Título: Em alta, dólar afeta apostas para Copom
Autor: Luiz Sérgio Guimarães
Fonte: Valor Econômico, 15/03/2005, Finanças, p. C2

Em um dia ruim na grande maioria dos mercados, o de câmbio foi ontem o mais nervoso. O dólar alcançou ontem a maior cotação do ano. Fechou a R$ 2,7520, valorização de 1,18%. Apenas nos dez primeiros dias úteis de março a moeda já saltou 6,30%. No ano já acumula ganho de 3,7%. O risco-país subiu pela mesma razão básica da elevação interna do dólar: a percepção de que o cenário internacional de farta liquidez emite sinais de mudança. O risco-país chegou a subir ontem 4,8%, para 416 pontos-base. Mas perdeu fôlego depois que os juros dos T-Notes de 10 anos recuaram de 4,55% para 4,52%. E o risco fechou a 409, evolução de 3,02%. Os juros subiram no mercado futuro da BM&F por causa de deterioração das expectativas de IPCA do mercado e da alta do dólar. A Bovespa conseguiu fechar em alta de 0,09% devido a valorização das bolsas de Nova York, mas o volume baixo, de R$ 1,47 bilhão, denuncia a falta de solidez do pregão. A arrancada do dólar resulta da atuação agressiva do Banco Central e da diminuição das posições vendidas carregadas pelos bancos. Estes sentem que não dá para correr riscos excessivos num momento em que os investidores internacionais ensaiam uma virada em suas carteiras por meio da redução dos ativos de emergentes. O BC reforçou ontem a ousadia de suas intervenções cambiais ao fazer o seu tradicional leilão de compra já no final da manhã. Ele vinha adquirindo moeda sempre às 15h30, depois que já estava clara a sobra de moeda no sistema. Ontem, finalizou o leilão às 12h30, atendendo a solicitação de dois bancos receptores de fluxo positivo. E comprou quando a moeda estava em alta, pagando R$ 2,748.

Moeda, a R$ 2,7520, já subiu 6,3% em março

A atitude lógica, se quisesse apenas acumular reservas e não visasse a alta do dólar, seria esperar para saber os efeitos do fluxo de entrada sobre os preços para então comprar. Poderia, com isso, comprar mais barato. Como não esperou, reforçou o alerta geral de que quer o dólar lá em cima. Isso precipitou mais compras de bancos destinadas a zerar posições vendidas. Ajudou ontem na elevação da taxa de câmbio a expectativa em torno do anúncio, hoje à tarde, da realização ou não, e em quais condições, do leilão semanal de contratos de swaps cambiais reversos. Se o BC decidir fazer o leilão e insistir na oferta de 40 mil contratos, o equivalente a US$ 1,96 bilhão, estará indicando ao mercado que quer o dólar a R$ 2,80 ainda esta semana.

O mercado de juros foi afetado ontem pela depreciação cambial, pela instabilidade dos juros americanos e dos preços do petróleo e por um Focus pessimista. A despeito da ameaçada do BC de deixar a Selic congelada em patamar elevado por longo tempo, as instituições pesquisadas para o Boletim Focus elevaram a projeção para o IPCA de 2005 de 5,72% para 5,77%. Cresceu a aposta no DI futuro de que o Copom poderá elevar a Selic em 0,50 ponto percentual em sua reunião que termina amanhã. E sem mudança no comunicado pós-reunião. Nessa hipótese, sinalizaria a possibilidade de o aperto monetário continuar na reunião de abril. Este sinal teria por objetivo cobrir o risco representado pela reunião do Fomc do Fed, na semana que vem. O contrato mais curto, para a virada do mês, subiu de 18,89% para 18,94%. O juro real projetado para um ano subiu de 12,13% para 12,34% não só porque a taxa nominal avançou de 18,40% para 18,50% mas também porque a projeção de IPCA para 12 meses caiu de 5,59% para 5,48%.