Título: Especialistas não acreditam que proposta americana sairá do papel
Autor: Assis Moreira
Fonte: Valor Econômico, 18/03/2005, Especial, p. A12

Uma proposta que já nasce praticamente morta. Segundo André Nassar, diretor-executivo do Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (Icone), esses tipos de acordos setoriais não são de interesse da Europa e do Japão, outros pesos pesados nas negociações internacionais. "O Japão tem um mercado fechado para a carne suína, por exemplo", disse. Outra questão, segundo Nassar, é que os americanos fizeram uma proposta parcial. "Colocaram alguns produtos na mesa, mas não abriram em mercados que interessam ao Brasil, como soja e açúcar, por exemplo", afirmou. Nassar disse que não interessa ao governo brasileiro um acordo parcial, uma vez que as ambições do Brasil são maiores. "Por que o governo brasileiro aceitaria a proposta, se não há produtos de interesse do país, além da redução dos subsídios?" Pedro de Camargo Neto, especialista em comércio internacional agrícola e presidente da Abipecs (associação que reúne exportadores de carne suína), disse que um acordo em carnes com os americanos interessa ao Brasil, desde que os Estados Unidos contemplem as questões sanitárias. "Temos que ter equivalência de regras sanitárias", disse. Segundo Camargo Neto, um acordo em carnes sem transparência em regras sanitárias não faz sentido. Ele lembrou que as discussões para a exportação de mamão aos EUA demoraram 16 anos. "Estamos há cinco anos discutindo carne bovina." Ele acrescentou que os Estados Unidos são burocráticos nesta questão, com a imposição de empecilhos. Para Camargo, se produtos como álcool ficam de fora, por exemplo, tiram uma oportunidade de integração entre os países. "Tanto o Brasil como os Estados Unidos são competitivos nesse setor. Deveria haver uma integração entre os dois", disse. As discussões para a conversão de tarifas específicas também devem ser rejeitadas, sobretudo pela União Européia. Segundo Nassar, a Europa desenvolveu um método arbitrário para tarifas, no qual não aceita critérios tarifários que servem para todos. "O bloco tem tarifas específicas para cada caso, sem reconhecer o critério de ad valorização", disse. O Brasil tem interesse em discutir pelo menos 150 das 200 tarifas impostas a produtos pela Europa, lembrou Nassar. "É estranho os americanos colocarem na mesa uma proposta que não deve sair do papel."