Título: Sinal do BC frustra expectativas
Autor: Alex Ribeiro e Luiz Sérgio Guimarães
Fonte: Valor Econômico, 17/03/2005, Finanças, p. C1

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu ontem, por unanimidade, elevar em 0,5 ponto percentual os juros básicos da economia, de 18,75% para 19,25% ao ano. O comunicado divulgado após a reunião praticamente elimina as esperanças, disseminadas pelo próprio BC, de que o ciclo de aperto na política monetária, iniciado em setembro de 2004, estaria perto do fim. Na nota do BC, são reproduzidas basicamente as mesmas palavras usadas nos meses anteriores: "Dando prosseguimento ao processo de ajuste da taxa de juros iniciado na reunião de setembro de 2004, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa Selic para 19,25% ao ano, sem viés". Em sete reuniões, o BC já elevou os juros em 3,25 pontos. De forma geral, o mercado financeiro apostava em um fim do ciclo de aperto. Alguns analistas acreditavam em uma alta de 0,25 ponto percentual, ou seja, uma elevação mais branda do que o 0,5 ponto decidida em fevereiro, que, por si só, indicaria que o trabalho foi concluído. Outros apostavam em alta de 0,5 ponto, mas acompanhada de um comunicado que apontasse claramente que a taxa chegou ao nível pretendido. Essas expectativas foram alimentadas pelo próprio BC, em frase na ata da reunião de fevereiro, que dizia que a alta dos juros decidida naquela ocasião, de 18,25% para 18,75% ao ano, trouxe a taxa "para um nível em que, na avaliação do Copom, promoverá a convergência da inflação para a trajetória de metas" de inflação. A nova meta da taxa Selic é a mais elevada desde novembro de 2003, quando o BC cortou os juros de 20% para 19% ao ano. Em meados do ano passado, antes de começar o atual movimento de alta, a taxa havia caído a uma mínima de 16% ao ano. O diretor-superintendente do Banco Fibra, João Rabêllo, diz que sobre a decisão do Copom pesou mais a piora no cenário internacional do que as condições internas. Estas não melhoraram a ponto de exigir uma diminuição no ritmo de alta da taxa Selic, mas foram os acontecimentos externos - como a alta dos juros americanos de 10 anos, a disparada do petróleo e o avanço das commodities - que indicaram a necessidade de o BC adotar de novo uma opção pelo conservadorismo. Para Rabêllo, a ata da reunião de ontem do Copom, que será publicada na próxima quinta-feira, certamente virá mais rigorosa que a do encontro anterior, considerada branda. "O cenário desenhado no documento de fevereiro não se concretizou", diz Rabêllo. Na sua visão, os mercados financeiros podem abrir um pouco mais nervosos hoje do que fecharam ontem, já que muitas mesas precificaram no final do dia a perspectiva de um avanço da Selic de apenas 0,25 ponto com consequente encerramento do ciclo de aperto monetário. Mas essa tendência de piora no comportamento dos ativos não deve prosperar. O diretor da Modal Asset, Alexandre Póvoa, acredita que o BC não deveria se comprometer em suas atas com promessas futuras de flexibilização da política monetária. Isso cria expectativas no mercado nem sempre fáceis de cumprir. "Quando achar que deve interromper a alta do juro, o Copom se reúne e toma a decisão, sem sinalizar isso com antecedente", observa. O ciclo de elevação não é, contudo, perpétuo. Em algum momento, diz Póvoa, ele terá de interromper a alta porque já estará mirando a inflação de 2006, mais baixa (5%) que a prevista para este ano (5,77%) pelo mercado. Para o consultor Miguel Daoud, da Global Financial Advisor, a decisão do Copom mostra a falta de coordenação nas políticas monetária, fiscal e cambial. Muitas vezes elas se chocam entre si, instalando um círculo vicioso. A maior taxa de juros do mundo atrai investimentos altamente especulativos que acabam por derrubar o dólar. Como o ajuste das contas externas se deu pela desvalorização do real, o BC passa a comprar dólares para frear a apreciação do real. Mas a compra de dólares exige mais endividamento em reais, o que aumenta a dívida e a liquidez - o que, por sua vez, pressiona a inflação e exige mais aumento de juros. Para manter a dívida sob controle, o governo aumenta o superávit fiscal, reduzindo assim a capacidade de investimento. A política também exige juros altos para manter o mercado interno reprimido e assim realçar a opção pela exportação. "A solução é definir claramente o que se espera das políticas macroeconômicas e onde queremos chegar", diz Daoud. As centrais sindicais e as entidades empresariais criticaram a decisão do Copom. "É lamentável saber que, mais uma vez, a decisão do Copom foi de aumentar a taxa básica de juros", afirmou o presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva. Para ele, "o atual governo insiste em privilegiar o setor especulativo". Para a CUT, a decisão é lamentável.