Título: Virgílio Guimarães mantém candidatura
Autor: Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 05/01/2005, Política, p. A6

As articulações políticas em torno da sucessão na presidência da Câmara esbarram em dois complicadores para o governo: as vaidades e desavenças no próprio PT e as pressões políticas dos partidos da base com vistas à reforma ministerial, que deve ocorrer só em fevereiro. O presidente nacional do PT, José Genoino, não conseguiu ontem demover o deputado Virgílio Guimarães (PT-MG) da idéia de lançar uma candidatura avulsa (independente) no plenário da Câmara contra o deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP), escolhido oficialmente pela bancada petista. "Para o PT, a candidatura que está posta é a candidatura aprovada pela bancada (de Greenhalgh)", afirmou Genoino, após uma reunião de mais de duas horas com Virgílio Guimarães. Diante da postura do petista mineiro, que embolou o cenário da sucessão, o campo majoritário do PT decidiu operar com mais firmeza a partir de hoje para não ver naufragar a candidatura de Greenhalgh. Uma das idéias, exposta pelo deputado Paulo Pimenta (PT-RS), é divulgar um manifesto de apoio ao nome de Greenhalgh. O manifesto teria a assinatura de todos os 90 deputados do PT, inclusive de Virgílio Guimarães. Os petistas do campo majoritário também começam a marcar reuniões de Greenhalgh com todos os deputados e líderes. Do outro lado, os aliados de Virgílio Guimarães também mostram as garras. O "Movimento Câmara Forte" - composto por 152 parlamentares do chamado baixo clero, aqueles com pequena influência nas articulações políticas - decidiu contratar o Instituto Sensus para uma pesquisa de opinião. Os 513 deputados serão entrevistados e votarão numa lista com os seguintes nomes: Greenhalgh, Virgílio, José Carlos Aleluia (PFL-BA), Michel Temer (PMDB-SP), José Múcio (PTB-PE) e Severino Cavalcanti (PP-PE). A liderança do PT orientou os parlamentares a não responderem às sondagens sobre a sucessão. A avaliação feita ao Valor por alguns parlamentares do próprio PT e por representantes do governo no Palácio do Planalto é que Virgílio Guimarães não está atuando sozinho, nem agindo de forma voluntariosa. Contaria com o aval do atual presidente da Câmara, João Paulo Cunha. A estratégia, segundo essas fontes, pode ser mal sucedida, pois não há clima político para a bancada do PT e o governo recuarem do apoio a Greenhalgh. Há dúvidas no partido se Virgílio Guimarães de fato enfrentaria o governo lançando-se candidato. Foto: Leo Pinheiro/Valor - 15/8/2003

Para Virgílio, Câmara é soberana para escolher o seu presidente O PT quer pressionar o Palácio a trocar o comando da articulação política, hoje nas mãos do ministro Aldo Rebelo (PCdoB). "Há pessoas magoadas no PT e estão insuflando isso (a disputa) neste momento. Todos no PT precisam esfriar a cabeça", analisou um parlamentar. Na avaliação de Lula, Greenhalgh trabalharia em sintonia com Rebelo. O mesmo ocorreria com o líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), se eleito presidente do Senado. João Paulo Cunha não conseguiu o apoio que esperava do governo para reeleger-se presidente da Câmara. Agora, a meta do petista é ganhar espaço político para lançar-se ao governo de São Paulo. Para isso, o presidente da Câmara deve ocupar uma vaga no primeiro escalão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Só que a vaga aberta até o momento não é a do Ministério da Coordenação Política. Não há possibilidade, segundo interlocutores de Lula, de o Palácio do Planalto avalizar uma outra candidatura e retirar o apoio a Greenhalgh. Essa atitude desmoralizaria o PT. "O PT tem que se dar conta da responsabilidade que tem, como maior partido da Câmara e partido do presidente da República. Houve um processo interno e legítimo de escolha na bancada para o nome do candidato, e todos assumimos um compromisso com isso. Não haverá outro candidato do PT e não há espaço para candidatura avulsa", disse Paulo Pimenta, do campo majoritário. Tanto os aliados quanto os oposicionistas assistem de camarote à confusão criada e inflamada pelo próprio PT. A oposição já lançou o deputado José Carlos Aleluia (PFL-BA) como alternativa. Na base, todos vêem espaços para exercer a pressão política diante dos descompassos petistas. O líder do PTB, José Múcio (PE), é apontado por colegas como possível candidato. Ontem, ele e o presidente da legenda, Roberto Jefferson (RJ), tiveram uma audiência com Lula. Não é a primeira vez que as eleições na Câmara e no Senado se transformam em palco de importantes disputas políticas e causam perplexidade e surpresa ao governo e a partidos. A escolha dos presidentes das duas Casas ocorre por voto secreto, o que abre espaço para traições de última hora e para os ressentidos darem lições veladas a quem bem desejarem. Por isso, o processo exige cautela. "O problema do PT é que sempre querem ocupar as duas posições, de situação e oposição", ironizou o líder do PL, Sandro Mabel (GO). Ele confirmou que há forte resistência da bancada ao nome de Greenhalgh, com quem se encontra no dia 18. "Nossa idéia é apoiar o nome escolhido pelo governo, mas isso vai exigir muito trabalho e discussão com os líderes", disse. Ontem, Virgílio Guimarães continuou a fazer campanha. Foi pela segunda vez à posse de deputados suplentes, que assumem no lugar dos prefeitos eleitos. "A Casa quer Virgílio Guimarães. Se o PT não voltar atrás, vai perder no plenário", afirmou com desenvoltura o deputado João Leão (PL-BA), cabo eleitoral do mineiro, durante a cerimônia oficial no gabinete oficial do presidente da Câmara. Virgílio disse que não descarta ser candidato, mas ao mesmo tempo faz elogios a Greenhalgh. Alega que a Câmara é soberana para escolher o seu presidente, sem interferência do Palácio, e insiste que as candidaturas avulsas têm valor republicano. Ele afirmou ainda que não está favorecendo o racha no PT, e nem desafiando o governo. Greenhalgh preferiu a discrição. Em conversas com parlamentares, disse estar surpreso e magoado com colegas do PT. O campo majoritário do PT conta ainda com o apoio do PMDB para eleger Greenhalgh. O ministro da Previdência, Amir Lando, disse ontem que almoçou com Renan Calheiros e que o partido decidiu apoiar os candidatos indicados pelas duas maiores bancadas (PMDB no Senado e PT na Câmara). (Colaborou Henrique Gomes Batista)