Título: Odebrecht gera fora 75% do faturamento
Autor: Juan Garrido
Fonte: Valor Econômico, 15/03/2005, Valor Especial, p. F3

A Construtora Norberto Odebrecht, um dos braços do grupo Odebrecht - o outro é a Braskem, do setor petroquímico -, descobriu há muito tempo que desbravar o mercado internacional era tocar a partitura certa para evoluir num mundo que se globalizava. Segundo Paulo Lacerda, vice-presidente da construtora, isso aconteceu nos idos de 1979, no Peru, na região da cidade de Arequipa, aos pés da Cordilheira dos Andes. Naquele ano foi assinado contrato para a construção da central hidrelétrica Charcani V, obra de engenharia que deu grande impulso econômico e social àquela região. Do Peru, a Odebrecht não saiu mais. As obras foram se sucedendo e o último contrato foi assinado em julho de 2004, uma concessão de irrigação na região de Olmos. O país andino seria, no entanto, apenas o início de uma internacionalização que se estendeu, nesses 25 anos, por dezenas de nações de quatro continentes. Segundo Lacerda, a internacionalização é a única forma de uma empresa brasileira ganhar expressão na economia global. Ele reconhece que os riscos de se aventurar por terras estranhas não são pequenos, desde a diversidade cultural de cada região, que obriga a um duro processo de adaptação, até o delicado convívio com conflitos políticos e religiosos que eclodem com cada vez mais freqüência no mundo. Em 1993, a ação da construtora já se estendia a 18 países, além do Brasil: Alemanha, Angola, Argentina, Bolívia, Chile, China, Cingapura, Colômbia, Costa Rica, Equador, Estados Unidos, Inglaterra, México, Paraguai, Peru, Portugal, Uruguai e Venezuela. Em 1995 sua atuação seria ampliada com o início de operações na Malásia e em outros países do Sudeste Asiático. Em 2003, quando seus negócios no exterior já representavam 81% do seu faturamento total, a empresa abriu uma representação nos Emirados Árabes, no Oriente Médio, por meio do qual passou a atuar no Chifre da África, mais precisamente em Djibuti, na saída do Mar Vermelho. Lacerda informa que o total de pessoas que a construtora emprega no Brasil e em países do exterior costuma flutuar por características naturais do setor. Ou seja, quando há uma obra nova, mobilizam-se trabalhadores, e quando se conclui um empreendimento, desmobiliza-se mão-de-obra. "Mas, de uma forma geral, os grandes números são da ordem de 20 mil colaboradores", diz. Às vezes são 14 mil no Brasil e 6 mil lá fora. Em outras oportunidades, 12 mil aqui e 8 mil no exterior. Em outros países, em torno de mil colaboradores são brasileiros. Ele acrescenta que do total de 20 mil colaboradores, cerca de 2 mil são de profissionais com nível universitário, considerando-se os mercados doméstico e internacional. "Desse 2 mil com nível superior, cerca de 1.400 são engenheiros e o restante é composto por economistas, administradores e outras especializações, uma vez que somos uma empresa multidisciplinar", explica. Segundo Lacerda, o faturamento da construtora foi de US$ 1,6 bilhão em 2003, dos quais 81% auferidos no exterior e 19% no Brasil. Em 2004, as receitas totais subiram para US$ 1,8 bilhão, 75% no exterior e 25% no Brasil. Isso poderia significar que o mercado doméstico de construção está crescendo? "Temos alguns efeitos aí", observa. 2003 foi um ano muito ruim. "Faturamos em 2003 não mais que 25% do que costumava ser nossa receita dez anos antes", calcula. Nesse ano houve crescimento no exterior e queda no Brasil, além de um efeito perverso na tradução de moedas, pois em 2003 o câmbio estava mais alto. Quanto às perspectivas para 2005, ele informa que a Odebrecht tem cerca de dois anos de produção em carteira. "Ou seja, se faturamos US$ 1,8 bilhão em 2004, temos US$ 3,6 bilhões em saldos de contrato; e olha que já chegamos a ter três anos de produção em carteira, tanto no Brasil como no exterior". Lacerda atribui à gestão descentralizada um papel importante para o sucesso da construtora. Para ele, a filosofia singular (delegação planejada, parceria e partilha de resultados) formulada pelo fundador da empresa, Norberto Odebrecht, até hoje constitui a coluna dorsal da atuação estratégica da empresa.