Título: 2005 será ano-chave para testar ânimo exportador
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 05/01/2005, Opinião, p. A8

Os números sobre a balança comercial no ano passado são impressionantes: o Brasil bateu vários recordes nessa área, a começar pelos valores de exportações, de importações e do superávit. De acordo com os dados divulgados na segunda-feira pelo Ministério do Desenvolvimento, as empresas brasileiras venderam ao exterior US$ 96,475 bilhões, o que significa alta de 32% ante 2003. As importações também aumentaram em ritmo forte em 2004: 30% ante 2003, alcançando-se o total de US$ 62,779 bilhões. Esse desempenho garantiu ao país um superávit nunca antes registrado de US$ 33,696 bilhões. Dessa forma, o volume de comércio exterior deu um salto, atingindo US$ 159,254 bilhões contra US$ 121,375 bilhões em 2003, com 31,2% de aumento. Esses números excepcionais foram o que de melhor aconteceu na economia brasileira em 2004, já que o Produto Interno Bruto (PIB) pode crescer tanto quanto cresceu - cerca de 5% - devido principalmente aos efeitos diretos e indiretos do comércio exterior. Além disso, do lado das contas externas, o resultado comercial de 2004 foi o grande responsável pelo saldo de U$ 10 bilhões (ou quase 2% do PIB) que deve ser registrado no balanço em transações correntes, como calcula o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). Ou seja, o resultado da balança comercial esteve na base da significativa redução da vulnerabilidade externa do Brasil alcançada no ano passado. Ao divulgar os dados sobre a balança, o Ministério do Desenvolvimento chamou a atenção para o fato de que a participação do comércio exterior no PIB continua aumentando em ritmo acelerado - calcula-se que essa parcela tenha passado de 24,6% em 2003 para 26,6% no ano passado. A expectativa governamental agora é que a participação da corrente de comércio do Brasil com o exterior chegue rapidamente a 30%. O que ajudaria a melhorar a visão e a avaliação dos investidores internacionais sobre o país. Com todas essas boas notícias sobre o comportamento da balança comercial no ano passado, é natural que o ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, esteja otimista em relação ao desempenho do comércio exterior brasileiro neste novo ano, em especial no que se refere às vendas de produtos brasileiros ao exterior. Ele estima que as exportações devem alcançar US$ 108 bilhões em 2005, o que significará crescimento de 12% ante 2004. Furlan acredita que, no critério de acumulado em 12 meses, a meta traçada pelo governo Lula de exportar US$ 100 bilhões será atingida ainda no primeiro semestre do ano. Infelizmente, porém, nem todos os especialistas avalizam as previsões de Furlan. Bancos e consultorias ouvidos pelo Valor estimam um resultado menos brilhante do que o projetado pelo governo e esperam desde uma queda de 2,2% das exportações até uma alta de no máximo 10%, neste ano. Na média, as previsões apontam ganho de 4,9%, que cravariam US$ 100 bilhões. Para se chegar aos US$ 108 bilhões prenunciados por Furlan, seria necessário que as exportações aumentassem 12%. E não são poucos os analistas que duvidam que o Brasil chegue aos US$ 100 bilhões de exportações em 2005. Em qualquer dessas hipóteses, será, sem dúvida, um período favorável para os exportadores, mas com escalas de ganhos muito diferentes conforme a estimativa. A principal razão para essas previsões menos otimistas do que as do ministro Furlan é que dificilmente se repetirá neste ano a mesma combinação de fatores excepcionais que alavancaram o crescimento das exportações brasileiras neste ano - a começar pela expansão real das economias em todo o mundo. A taxa de crescimento dos países em desenvolvimento no ano passado, por exemplo, é estimada pelo FMI em 6,5%. Para este ano, as previsões são bem mais modestas. Além de se esperar agora uma desaceleração da economia mundial, não se pode contar mais com o mesmo patamar elevado de preços das commodities que também ajudou o Brasil nos últimos anos. Além disso, o aquecimento do mercado doméstico - claramente registrado em 2004 e já previsto para continuar neste ano - significa que muitas empresas se sentirão tentadas a voltar a vender internamente em vez de se aventurar por outros países. Por isso, pode se considerar que este ano será chave para demonstrar ou não se o comércio exterior passou mesmo por uma mudança estrutural, com o desenvolvimento de uma sólida cultura exportadora, como pareceram indicar os resultados de 2004.