Título: BNDES desembolsará R$ 12,5 bilhões
Autor: Raquel Salgado
Fonte: Valor Econômico, 21/03/2005, Brasil, p. A4

Um setor industrial que ainda demora para reagir é o de bens de capital voltados para a geração e distribuição de energia, como os que produzem turbinas e geradores para usinas hidrelétricas. A Voith Siemens relata que não recebe encomendas há três anos. Sergio Parada, vice-presidente da companhia, diz que a ocupação da capacidade da fábrica é boa, mas essa situação só deve durar até o fim do ano. "A partir de fevereiro do ano que vem, caso não entrem novos projetos, o cenário será preocupante", acredita. Parada espera que a partir do meio deste ano, após o leilão de energia nova que será realizado pelo governo, novos pedidos comecem a ser feitos. No entanto, a expectativa é de que isso só reflita em encomendas de equipamentos no segundo semestre de 2006. A Alstom, outra empresa fabricante de turbinas e geradores, afirma que o processo de encomendas está estacionado desde antes do anúncio do novo marco regulatório para o setor, no ano passado. "Não há novos projetos, estamos esperando o resultado do leilão de energia deste ano", comenta o presidente da Alstom, José Luiz Alquéres. Ainda assim, neste início de 2005 a utilização da capacidade instalada na empresa está 10% superior à de 2004 e beira os 80%. Há também previsão de aumento da quantidade de empregados na produção, com a contratação de cerca de 60 pessoas na fábrica de Taubaté. Mas são ações voltadas ao atendimentos de pedidos antigos. A companhia pretende investir no chamado mercado de recuperação e melhorias. Nesses projetos, não são feitos equipamentos novos, mas sim ajustes em máquinas antigas, de forma a dar um fôlego a mais à produção das indústrias. Carlos Vera, diretor da área de energia da Alstom, afirma que a recuperação custa 30% do valor de uma máquina nova e pode elevar em até 5% a capacidade de geração de uma usina. No entanto, a reforma não substitui a necessidade de aquisição de máquinas novas no longo prazo. (RS) A demanda de bens de capital sob encomenda ou não-seriados está bastante aquecida no âmbito do BNDES, por conta da expectativa de implementação de grandes projetos nos setores de siderurgia, papel e celulose e petroquímica, avaliou o superintendente da área industrial do banco, Carlos Gastaldoni. Na avaliação do executivo, o fato sinaliza crescimento na indústria de insumos básicos, hoje com capacidade instalada próxima do limite. O banco trabalha este ano com a expectativa de desembolsar R$ 25 bilhões para os projetos industriais. Cerca de R$ 12,5 bilhões correspondem a bens de capital. O executivo disse que, diante disso, o banco já criou, e se prepara para operacionalizar nos próximos dias, uma nova linha de crédito destinada a financiar o setor. Trata-se do Programa de Financiamento a Supridores Nacionais de Equipamentos, Materiais e Serviços Vinculados. O objetivo do programa é ampliar a participação de fornecedores brasileiros no mercado de bens de capital não-seriados e materiais, dando-lhes apoio financeiro para ampliar a produção. Gastaldoni destacou que o novo programa não terá um limite orçamentário, ou seja, atenderá à demanda por esses recursos. "Este é um programa que o banco criou para financiar capital de giro para emprestar ao fabricante de equipamento durante a fabricação da máquina. Ele terá crédito para adquirir os insumos para fabricar as máquinas, que vai vender ( à vista) ou arrendar para o contratante do projeto." A idéia, destacou o executivo do BNDES, é tornar mais competitivo o bem de capital fabricado no Brasil e ampliar e fortalecer a rede de fornecedores, concorrendo com os importadores, conforme orientação da política industrial. Ele disse que muitos setores poderão ser beneficiados com o programa, como a indústria têxtil, que possui um parque de fabricantes de equipamentos muito pequeno. As condições de financiamento da nova linha foram enviadas aos agentes financeiros na semana passada. O programa, que tem prazo de vigência até 31 de julho de 2007, vai apoiar a venda à vista de máquinas e equipamentos e também o arrendamento mercantil dos bens. No caso da venda à vista, o empréstimo poderá ser feito diretamente pelo BNDES, mas também poderá ser via agente financeiro. Tudo vai depender do valor da operação. Geralmente, o banco empresta diretamente para operações a partir de R$ 10 milhões por projeto. O custo do empréstimo, segundo ressaltou, será a TJLP mais o spread do banco ( 4,5% ) ou cesta de moedas , no caso das vendas à vista com financiamento direto. A cesta de moedas é mais usada no caso de projeto exportador, como exportação de serviço de engenharia e construção. No caso do apoio indireto, nas vendas à vista, o tomador pagará TJLP mais uma remuneração do banco de 4% e mais o "del credere" da instituição financeira, que será negociada com o cliente. A participação do BNDES nesses casos será de até 50% do bem financiado. O prazo total de pagamento vai de 6 meses a 18 meses, considerados prazos de fabricação do bem. No caso do arrendamento mercantil, o financiamento só será via agente, corrigido por TJLP ou cesta de moedas e remuneração do BNDES de 4% ao ano, além da remuneração do agente. A participação do banco será de até 90% do valor do bem, num prazo de até sete anos. No âmbito dos pequenos e médios fabricantes de máquinas e equipamentos, principalmente de bens-seriados, que apontam mais para investimentos de modernização das companhias, o BNDES atua com o Modermaq. Muito procurado, o programa tem juro fixo de 14,95% ao ano e prazo de pagamento de 60 meses (com carência de três ou seis meses) e financia até 90% do valor do bem a ser adquirido. Em 2005 sua dotação é de R$ 2,5 bilhões. Até 7 de março, o Modermaq tinha 767 operações contratadas, no valor de R$ 356,1 milhões.