Título: América Latina avança pouco em liberdade econômica
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Fonte: Valor Econômico, 05/01/2005, Internacional, p. A7
Boa parte dos países da América Latina não alcançou o status de economia livre em 2004, o que dificulta melhoras na qualidade de vida das populações e no crescimento econômico. Essa é a conclusão do Índice de Liberdade Econômica 2005, divulgado ontem pelo "think-tank" americano The Heritage Foundation e pelo jornal "The Wall Street Journal". Por outro lado, a Europa e parte da Ásia continuaram a liberalizar suas economias e em troca deverão registrar alta na renda per capita e nos padrões de vida locais. Mais uma vez, Hong Kong apareceu na primeira posição no ranking de liberdade econômica, compilado anualmente há 11 anos. Cingapura, como nos anos anteriores, vem na segunda posição. Isso mostra que liberdade política não é um critério essencial. Os economistas envolvidos no mapeamento desses países estudam dez indicadores econômicos na tentativa de fazer uma correlação entre liberdade econômica e prosperidade.
Cada país recebe notas entre um e cinco para cada indicador - política comercial, peso fiscal do governo, política monetária, intervenção econômica do Estado, fluxo de capital e investimentos estrangeiros, finanças e serviços bancários, salários e preços, direito de propriedade e regulamentação do mercado informal. Das notas, tira-se uma média para a classificação final. Os com menor média são os mais livres, e vice-versa. A constatação dos economistas é que os países que melhoraram suas pontuações tendem a apresentar melhor qualidade de vida e renda per capita maior. "Nos últimos nove anos, mais e mais pessoas estão desfrutando dos benefícios das economias livres", diz o relatório. "O número de pessoas que vivem em economias livres cresceu 32% nesse período, de 361 milhões para 478 milhões". Ao mesmo tempo, acrescenta, o número de pessoas sob economias reprimidas caiu em 38%, de 391 milhões para 242 milhões. O relatório do Heritage Foundation diz que Hong Kong mantém a economia mais aberta do mundo hoje graças à pouca intervenção estatal, mínimos controles de capital e uma legislação justa. Mas adverte que a posição do território autônomo chinês poderá cair no ano que vem caso seja levado adiante a implementação de uma nova taxa sobre serviços e produtos, defendida pelo governo. A América do Norte e a Europa são as regiões que mais apresentam economias livres. Luxemburgo, Estônia, Irlanda, Reino Unido, Dinamarca e Islândia lideram o grupo. No caso da Islândia, a queda de impostos e alterações nas regras do sistema bancário levaram o país a ultrapassar os EUA e acirrar a disputa com a Dinamarca. Já na África e no Oriente Médio, o nível de liberdade econômica caiu. A América Latina continua "estática", diz o relatório: 13 países tiveram melhoras em alguns indicadores, mas outros 13 registraram piora (entre eles, o Brasil). "O Chile é a estrela da região, um modelo de reforma econômica na América Latina por mais de duas décadas", diz o relatório, que cita baixa inflação, quase nenhuma barreira comercial e a maior proteção aos direitos de propriedade da região. O país ficou em 11º lugar entre os 155 países observados. Outro latino-americano com boa performance foi El Salvador, onde a redução de gastos do governo alavancou o país para a segunda melhor posição na região. Brasil, Colômbia, Guatemala, Paraguai, Argentina e Equador são considerados "pouco livres". Cuba, Venezuela e Haiti aparecem no fim da lista: são as economias mais reprimidas da região. O Brasil piorou em relação ao ranking de 2004 (relativo a 2003). A "nota" do país passou de 3,10 para 3,25, devido à avaliação da política monetária.