Título: Pimentel estende a corda até maio
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Fonte: Correio Braziliense, 03/03/2010, Política, p. 3

Um dia depois de o ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Patrus Ananias (PT), ter admitido a possibilidade de não se desincompatibilizar do cargo caso não viabilize a pré-candidatura ao governo de Minas, o ex-prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel (PT), também pré-candidato, procura ganhar tempo. De olho no crescimento da candidatura presidencial de Dilma Rousseff (PT) e na preferência manifesta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo nome do ministro das Comunicações, Hélio Costa (PMDB), para encabeçar um palanque único da base aliada em Minas, Pimentel assinala: ¿Qualquer definição antes de 2 de abril é precipitada. Ainda nem sabemos se José Serra (PSDB) é candidato. Vamos esperar. Quando o quadro nacional estiver definido, poderemos debater quem será o indicado da base para concorrer ao governo¿.

Segundo Fernando Pimentel, depois que o PSDB tiver formalizado a sua pré-candidatura presidencial, os três pré-candidatos ao governo de Minas da base de Lula poderão se acertar a partir da realização de uma série de pesquisas propostas por Hélio Costa. ¿É preciso tempo para discutir. É realista imaginar que só vamos tomar decisão em maio. Vamos trabalhar por um palanque único, mas não há qualquer definição sobre qual palanque será esse. Não há pressa¿, disse.

Tanto Pimentel quanto Patrus já descartaram a possibilidade de concorrer ao Senado e de serem candidatos a vice na chapa. Da mesma forma, Hélio Costa. Enquanto Pimentel contemporiza, o presidente do PT de Minas, Reginaldo Lopes, volta a confrontar a tese do palanque único. Ontem, ele se reuniu com o vice-presidente da República, José Alencar (PRB). Ouviu o que já tinha ouvido antes: a partir dos resultados dos exames de saúde, esperados para o dia 17 deste mês, poderá ter uma posição definitiva sobre a possibilidade de se candidatar a qualquer cargo que possa contribuir, em Minas, para a eleição de Dilma Rousseff.

¿Se a tática for o palanque único, como deseja Lula, o único modelo é com José Alencar candidato. O PT de Minas não aprovará outro modelo¿, disse Reginaldo Lopes, sugerindo que em qualquer outra hipótese o partido terá candidatura. ¿O palanque no estado não influencia a campanha presidencial. Não vejo porque não podemos ter dois palanques da base, um do PMDB e outro do PT¿, insistiu.

Honorário Para Reginaldo Lopes, só a hipótese José Alencar unifica a legenda. ¿Ele é uma unanimidade no PT. É nosso filiado honorário¿, reforçou. Enquanto o presidente do PT de Minas tenta driblar o presidente da República, Lula segue sinalizando aos aliados mais próximos que Hélio Costa é a melhor opção, pois, além de facilitar a aliança nacional com o PMDB, é hoje líder das pesquisas de intenção de voto. Lula tem afirmado aos interlocutores que Hélio Costa sozinho já tem mais de 40% das intenções de voto. Para o presidente, com o apoio do PT em Minas, Hélio Costa chegará lá e o PMDB nacional selará a coligação com Dilma Rousseff.

A arte de fazer o óbvio

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu ¿aula¿ de política aos pré-candidatos José Serra e Dilma Rousseff ontem, durante a inauguração de um complexo industrial em Sorocaba, no interior de São Paulo. No discurso, o presidente disse que política, ao contrário do que a maioria pensa, não é uma coisa complicada. ¿Política é a única coisa que a gente não aprende na universidade. Você aprende a ser médico, cientista, até a ser cientista político, mas político é difícil¿, afirmou. ¿A arte de governar é fazer as coisas simples. A arte da boa governança é fazer o óbvio. Quando a pessoa pensa em fazer a coisa difícil, não deveria ser política. Deveria ser cientista e tentar inventar qualquer coisa, porque na política a gente não inventa.¿ Como exemplo das ações óbvias, Lula citou que o volume de crédito disponibilizado pelo sistema bancário era de R$ 381 bilhões em março de 2003 e hoje é de R$ 1,410 trilhão. "Era óbvio que num país de economia capitalista em que você não tem capital, financiamento e crédito as coisas não andam", afirmou. "Eu estou dizendo coisas óbvias, que era para terem sido feitas há muito tempo, e que não foram porque o óbvio é difícil de fazer¿, comentou¿.