Título: Unibanco desiste de formular plano para salvamento da Varig
Autor: Daniel Rittner e Vanessa Adachi
Fonte: Valor Econômico, 16/03/2005, Empresas &, p. B1

O futuro da Varig ficará ainda mais nebuloso nos próximos dias com o provável anúncio de que o Unibanco abandonará a parceria, acertada há menos de dois meses, para formular um plano de reestruturação da companhia aérea. A saída do banco das tentativas de salvar a Varig é dada como praticamente certa pelos envolvidos nas negociações e não deve ser oficializada hoje, mas estará no centro das conversas que o presidente da Varig, Luiz Martins, terá às 10h com o vice-presidente e ministro da Defesa, José Alencar. O cenário para a recuperação da Varig deteriorou-se rapidamente nas últimas semanas, reduzindo até mesmo a disposição do governo em evitar a quebra da empresa. Diante da aceleração da crise, o Departamento de Aviação Civil (DAC) informa que tem um plano de contingência para lidar com a paralisação das suas atividades e pelo menos uma concorrente - a Gol - já desenhou uma estratégia para absorver rotas e passageiros deixados de lado pela eventual interrupção dos vôos da Varig. Foi o próprio Alencar, meses atrás, quem recomendou à Varig a contratação de uma instituição financeira para guiá-la na montagem de um plano de reestruturação. Mas todas as alternativas propostas pelo Unibanco esbarraram em vetos de setores influentes do governo. O alongamento das dívidas para 35 anos foi rejeitado pela equipe econômica e o "encontro de contas" para abater os débitos da empresa aérea com o vitorioso processo no Superior Tribunal de Justiça (STJ) encontra forte resistência da Fazenda e da Advocacia-Geral da União. A não ser que haja uma inesperada reviravolta nas posições do governo, o Unibanco deixará mesmo a parceria com a Varig. Só a aprovação da Lei de Falências não permite a recuperação da companhia e é preciso uma alternativa complementar - o encontro de contas ou um alongamento das dívidas. O passivo da companhia já chega a R$ 9,5 bilhões e a Varig deixará claro, com o endosso do Unibanco, que não há "solução de mercado" para a companhia. Qualquer saída depende agora da vontade do governo em salvá-la. Nos últimos meses, surgiram interessados em injetar dinheiro novo na empresa aérea, como o grupo hoteleiro português Pestana. A proposta de reestruturação montada pelo Unibanco prevê o deságio das dívidas com o governo e o leilão em bolsa de parte da Varig, mas essa saída esbarra na dificuldade em obter descontos dos credores estatais. Só a Receita Federal e o INSS, juntos, respondem por 55% da dívida total. "Se o maior credor diz 'eu não mexo', não tem muita solução", diz uma fonte que teve acesso à proposta. Tanto o governo quanto o mercado vêem a guerra tarifária surgida na semana passada como um acontecimento novo, capaz de tirar o fôlego financeiro da Varig em um momento delicado, de baixa temporada, quando o fluxo de caixa já diminui naturalmente. Dados recém-compilados pela direção da Gol mostram que a taxa de ocupação nos seus vôos superou a média de 80% após a queda nos preços de passagens. Em trechos como a ponte aérea Rio-São Paulo, a ocupação tem sido de praticamente de 100%. Com o fim do compartilhamento de vôos entre TAM e Varig, previsto para maio, mais problemas devem aparecer para a companhia controlada pela Fundação Rubem Berta. Segundo funcionários da própria empresa, apenas 73 dos 81 aviões da Varig destinados ao transporte de passageiros têm capacidade de voar. Os demais estão em manutenção, mas a empresa não tem crédito para obter as peças e serviços necessários para colocá-los de volta ao ar. Ainda no primeiro semestre, a BRA deverá ganhar autorização do DAC para operar como companhia regular e é provável que ganhe direito de fazer a ponte aérea nos aeroportos de Congonhas e Santos Dumont. A perspectiva é de transferência de passageiros de outras empresas. A crise levou os deputados da frente parlamentar em defesa da Varig a apresentar ontem uma proposta detalhada de intervenção na companhia aérea. Eles distribuíram uma minuta de decreto para permitir ao governo assumir o comando da empresa, afastando a Fundação Rubem Berta e iniciando um processo de recuperação judicial assim que a Lei de Falências entrar em vigor. Apoiados pelos funcionários da Varig, os parlamentares contrariam o próprio cenário traçado pelo Unibanco e apostam em uma renegociação com os credores. "O que precisamos é de um Kirchner no comando da empresa", afirma o vice-presidente da Associação dos Pilotos da Varig, Márcio Marsillac, em referência à negociação feita pela Argentina com os credores internacionais.