Título: Despoluir o rio Tietê vira sonho cada vez mais distante para os paulistas
Autor: Marcos Coronato
Fonte: Valor Econômico, 22/03/2005, VALOR Especial, p. F2

Se os 18 milhões de habitantes da Grande São Paulo tivessem sorte, começaria este ano um programa de US$ 342 milhões para melhorar a qualidade da água na região. É o Programa de Saneamento Ambiental dos Mananciais do Alto Tietê, planejado pelo governo estadual desde 2000, quando terminou empreendimento semelhante. O dinheiro viria do Banco Mundial e seria investido ao longo de seis anos em tratamento de esgoto, coleta de lixo, drenagem e recuperação de matas degradadas, entre outras medidas. Mas o empréstimo depende de aprovação dos Ministérios do Planejamento e da Fazenda. Há grande chance de que o programa nunca saia do papel e o governo paulista não se atreve a ter expectativas. O cenário reflete a situação preocupante da Bacia do Tietê, a mais importante do Estado, da qual dependem cerca de 25 milhões de pessoas em mais de 40 municípios, incluindo os da Grande São Paulo e Campinas. "Estamos numa batalha permanente", diz o coordenador-executivo do Programa Mananciais, Ricardo Araújo. "Nossos programas, no momento, não têm a pretensão de criar situações ideais, e sim controlar situações de risco". Um exemplo da política de recursos hídricos em andamento no Estado foi o Programa Guarapiranga, que investiu 339 milhões de dólares entre 1995 e 2000. Só conseguiu estabilizar a qualidade da água no reservatório. A meta tímida se explica pela chegada de 440 mil moradores irregulares às margens do reservatório nos últimos 20 anos. Nesse período, a difusão de serviços de esgoto no Estado passou de 46% para 80%. Mas como a população mais pobre e sem saneamento concentrou-se nas proximidades de rios e reservatórios, os mananciais continuaram ameaçados. No trecho do Rio Tietê próximo à Rodovia Ayrton Senna, o nível de fósforo é hoje 160% maior que a média da década passada. A demanda de oxigênio cresceu 70%. Os dados estão no Relatório de Qualidade das Águas Interiores do Estado de São Paulo, apresentado pela Cetesb em 2003. Além da piora da qualidade da água, sua quantidade também preocupa. Em dezembro de 2003, o Sistema Cantareira, ao norte da capital, ficou com 1,5% da capacidade, quando 15% já seria um nível preocupante. "A manutenção da disponibilidade atual de água na Região Metropolitana corre sérios riscos, devido à contínua expansão da ocupação urbana", diz relatório que propõe o Programa Mananciais. A disponibilidade máxima atual de água na Grande São Paulo é de 68 metros cúbicos/segundo. Mas a demanda prevista para 2010, com o crescimento atual, pode chegar a 84 metros cúbicos. O discurso governamental mais que prudente, hoje, contrasta com as promessas feitas nos governos Quércia e Fleury, de que a despoluição do Rio Tietê o tornaria novamente adequado para a pesca e esportes aquáticos, como ocorreu com o Tâmisa, em Londres. "Só esqueceram de um detalhe: a despoluição do Tâmisa começou no final do século 19 e alguns resultados só apareceram agora, mais de 100 anos depois", afirma a chefe do Departamento de Saneamento e Ambiente da Escola de Engenharia Civil da Unicamp, Emília Rutkowski. "Não há o que inventar.