Título: Lula deve anunciar hoje parte da reforma ministerial
Autor: Maria Lúcia Delgado e Cristiano Romero
Fonte: Valor Econômico, 22/03/2005, Política, p. A36

Para não correr o risco de aumentar a cizânia com os aliados e desarticular ainda mais sua base congressual, o presidente Luiz Inácio da Silva deve optar por anunciar hoje parte - a menos polêmica - da reforma ministerial. Lula convocou os ministros pemedebistas para uma reunião hoje no Palácio do Planalto, da qual participarão também o presidente do Senado, Renan Calheiros, os líderes do PMDB no Senado, Ney Suassuna (PB), e na Câmara, José Borba (PR), e o senador José Sarney (PMDB-AP). Num momento em que o presidente busca uma reaproximação com a ala não-governista do PMDB, o partido decidiu manifestar a Lula o descontentamento com o possível afastamento de Eunício Oliveira do Ministério das Comunicações e seu deslocamento para a a Integração Nacional. Já o afastamento de Amir Lando da Previdência Social e sua substituição pelo senador Romero Jucá (PMDB-RR) permanece como uma das poucas certezas da reforma. O principal incômodo dos pemedebistas é que vários cargos de segundo e terceiro escalões, como as superintendências dos Correios, abrigam filiados do partido. Se Lula optar por entregar as Comunicações ao PP, como exigem seus dirigentes, todos esses cargos hoje nas mãos do PMDB estariam comprometidos. A ambição dos aliados por cargos revela o lado fisiológico da reforma que está por vir. "A bancada não está satisfeita com a pressão para tirar um ministério que já está com o PMDB", relatou o presidente nacional do partido, deputado Michel Temer, após se reunir ontem com Lula e o ministro da Casa Civil, José Dirceu. Em Curitiba, o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti decidiu dar um ultimato ao presidente da República. Disse que ou Lula anuncia hoje o nome de Ciro Nogueira (PP-PI) para as Comunicações ou seu partido vai para a oposição. No início da noite, já de volta a Brasília, Severino foi ao Palácio do Planalto encontrar-se com o presidente. Em São Paulo, Renan Calheiros declarou, por sua vez, que a manutenção de Eunício Oliveira no ministério e na Pasta das Comunicações é prioritária para o PMDB. "Em todos os momentos, deixamos isso absolutamente claro. Nossa prioridade é manter Eunício nas Comunicações", afirmou. Questionado sobre as declarações de Severino, o porta-voz da Presidência, André Singer, declarou: "O presidente não fez nenhum comentário sobre a possível declaração do presidente da Câmara". Singer afirmou também que "ainda não há data para o anúncio da reforma ministerial". Enquanto a briga do PP e do PMDB complica ainda mais a já tão desgastada reforma ministerial, permanece a incógnita em relação à articulação política. A substituição do ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo, é dada como certa. Até o fim de semana, dois nomes estariam no páreo para ocupar o cargo: o deputado João Paulo Cunha (PT-SP) e a senadora Roseana Sarney (PFL-MA). Ontem, surgiu um terceiro nome: o do deputado Sigmaringa Seixas (PT-DF). Contra João Paulo continua pesando o fato de que não abre mão da disputa pelo governo de São Paulo. O Palácio do Planalto estaria disposto a dispensar essa condição, desde que ele se comprometa, segundo interlocutores de Lula, a dedicar-se exclusivamente às relações do Executivo com o Congresso e ao diálogo com os 27 governadores. A avaliação é que isso é função árdua demais para quem pretende articular a candidatura no maior Estado do país. Na noite de ontem, João Paulo foi convocado por Lula para uma nova conversa. Roseana, que está deixando o PFL, enfrenta resistências no PT, mas voltou a ser cogitada ontem. Já Sigmaringa Seixas foi lembrado por sua ligação com Lula e por seu livre trânsito tanto no PT quanto na oposição - ele já foi deputado pelo PSDB. A indicação de João Paulo, no entanto, é apontada como a melhor solução para a Pasta. "O problema de articulação, hoje, está concentrado na Câmara. O cenário lá é de tumulto, que compromete até a estabilidade econômica", explicou uma fonte. Os petistas continuam apostando na permanência de Humberto Costa no Ministério da Saúde, mas a tendência é que ele seja substituído por Ciro Gomes, atualmente na Integração Nacional. Lula teria reagido com irritação aos comentários de oposicionistas de que a intervenção do ministério no Rio de Janeiro seria uma espécie de "enterro com classe" de Costa, mas isso não deve mudar o destino do ministro. (Colaboraram Taciana Collet e Raymundo Costa, com agências noticiosas)