Título: PMDB resiste a entregar Comunicações ao PP
Autor: Raymundo Costa e Cristiano Romero
Fonte: Valor Econômico, 18/03/2005, Política, p. A8

Com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva já demonstrando sinais de hesitação para demitir o ministro da Saúde, Humberto Costa, o PMDB transformou-se no mais novo complicador da reforma ministerial. A sigla reprovou o modo como o Palácio do Planalto pediu o Ministério das Comunicações para oferecê-lo ao PP e resolveu estabelecer condições para entregar a Pasta: quer em troca os ministérios da Integração Nacional de "porteira fechada" e o das Cidades para Roseana Sarney (PFL-MA). Há uma semana Lula tem contornado um pedido de audiência feito por Renan Calheiros (AL) e José Sarney (AP) para discutir a situação do PMDB na reforma, o que pode acontecer hoje. As condições impostas pelo partido têm uma explicação: a sigla gostaria de manter as Comunicações com o deputado Eunício Oliveira e a nomeação de Roseana Sarney para a Integração Nacional. Nas Comunicações, Eunício conseguiu compor correntes partidárias. O presidente dos Correios, João Henrique, por exemplo, representa o grupo do presidente do partido, Michel Temer. O PMDB também quer estar no comando das Comunicações quando começar o processo de renovação da concessão das teles, mesmo motivo que leva o PP a reivindicar o ministério. Ciro Nogueira (PI), indicado do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE, para a Pasta, tem um motivo adicional: quer tirar João Henrique dos Correios, seu adversário na política do Piauí. Aliás, João Henrique pode sair mesmo que Eunício permaneça, por representar o grupo do PMDB que faz oposição ao governo Lula da Silva. Ontem, o presidente parecia incomodado com a pouca margem de manobra de que dispõe. Demonstrava também impaciência com a pressão dos partidos e que não estava absolutamente convencido sobre algumas mudanças. Pela manhã, Lula chegou a dizer a auxiliares para "segurar a questão do Humberto", referindo-se ao ministro da Saúde, cuja substituição por Ciro Gomes era um dos poucos pontos dados como certos na reforma. Na quarta-feira, Ciro Gomes acompanhou o presidente na viagem a Coronel Freitas (SC). A pressão para a manutenção de Costa na Saúde ganhou a adesão de prefeitos e governadores do PT. O prefeito de Aracaju (SE), Marcelo Déda, e o governador Wellington Dias (PI), por exemplo, pediram a permanência do ministro no cargo. A bancada petista na Câmara também decidiu apoiar a manutenção de Costa. O próprio ministro tem dado declarações de quem já não acredita que vá ficar, mas sempre com a ressalva de que, somente agora, começaria a colher os resultados de dois anos de trabalho. Ciro Gomes, por seu turno, colocou-se à disposição de Lula para uma eventual troca de ministério, mas quer manter a estrutura que montou na Integração Nacional, principalmente no Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (Dnocs) e Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (Codevasf), o que dificulta o entendimento com o PMDB, sobretudo se a indicação recair sobre Eunício Oliveira. A Integração Nacional é a Pasta preferida de Sarney para a filha Roseana, que estaria disposta a ser mais flexível com as nomeações de Ciro. Ontem à noite o governo já admitia ceder o Dnocs e a Codevasf ao PMDB. Os assessores mais próximos de Lula no Planalto também têm demonstrado desconforto com a necessidade de acomodar Roseana. Argumentam que se trata de uma necessidade criada por Renan Calheiros dentro de seu acordo com José Sarney para se eleger presidente do Senado. No Planalto, também já se manifestam dúvidas quanto ao poder de fogo da Pasta oferecida ao PP, as Comunicações, e há queixas da forma como o partido vem se conduzindo nas votações da Câmara. Segundo comentários feitos no Palácio, o comportamento do PP estaria beirando a "chantagem".