Título: Caatinga teve 45% da área devastada
Autor: Santos, Danielle
Fonte: Correio Braziliense, 03/03/2010, Brasil, p. 10

Dados divulgados pelo Ministério do Meio Ambiente mostram que restam apenas 375 mil quilômetros de cobertura vegetal. Bahia e Ceará são os campeões de destruição

O ministro Carlos Minc: ¿A importância de se encontrar uma solução energética para a região é urgente¿

Um levantamento do Ministério do Meio Ambiente apresentado ontem, em Brasília, apontou que 45,39% da área original da caatinga ¿ bioma predominate da Região Nordeste ¿¿ já foi devastado. Entre 2006 e 2008, 2% da área, o que equivale a 16.576 quilômetros quadrados, viraram carvão ou lenha. Dos 826.411 quilômetros quadrados, restam apenas 375.116 quilômetros de cobertura vegetal. A matéria prima serve para abastecer a indústria de gesso e cerâmica do Nordeste, além de atender o setor siderúrgico em Minas Gerais e no Espírito Santo. Parte do carvão também contribui para indústrias de pequeno e médio porte e para a uso doméstico. ¿A importância de se encontrar uma solução energética para a região é urgente. Sem alternativas energéticas, a guerra é muito complicada¿, disse o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc. A Bahia e o Ceará foram os estados que mais destruíram a cobertura original do bioma no período mencionado: 0,55% e 0,50% respectivamente, o que equivale ao dobro do índice registrado em seis estados. O Maranhão aparece em último da lista. O estado desmatou 97 quilômetros quadrados, o que equivale a 0,1% do total registrado no mesmo período.

Os municípios que mais contribuiram para os índices de desmatamento foram Acopiara (CE),Tauá (CE), Bom Jesus da Lapa (BA), Campo Formoso (BA), Boa Viagem (CE),Tucano (BA), Mucugê (BA) e Serra Talhada (PE). Segundo o ministério, a emissão média anual de dióxido de carbono (CO2) durante esse período, devido ao desmatamento da caatinga, foi de 25 milhões de toneladas. Apenas 7% de áreas protegidas, somando áreas estaduais e federais, sendo que 2% são de proteção integral e os outros 5% são de unidades de conservação de uso sustentável.

Segundo o MMA, 60% da caatinga estão suscetíveis à desertificação. Uma das alternativas para frear o avanço da destruição no bioma está na substituição do carvão vegetal por energias renováveis como a eólica, gás natural e pequenas centrais elétricas. O ministro do Meio Ambiente quer destinar metade dos recursos do Fundo Nacional de Mudanças Climáticas, criado ano passado, ¿ R$ 500 milhões por ano ¿ para ações no bioma. O governo também quer criar em abril um plano de combate ao desmatamento para a caatinga e, mais tarde, para o cerrado, a exemplo do que foi criado para a Amazônia. Segundo Minc, só este mês, o Ibama pretende realizar 25 operações de combate ao desmatamento e ao carvão vegetal ilegal na região, na tentativa de inibir o crime ambiental. ¿Estamos transferindo o uso da caatinga para atividades que sequer são exercidas na região. Grande parte da riqueza sequer permanece no Nordeste¿, endossa a secretária de Biodiversidade e Florestas do MMA, Maria Cecília Brito. Os dados divulgados ontem servirão de embasamento para a primeira reunião entre governadores e secretários de Meio Ambiente sobre o Plano de Combate à Desertificação na região. O encontro ocorrerá em Juazeiro (BA) e Petrolina (PE).

O especialista em economia florestal da Universidade de Brasília, Carlos Francisco Rossetti, acredita que uma das medidas que poderia ajudar a reduzir o desmatamento ilegal está no investimento em reservas florestais para uso exclusivo dos setores econômicos. ¿Essa alternativa já existe em alguns países que desmataram suas florestas e vem funcionando muito bem. É um recurso que pode gerar emprego e renda decente aos povos da região e que poupa espécies nativas¿, diz.

Reforço social

De acordo com o especialista em economia florestal da Universidade de Brasília, Carlos Francisco Rossetti, as reservas energéticas são consideradas uma boa prática porque podem ocupar áreas degradadas com espécies de crescimento mais rápido. ¿O Brasil tem condições climáticas boas e conhecimento científico para investir. O problema é que falta política de governo para isso.¿

¿A demanda de carvão não vai acabar e enquanto não se investir em qualidade de vida para o povo da caatinga não se resolve o problema do desmatamento¿, completa a professora do Instituto de Biologia da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Maria Aparecida de Oliveira. ¿Em geral, a água é uma solução para resolver a miséria da região, já que as famílias podem investir na agricultura. O problema é quando essas pessoas aceitam se arriscar no desmatamento.¿ (DS)