Título: Para Iedi, atuação antiinflação do BC afeta crédito
Autor: Ricardo Balthazar
Fonte: Valor Econômico, 05/01/2005, Brasil, p. A4

A maneira como o Banco Central tem procurado conter a inflação contribui de forma significativa para a falta de crédito na economia brasileira e a cobrança de taxas de juros elevadas pelos bancos. A avaliação é do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), que resolveu apontar o dedo para o BC num novo estudo sobre os juros. Cálculos apresentados no trabalho do Iedi procuram estimar os efeitos que a atuação do BC tem sobre as operações do sistema financeiro. A idéia é demonstrar que as medidas adotadas pelo BC na condução da política monetária tendem a ser amplificadas pelo sistema bancário nos empréstimos aos seus clientes. Segundo o Iedi, cada ponto porcentual de aumento na taxa básica de juros da economia provoca com o tempo um aumento de 1,64 ponto porcentual nas taxas cobradas pelos bancos das empresas e de 1,02 nas taxas cobradas das pessoas físicas. Desde setembro, quando deu início a um novo ciclo de aperto monetário, o BC elevou a taxa básica de juros em 1,75 ponto porcentual. Conforme os cálculos do Iedi, o impacto da atuação do BC seria menor no caso da Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), referência para os empréstimos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Cada ponto porcentual de aumento na taxa básica tende a provocar um aumento de 0,39 ponto na taxa do BNDES, segundo o estudo. O trabalho do Iedi é uma resposta às recentes declarações do presidente do BC, Henrique Meirelles, que em novembro incluiu entre os responsáveis pelos juros altos o BNDES e as linhas de crédito dirigido que os bancos são obrigados a oferecer para a habitação e a agricultura. Financiado pela elite da indústria nacional, o Iedi têm visto com apreensão os movimentos do BC nessa área. Para Meirelles, o crédito dirigido distorce o sistema financeiro. Como os bancos são obrigados a emprestar para essas atividades um certo volume de recursos com taxas menores que as de mercado, eles precisam cobrar mais caro ao emprestar para empresas de outros setores. O Iedi concorda com o raciocínio, mas não vê sentido em incluir o BNDES nisso como Meirelles fez. Ao contrário dos empréstimos para habitação e agricultura, feitos com recursos captados pelos bancos, as operações do BNDES são feitas com tributos arrecadados pelo governo e o retorno dos empréstimos da instituição. Ou seja, a existência do BNDES não mexe no dinheiro dos bancos privados e não implica em custos para os quais eles teriam que buscar compensação cobrando taxas maiores de outros clientes. O Iedi discorda do BC em outro aspecto. Para a entidade, nada garante que haveria mais financiamento e taxas melhores nos bancos se as linhas de crédito dirigido fossem extintas. Na opinião do Iedi, nas condições atuais da economia, o mais provável é que os bancos aplicassem o dinheiro nos papéis do governo em vez de emprestá-los para as empresas. "Medidas como essas podem reduzir o custo de captação e aumentar a lucratividade do sistema bancário, mas com certeza reduzirão o volume e elevarão o custo do crédito com efeitos negativos para o investimento", diz o estudo do Iedi. Medidas como um corte nas linhas de crédito dirigido teriam resultado "lento, incerto e altamente duvidoso". Para o Iedi, se o governo quiser reduzir os juros no mercado financeiro, problemas como a falta de competição no sistema bancário e a existência de elevados recolhimentos compulsórios sobre os depósitos dos bancos deveriam receber mais atenção do que fatores que têm sido atacados, como a alta inadimplência e dificuldades para cobrar devedores na Justiça.