Título: GM ajuda programas de expansão de seus fornecedores no sul
Autor: Marli Olmos
Fonte: Valor Econômico, 05/01/2005, Empresas &, p. B7
A General Motors do Brasil acertou com pelo menos dois bancos da Região Sul uma estratégia que permitirá aos seus fornecedores saldar empréstimos bancários. A fórmula visa socorrer empresas que precisam de dinheiro para aumentar a produção de peças e, assim, evitar que a fabricação de veículos pare em razão de gargalos localizados na base da cadeia produtiva.
Para facilitar a liberação dos empréstimos bancários, a montadora se compromete a fazer parte do pagamento das peças via banco. Ou seja, o banco receberá parte do valor destinado ao pagamento do fornecedor que fez o empréstimo. Esse dinheiro servirá para abater a dívida.
O vice-presidente da GM, José Carlos Pinheiro Neto, explica que o modelo já foi negociado com o Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) e com o Banrisul. Somente no Rio Grande do Sul, a empresa tem 486 fornecedores. "Vamos tentar facilitar a vida dessa turma", afirma o executivo.
As empresas que mais precisam do socorro não são os fornecedores diretos dos fabricantes de veículos. As mais descapitalizadas e sem crédito em banco são os fabricam as peças menores para os grandes fornecedores que, por sua vez, entregam conjuntos já montados para a indústria de veículos. O pagamento via banco prevê a participação do fornecedor maior no processo.
Para Richard Jean Marie Dubois, especialista na indústria automotiva da Trevisan/Tamer & Associados, a ajuda aos fabricantes de autopeças que precisam investir é hoje a maior urgência para dar continuidade ao crescimento da indústria automobilística.
Segundo ele, algumas empresas menores, que às vezes são fabricantes exclusivos de uma peça, não conseguem crédito porque estão atoladas em dívidas, principalmente relacionadas a tributos e benefícios trabalhistas. Algumas deixaram de recolher impostos justamente para oferecer preços mais baixos e ganhar contratos das grandes montadoras.
Os gargalos paralisaram as linhas de montagem já em 2004. Por falta de rolamentos, a Eaton, fabricante de transmissões, parou mais de uma vez, segundo o seu presidente, Carlos Alberto Briganti. O executivo conta que a empresa perdeu eficiência e teve de dobrar a participação dos produtos importados nas suas compras. "Foi um ano de crescimento rápido, mas de baixa eficiência", afirma o representante dessa empresa que vai investir R$ 150 milhões neste ano para ampliar capacidade.
A divisão brasileira da SKF, um dos principais fabricantes de rolamentos do mundo, tem trabalhado com três a quatro turnos, segundo o diretor de vendas automotivas, Eduardo Buchaim, e espera aumento do ritmo em 10% em 2005.
Com aumento de 45% nas vendas externas e uma produção 20% acima do volume de 2003, as montadoras também enfrentaram, em 2004, paralisações por falta de componentes. A Iveco , fabricante de caminhões e utilitários leves do grupo Fiat teve de parar a linhas algumas vezes. "Com isso, perdemos entre 5% e 10% de eficiência", conta o presidente da Iveco na América do Sul, Jorge Garcia.
O Sindicato Nacional da Indústria de Autopeças (Sindipeças) preparou um estudo para convencer o governo a liberar recursos do Banco de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para a compra de máquinas, que indica a necessidade de investimento de US$ 1 bilhão no setor neste ano. "Para não correr riscos de ter de parar, as montadoras não vão esperar o governo", afirma Dubois, da Trevisan.
Alguns optaram por soluções caseiras porque não acreditam em linhas de financiamento fáceis. No Paraná, já começaram a ser fechados acordos envolvendo até empréstimos de máquinas de grandes multinacionais de autopeças para seus fornecedores que precisam aumentar a produção.
A Delphi, a maior fabricante de componentes automotivos do mundo, já entregou máquinas, em regime de comodato, à Schwartz , uma metalúrgica que precisa acelerar o ritmo para atender à demanda.
"O empresário também está com mais receio de fazer investimentos porque não sabe até que ponto o crescimento das vendas não é uma bolha", destaca o presidente do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas do Paraná (Sindimetal), Roberto Sotomar Karam. Ele lembra que o setor agrícola, que puxa a produção do setor na região, já começa a perder fôlego.
O Sindimetal começou a elaborar uma pesquisa das empresas da região com potencial para serem fornecedores do setor automotivo. A entidade tem um total de 15 empresas nessa lista.
Agora, o sindicato vai reunir multinacionais do setor de autopeças, montadoras e a área acadêmica para providenciar o socorro necessário para capacitar esse grupo. "As vezes a empresa está bem, mas não tem equipamento", destaca o dirigente.