Título: Dirceu diz que só oposição quer mudar acordo da dívida
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 21/03/2005, Política, p. A8

O ministro da Casa Civil, José Dirceu, afirmou ontem em Recife que a pressão para a mudança no acordo de federalização das dívidas dos municípios é uma demanda da oposição. O ministro negou irregularidades ou favorecimento político do governo federal em relação à ex-prefeita de São Paulo, Marta Suplicy, ao editar uma medida provisória autorizando o município a contratar recursos do programa Reluz para a iluminação pública, mesmo com a capacidade de investimento esgotada. "Quem tá pedindo mudança na política de dívida é o prefeito de São Paulo, José Serra, o PSDB e PFL. Quando nós falavámos nisso, mudar o índice, alongar a dívida, rever o conceito de receita líquida, diziam que era calote, que o risco Brasil iria subir", afirmou . De acordo com Dirceu, o benefício concedido ao município de São Paulo durante a gestão Marta "não tem impacto" e a repercussão do caso indica simplesmente disputa política. " O Reluz implica na troca das lâmpadas, o que reduz os gastos da prefeitura. Não tem impacto fiscal, por isso é que se tirou do resultado primário. É uma discussão técnica. Não foi feito nada para favorecer a prefeita Marta Suplicy. É para todas as prefeituras do Brasil. Isso é disputa política do PSDB e do PFL com o nosso governo". Para defender Marta, Dirceu argumentou que é pouco crível pensar que o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, iria dar condução política aos assuntos da pasta. "Vocês acham que o Tesouro Nacional, com a linha dura que eles têm e que é necessária ao País, iria fazer uma medida provisória que tivesse impacto fiscal? Não podemos aumentar gastos além do que o País pode tolerar, não podemos nos endividar mais. A medida é positiva porque diminui os gastos da prefeitura", afirmou. Dirceu destacou que a ação do governo federal está servindo para outros municípios. "A acusação de favorecimento político ou é ignorância, e vocès sabem que não é, porque os tucanos são bons em tecnocracia,ou então é má fé, é disputa política", afirmou o ministro. A polêmica sobre o Reluz surgiu em um momento delicado para o partido em São Paulo. Marta Suplicy é pré-candidata ao governo do Estado, concorrendo com o ex-presidente da Câmara, João Paulo Cunha, e com o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (SP), e o Planalto tenta encontrar uma solução de compromisso para evitar a divisão do partido. O noticiário levantou suspeitas de existência de "fogo amigo" contra Marta, para favorecer a pré-candidatura de Mercadante. O domingo, após o encontro que marcou o vigésimo-quinto aniversário do partido, Dirceu tomou café da manhã com um aliado tático dos tucanos, o governador de Pernambuco Jarbas Vasconcelos, filiado ao PMDB, mas opositor do governo federal. O encontro durou duas horas e ambos evitaram comentá-lo com a imprensa.Dirceu afirmou que respeita a posição oposicionista do governador e evitou falar sobre a reforma ministerial. Em seguida, Dirceu almoçou com o prefeito do Recife, João Paulo (PT), diretamente interessado na permanência do ministro da Saúde no cargo.(P.E)