Título: Consumo em alta e aperto na oferta prometem mais brilho às cotações
Autor: Ivo Ribeiro e Francisco Góes
Fonte: Valor Econômico, 04/01/2005, Empresas &, p. B1

Dólar fraco e manutenção do crescimento da economia chinesa nos níveis de 7% a 9%. Esses dois fatores, se mantidos, prometem mais um ano de brilho para a indústria de metais de base - alumínio, chumbo, cobre, estanho, níquel e zinco. Esses produtos têm aplicações nos mais diversos segmentos industriais - de fabricação de fios e cabos a soldas, panelas e talheres inoxidáveis, chapas de aço anti-corrosivas para carrocerias de automóveis, até aeronaves e foguetes espaciais. O cenário de elevados ganhos para mineradoras, fundições e refinarias dos metais não-ferrosos deve se repetir, avaliam os analistas e executivos de companhias. Como em 2003, quando desencadeou a recuperação econômica mundial a partir do segundo semestre. Da mesma forma no ano passado, em que a China entrou comprando tudo no mercado. A agressiva demanda dos chineses por matérias-primas básicas, industriais e agrícolas levou os preços de metais, minérios, carvão, coque e grãos às alturas e provocou escassez e falta de produtos. A desvalorização da moeda americana é também um forte motivo para ajuste para cima dos preços dos metais. Até a semana passada, o cobre subiu 39% em 2004, em grande parte influenciado pela perda de poder do dólar frente ao euro e ao yen japonês pelo terceiro ano seguido. Aliado a isso, a China permanecia consumindo 20% da produção mundial do metal. O desequilíbrio oferta-demanda provocou desde 2003 a corrosão dos estoques dos não-ferrosos nos armazéns autorizados da Bolsa de Metais de Londres (LME) e da Bolsa Mercantil de Nova York (Comex), bem como do material estocado em poder de produtores. O volume de cobre em casas autorizadas pela Comex nos EUA teve queda de 94% no ano. Fabricantes de cabos e tubos de cobre usaram mais metal do que as mineradoras extraíram do subsolo. "Com o dólar fraco torna-se bastante barato para compradores de outros países adquirir cobre", disse Tom Boustead, analista da Refco LLC, de Nova York. "Ainda existe uma situação de oferta apertada", afirmou à Bloomberg. No caso do zinco, mineradores e refinarias do metal já operam com perspectiva de aumento de até 4,5% no consumo mundial em 2005, relata Paulo Motta, diretor do negócio zinco da Votorantim Metais (VM). Segundo o executivo, a China vai sustentar essa expansão: o crescimento da demanda local tem previsão de alta entre 11% e 11,5%, ante o desempenho de 10,4% em 2004. A China, que até 2003 era exportadora de zinco, tornou-se importadora. Fechou com déficit de 140 mil toneladas. O país vive um "boom" de uso do metal na indústria de aço galvanizado (principal aplicação) para fabricar carrocerias de automóveis. "O que se produz de chapa galvanizada não supre nem metade do consumo local", informa Motta. E novas unidades de galvanização estão em construção. No Brasil, a empresa prevê aumento da demanda entre 5% e 6%. "Vamos reduzir exportações de 22% das vendas para 15% para atender os clientes internos." Graças ao maior consumo mundial e ao esgotamento de estoques não oficiais, desde outubro as cotações do zinco descolaram-se da faixa de US$ 1,1 mil a tonelada. O metal vem sendo negociado na LME acima de 1,2 mil, fato não visto desde 2000. Os estoques na LME entraram em rota de queda: de 740 mil, no fim de 2003, para 629 mil toneladas na véspera do Ano Novo. Isso representa pouco mais de 5% do consumo previsto para 2005, estimado em 10,8 milhões de toneladas. No mercado, relata Motta, há apreensão com a apertada oferta de concentrado de zinco (matéria-prima) para as refinarias de zinco metálico, que procuram formas de assegurar suprimento. Devido aos baixos preços do metal até 2002, chegando ao ponto crítico de US$ 800 a tonelada na LME, pouco investimento em novas minas foi realizado no mundo. Muitas delas, no prejuízo, decidiram fechar. No estanho, a China vai determinar os preços em 2005, afirma Luiz Carlos Renha, presidente da Cesbra, segunda maior produtora do metal no Brasil. O valor previsto deverá oscilar de US$ 8 mil a US$ 9 mil a tonelada nos pregões da LME. No ano passado, a cotação média foi de US$ 8,5 mil, 89% acima dos US$ 4,8 mil de julho de 2003. Renha trabalha com dois cenários para o ano: o primeiro, com preço médio de US$ 9 mil a tonelada, e o segundo mais próximo de US$ 8 mil. O primeiro caso considera que a China, um dos maiores produtores mundiais, não aumentará de forma significativa suas exportações do metal no ano e que a oferta continuará insuficiente para atender a expansão do consumo. Na segunda hipótese, a China diminuiria seu ritmo de crescimento, o que levaria produtores locais a exportar excedentes. A produção da China, segundo Renha, era de 100 mil toneladas até 2003. Cerca de 40 mil a 50 mil toneladas eram consumidas internamente e a diferença exportada. Desde o início de 2004, a China reduziu as exportações em cerca de 30 mil toneladas para atender a expansão de sua economia. Isso puxou os preços do estanho para cima, a patamares só alcançados muitos anos atrás. A produção mundial para 2004 é estimada em 295 mil toneladas, com alta de quase 5% sobre 2003. Com consumo previsto de 327 mil toneladas (alta de 6,5%), o déficit oferta-demanda chega a 30 mil toneladas, o que levou para baixo os estoques. Segundo Renha, os volumes totais, incluindo os oficiais e os não registrados na LME, devem fechar 2004 em 18 mil toneladas - 20 mil a menos do que em 2003. Para o executivo, se a China mantiver o ritmo de crescimento da economia, o consumo de estanho no mundo pode alcançar de 345 mil a 355 mil toneladas em 2005, com alta de 7% sobre o ano passado. Um cenário mais conservador prevê 335 mil toneladas. Para o níquel, cujo principal uso (cerca de 60%) se dá na fabricação de aço inox, 2005 será novamente um ano de leve ajuste nos preços. Depois de chegar a US$ 17 mil a tonelada nos primeiros dias de 2004, cotação recorde em mais de uma década, o metal deverá fechar na média de US$ 13 mil a US$ 13,4 mil a tonelada, pouco abaixo do valor médio de US$ 13,8 mil do ano passado. De qualquer forma, é bastante expressivo - a cotação considerada atrativa e que traz retorno aos produtores situa-se em US$ 8 mil. "O mercado está um pouco mais tranqüilo, mas a previsão de déficit na relação oferta-demanda continuará até 2007", diz Antônio Alberto Schettino, diretor do negócio níquel da Votorantim Metais. A companhia planeja neste ano produzir 29 mil toneladas e exportar cerca de 70% (21 mil). O déficit mundial de 43 mil toneladas de níquel no ano passado tem previsão de subir, podendo alcançar mais de 70 mil. Dois fatos explicam essa equação: a produção mundial caiu para 1,252 milhão de toneladas (9 mil a menos) e a demanda tem aumento estimado de 21 mil, sobre 1,304 milhão. Puxado em grande parte pela China, a demanda no mundo está projetado em 1,325 milhão de toneladas. Na LME, os estoques de níquel correspondem a pouco mais de uma semana de consumo global. Em uma trilha de crescimento nesse negócio, informa Schettino, a VM vai ampliar sua produção este ano em 9% e elevar suas exportações acima de 15%. O alumínio foi o metal cujas cotações mais subiram em 2004 comparado a ano anterior: 22,2%. No último dia de dezembro, o preço da tonelada alcançou a marca de US$ 1,96 mil na LME. Para as produtoras no Brasil, que produziram mais de 1,5 milhão de toneladas no ano passado, o cenário não poderia ser melhor. O país, com isso, terá aumento nas divisas de exportação. Em alumínio primário (bruto), as exportações alcançaram US$ 861 milhões de janeiro a novembro, segundo dados do MDIC.