Título: Apocalipse now
Autor: Rossi, Paulo
Fonte: Correio Braziliense, 03/03/2010, Opinião, p. 40
A sequência é impressionante: tsunami na Ásia (2004); terremoto no Paquistão e furacão Katrina em Nova Orleans (2005); ciclone em Mianmar e terremoto na província chinesa de Sichuan (2008); tremores no Haiti e no Chile (2010). Catástrofes da natureza transformaram-se em tenebrosa rotina nos últimos anos. Não me recordo, nas mais de quatro décadas da minha existência, de um intervalo tão pequeno entre tão grandes tragédias.
Basta uma rápida consulta ao oráculo Google para descobrir que a quantidade de cataclismas cresce a cada temporada. Há os que apelam para escritos bíblicos, maias e nostradâmicos, apontando tais genocídios naturais como sinais dos tempos. A data cabalística de dezembro de 2012 está aí, avizinhando-se, como já tivemos 1900, 2001 e afins.
Não sou tão apocalíptico assim. Mas não deixo de temer o próximo capítulo. Será o Big One, que cientistas preveem há tempos como o terremoto que devastará a Califórnia? Ou testemunharemos uma série de maremotos provocados pelo derretimento das calotas polares?
Só sei que o homem parece não estar nem aí. Que o diga a cúpula de Copenhague, em dezembro. Os líderes mundiais mostraram preocupação com o aquecimento global, mas nada de prático foi decidido no sentido de mitigar o problema. Ficou para o próximo convescote.
Terremotos nada têm a ver com a camada de ozônio, eu sei. Mas a sequência de abalos também está mudando o planeta. Reportagem de Rodrigo Craveiro na edição de ontem do Correio Braziliense traz entrevista com o geofísico norte-americano Richard Gross, do Laboratório de Jatopropulsão da Nasa, em Pasadena ¿ justamente na Califórnia. Ele avisa que o eixo da Terra foi modificado após o tremor do Chile e os dias estão mais curtos. Coisa mínima, garante Gross, nada que preocupe. Será?
Ao menos recebi uma notícia boa na tarde desta terça-feira. Fraternos amigos, que hospedaram a mim e à minha família na periferia de Santiago em 2006, nada sofreram. Foram quatro dias de nervosa expectativa, sem conseguir contactá-los. Que o belo Chile se recupere o mais rápido possível. E que a mãe natureza não seja tão inclemente conosco.