Título: Emprego na indústria cresce, mas ritmo diminui
Autor: Raquel Salgado
Fonte: Valor Econômico, 17/03/2005, Brasil, p. A10

Após dois meses seguidos em queda, o emprego indústrial voltou a crescer em janeiro. Segundo a Pesquisa Mensal de Emprego e Salário (PME) do IBGE, o número de pessoas ocupadas na indústria cresceu 0,4% em relação a dezembro do ano passado. Na comparação com janeiro de 2004, a alta foi de 3,2%. O resultado mantém uma sequência de 11 taxas positivas, mas é o menor percentual de crescimento verificado desde setembro de 2004. Apesar da alta, ocorreu fechamento de vagas nos setores de calçados (menos 5,7%) e vestuário (menos 3,5%) em relação a janeiro do ano passado - dois dos segmentos que mais empregam mão-de-obra na indústria. Segundo o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), desde novembro as demissões têm superado as contratações nesses dois ramos. O recuo atingiu 3,6% nas fábricas de calçados, e 2,1% na indústria do vestuário, em dezembro passado.

Na avaliação de Fábio Romão, da LCA Consultores, estes setores são que mais têm relutado em mostrar recuperação. "O problema é que são produtos ainda muito dependentes das exportações, que têm sofrido os efeitos da valorização do câmbio. Por outro lado, o mercado interno também não compensa tais dificuldades", observou. Os duráveis, diz ele, foram bem no ano passado devido à demanda reprimida por esse produtos. Já os alimentos beneficiaram-se do aumento de emprego e renda. "Os calçados e vestuário foram colocados em terceiro plano pelo consumidor", avalia. E complementou: "o consumo doméstico está aquecido, mas não refletiu na compra de semi-duráveis". Na avaliação do Iedi, a criação de empregos em janeiro se explica pelo crescimento da produção industrial em dezembro -1,2% sobre novembro. Mas como a produção voltou a cair em janeiro (menos 0,5%), o mercado de trabalho pode sentir o efeito dessa queda nos meses seguintes. Do lado positivo, o índice foi influenciado pelo desempenho das indústrias de Minas Gerais (5,3%) e São Paulo (2,6%). Em Minas, o emprego cresceu em 15 setores no período, com destaque para produtos de metal (32,6%) e aparelhos eletroeletrônicos e de comunicações (20,2%). Em São Paulo, o destaque ficou com máquinas e equipamentos (13,8%) e meios de transporte (13,5%). O Rio Grande do Sul, por sua vez, contribuiu para a diminuição de vagas na indústria (menos 1,2%). Sete setores do Estado tiveram queda no nível de emprego: calçados e couro (menos 13,9%) e outros produtos da indústria de transformação (menos 8,6%). No Rio de Janeiro, a taxa também foi negativa (menos 1,0%). Em todo o país, destacaram-se na criação de empregos, em janeiro, os setores de alimentos e bebidas (5,9%), meios de transporte (13,3%) e máquinas e equipamentos (9,4%). No acumulado dos últimos 12 meses, o IBGE registrou crescimento de 2,2% na abertura de vagas , uma trajetória de alta que se mantém há dez meses. Os melhores resultados foram obtidos por máquinas e equipamentos (14%), alimentos e bebidas (4,1%) e meios de transporte (8,9%). A folha de pagamento dos empregados na indústria deu um salto de 6,2% em janeiro na comparação com dezembro do ano passado. Esse comportamento, segundo o IBGE, pode ser explicado por dois fatores: pagamento de férias e queda da inflação no período: o IPCA, que foi de 0,86% em dezembro, caiu para 0,58% em janeiro. Em relação a janeiro do ano passado, a alta da folha de pagamento atingiu 5%. A maior contribuição para o índice foi dada por São Paulo (5,3%), onde houve forte expansão nos meios de transporte (17,6% e máquinas e equipamentos (18,7%). Apenas em dois Estados houve redução da folha no período: Rio (5,7%) e Pernambuco (1,3%). (Com agências noticiosas)