito", diz. Único cotista do CVC "offshore", o Citigroup havia procurado o Opportunity dias antes de resolver afastá-lo da administração do fundo. Um representante do banco americano levou a Dantas a mensagem de que o relacionamento entre as partes estava desgastado e havia a disposição de terminar o contrato. O próprio Dantas teria dito que romper a parceria era uma alternativa "unilateral" do Citigroup. Na sexta-feira, 4 de março, empresas do Opportunity colocaram à venda o controle acionário da Telemig Celular e da Tele Norte Celular. O Citigroup e os fundos de pensão, que também fazem parte da estrutura societária das operadoras, foram surpreendidos. Cinco dias depois, o banco americano resolveu destituir o Opportunity da gestão do CVC. A relação entre o Citigroup e o Opportunity já não vinha bem havia meses. Pelo menos desde novembro, o banco americano tentava negociar um acordo para que os direitos do Citigroup e dos fundos de pensão na BrT fossem respeitados.

Relacionamento entre o banco americano e o Opportunity mostrava sinais de desgaste desde o ano passado

A idéia, naquele momento, não era afastar o Opportunity. O que o Citigroup exigia era o fim de um adendo ao acordo de acionistas, imposto por Dantas em outubro de 2003, que obrigaria os fundos de pensão e o CVC "offshore" a acompanhar as decisões do Opportunity Fund relacionadas à Brasil Telecom, caso o banco carioca perdesse a gestão da empresa. O Opportunity Fund tem apenas 9,75% do capital do Opportunity Zain, empresa que está no topo da estrutura acionária da BrT e controla indiretamente a operadora de telefonia. No entanto, Dantas manteve-se irredutível o tempo todo, o que contribuiu para a decisão do Citigroup de romper com ele, diz um interlocutor que acompanha de perto as negociações. A expectativa é de que o Opportunity use essa cláusula para se manter no comando da BrT. O acordo, no entanto, já está sendo questionado na Justiça pelos fundos de pensão. "Nós acreditamos que, dado ao fato de que isso é uma ofensa total ao bom senso, de uma ilegalidade gritante, que os juízes rapidamente entendam assim e dêem medidas judiciais para que as pessoas que investiram seu dinheiro possam exercer um direito inquestionável de voto", diz uma fonte ligada a um dos acionistas da operadora. Fontes familiarizadas com o caso avaliam que a batalha judicial com o Citigroup já tem até data para começar. O Opportunity tem 15 dias, contados da data do rompimento, para entregar às autoridades de Cayman, onde o CVC está registrado, toda a documentação referente ao fundo. Conforme as regras daquele país, quando um administrador é destituído, cabe a ele apresentar os papéis para que um novo seja eleito. "Não acredito que Dantas vá fazer isso", diz. O Citigroup já anunciou que nomeará um gestor próprio para o fundo.

Câmara de arbitragem não deverá considerar rompimento do Citi em decisão sobre retorno da Telecom Italia

Procurado, o Citigroup disse que não comentaria o assunto. Apenas reiterou que o Opportunity está fora da gestão do fundo. Representantes do banco carioca não haviam se manifestado até o fechamento desta edição. Até agora, o Opportunity tem mantido silêncio sobre a estratégia que adotará. A cúpula do banco passou os últimos dias em Londres, acompanhando as audiências da câmara de arbitragem que decidirá sobre a volta da Telecom Italia à BrT. Se vencer, o Opportunity terá munição reforçada para tentar manter-se na operadora. E, pelo menos uma vitória, o banco já conseguiu. Segundo um interlocutor que está participando das sessões na câmara londrina, o rompimento do Citigroup com o Opportunity foi mencionado nos depoimentos feitos ao tribunal, que tiveram início na sexta-feira. Porém, os árbitros avaliaram que essa questão não está em jogo e, portanto, não será levada em conta na decisão da câmara. A Telecom Italia pretendia usar o afastamento do Opportunity do CVC em seu favor. Daniel Dantas já depôs perante a corte na sexta-feira e está no Brasil. Arthur Carvalho, braço direito do banqueiro, e a presidente da BrT, Carla Cico, também prestaram esclarecimentos. O controlador da Telecom Italia, Marco Tronchetti Provera, será ouvido nos próximos dias. Os italianos mantêm negociações para adquirir a participação do Citigroup na BrT, segundo fontes próximas à operadora. Um interlocutor ligado aos fundos de pensão também não descarta que o próprio Opportunity poderá tentar adquirir fatia do Citigroup e na BrT. Nesse caso, analistas calculam que Dantas teria de desembolsar entre US$ 1,2 bilhão e US$ 1,5 bilhão para comprar as participações que o banco americano e as fundações têm no capital da empresa. (*Do Valor Online, de São Paulo)