Título: PT e PFL unem-se e derrotam Alckmin na disputa pela mesa da Assembléia
Autor: Cristiane Agostine
Fonte: Valor Econômico, 16/03/2005, Política, p. A8

O governador Geraldo Alckmin (PSDB) foi derrotado ontem na Assembléia Legislativa com a vitória do deputado Roberto Garcia (PFL) para a presidência da Casa. Dissidente da base aliada, a bancada do PFL, com apoio do PT, conseguiu 48 votos a Garcia, contra 46 do candidato do governo, Edson Aparecido. O PSDB ficou de fora da mesa diretora. Além do PFL, o Prona e o PSC, partidos da base aliada, votaram no candidato do PFL, líder da sigla na Assembléia. Dos onze parlamentares do PFL, dois votaram em Aparecido. O PV dividiu o apoio. O principal cargo da Mesa, a 1ª secretaria, ficou com o petista Fausto Figueira. A 1ª vice presidência foi para o líder do PMDB, Jorge Caruso. Os demais cargos ficaram com os deputados Geraldo Vinholi (PDT), Ricardo Castilho (PV) e Valdomiro Lopes (PSB). Quando Garcia conseguiu os votos suficientes para ser eleito, os deputados que o elegeram gritavam no Plenário: "Vaccarezza! Vaccarezza!"- nome do líder do PT na Assembléia, Cândido Vaccarezza, articulador da derrota tucana. O novo presidente da Casa fez um discurso pedindo o apoio dos 94 deputados e criticou o caráter eleitoral da disputa. "Pretendo conduzir de uma forma serena, democrática. Valeu o princípio da maioria. Foi o que me conduziu à vitória", afirmou. Com 30 anos, Garcia é o mais novo presidente eleito em São Paulo. Nos bastidores da Casa, a vitória do pefelista representa a reação não só do PFL, mas de parte da base aliada aos vetos constantes do governador e ao modo considerado "autoritário" do Executivo. O líder do PFL afirmou que sua vitória não foi uma retaliação direta a Alckmin, mas admite que seu partido ganha poder no governo e forças para futuras disputas. "Não existiu traição. Não sou instrumento de uma vontade política, para fazer aqui um terceiro turno ou antecipar o calendário eleitoral", disse. A quebra do princípio de proporcionalidade é outra reclamação dos parlamentares. O PT tem a maior bancada, seguido pelo PSDB e PFL. Além da irritação dos dissidentes da base aliada, o PFL busca fortalecer seu projeto nacional de governo para as disputas de 2006. Garcia insinuou que a cúpula do partido deu apoio à sua candidatura, sem nenhum impedimento formal: "Não existiu um pedido formal do PFL para repensar a candidatura. Quando me lancei candidato, comuniquei oficialmente o deputado Jorge Bornhausen (presidente nacional) e o senador Romeu Tuma. Recebi entusiasmo, votos de boa sorte." O pefelista disse que apenas o presidente estadual, Cláudio Lembo e o vice prefeito, Gilberto Kassab, pediram que ele "refletisse", mas disse que sempre recebeu "solidariedade". Derrotado, Edson Aparecido negou os reflexos sobre Alckmin: "A derrota é minha. Nós nunca fizemos cooptação." O candidato tucano ressaltou que a aliança com o PFL será repensada e que os secretários ocupantes de duas cadeiras no governo Alckmin - Justiça e Esportes - têm de refletir sobre seus cargos. Um de seus maiores aliados, Campos Machado (PTB), reforçou a crítica aos pefelistas: "Alckmin foi traído, ferido no coração. O governador está triste. Essas pessoas que estão rindo agora estarão amanhã no Palácio, de quatro, com o pires na mão. O governador saberá separar o joio do trigo." O líder da minoria no Congresso nacional, José Carlos Aleluia (PFL-BA) tentou minimizar o fato. "O governador Alckmin foi vítima de um processo de desentendimento entre os dois partidos. O PSDB não tem apoiado o PFL quando ele precisa e vice-versa. Mas quem começou com isso foi o PSDB. É uma seqüência de desentendimentos. Precisamos conversar", disse. Os 48 votos de Garcia foram reforçados por parlamentares descontentes com o "enfraquecimento" do autonomia do Legislativo estadual. Eles reclamam dos mais de 200 vetos aos projetos que encaminharam, só neste ano. Dissidente da base aliada, Romeu Tuma Jr. migrou do PPS para o PMDB e foi um dos principais articuladores da candidatura de Garcia. "A Casa não pode ser braço de nenhum outro poder, tem de ser independente". Engrossando esse coro, o pefelista Said Murad afirma: "Com a eleição, vamos conseguir colocar nossos projetos. Estamos nos fortalecendo para futuras disputas." Outro parlamentar pefelista, Milton Vieira reclamou: "Chega de vigiar os deputados. Isso acabou. Que fique registrado que se houve desrespeito, foi por parte do governo." Desde o governo de Paulo Maluf que o chefe do Executivo não tem o apoio do presidente da Assembléia Legislativa, em São Paulo. Entre 1977 e 1979, Robson Marinho, do MDB/ PMDB, foi o presidente da Casa Foi a terceira grande disputa eleitoral pelo Legislativo neste ano. Em São Paulo, Ricardo Montoro, candidato do prefeito José Serra (PSDB), foi derrotado na Câmara Municipal por um dissidente de última hora do partido, o vereador Roberto Tripoli, com apoio do PT. Na Câmara Federal, o candidato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva perdeu para Severino Cavalcanti (PSDB), cuja vitória foi costurada pelo PSDB.(Colaborou Janaina Vilella, do Rio)