Título: A força do time reserva
Autor: Tahan, Lilian; Medeirs, Luísa
Fonte: Correio Braziliense, 03/03/2010, Política no DF, p. 50

Se a sessão de amanhã tiver quorum mínimo de 13 distritais, apenas os votos dos suplentes são suficientes para abrir o processo de impeachment do governador afastado. E nenhum está disposto a poupar Arruda

Sessão extraordinária na manhã de ontem, quando sete suplentes assumiram funções na Câmara Legislativa

Os oito suplentes de distritais convocados pela Justiça para julgar o governador a preso José Roberto Arruda serão unânimes em favor da abertura de impeachment contra o chefe do Executivo afastado. A inusitada participação no processo que definirá o futuro de José Roberto Arruda é tratada pelos oito deputados como uma oportunidade de ouro para marcar posição meses antes das eleições. Por isso, os substitutos planejam como estratégia política serem porta-vozes do clamor social pela apuração das denúncias de corrupção envolvendo integrantes do Legislativo e do Executivo. Segundo o Correio apurou, todos os suplentes confirmarão o relatório de Chico Leite (PT) lido ontem em plenário. Também ontem, sete dos substitutos tomaram posse.

Juntos, os deputados-reservas equivalem a um terço da Câmara Legislativa. Os votos dos oito suplentes seriam suficientes para determinar a abertura do impeachment contra Arruda em caso de quorum exigido nas votações por maioria simples, quando é necessária a presença de 13 distritais. Nesse caso, basta a opinião de sete deputados para haver placar. Mas, nos bastidores, a expectativa é de uma votação bem mais concorrida, com a presença de, pelo menos, 19 parlamentares com tendência favorável ao andamento da ação que pode culminar no afastamento definitivo de Arruda.

A participação dos suplentes na votação de amanhã será marcada por uma perspectiva em comum: as eleições de outubro. Com exceção de Wigberto Tartuce, o Vigão, que nega interesse em ser candidato, todos os outros devem concorrer a mandato neste ano. Um deles é Roberto Lucena (PR), irmão de Gilberto Lucena, dono da Linknet, uma das empresas investigadas na Operação Caixa de Pandora. Cirurgião vascular do Hospital de Base, o suplente já fez duas tentativas nas urnas e se prepara para a terceira. O trampolim pode ser justamente a notoriedade com a participação no julgamento. ¿Na quinta-feira haverá dois tipos de julgamento. O governador será julgado por nós (suplentes) e nós seremos julgados pela sociedade. Por isso, devemos ser imparciais e corretos¿, ensaiou.

Poucas amarras Sem tantas amarras políticas como os conchavos e compromissos tão comuns no processo legislativo, os suplentes se sentem à vontade para fazer um discurso duro. Em alguns casos criticando os colegas titulares. ¿Minha postura é de delegado. Sempre agi dentro da lei. Se Brasília está esse caos é culpa dos distritais, que não agiram com imparcialidade e aceitaram ingerência¿, asseverou Mário Gomes Nóbrega. Ele vai concorrer a uma vaga de deputado distrital pelo PMN, partido atualmente presidido por Jaqueline Roriz.

E os suplentes, mesmo aqueles que mantiveram algum tipo de relacionamento com o governador Arruda, querem deixar bem claro que amigos, amigos, julgamento à parte. ¿Vou tratar o processo com cuidado e responsabilidade, sem analisar as questões com o viés de amizade. Não estamos só definindo o futuro de uma pessoa e sim o futuro de uma cidade e de sua autonomia¿, disse Ivelise Longhi (PMDB). Apesar de ter ocupado postos importantes no governo de Joaquim Roriz, ela se aproximou de Arruda tendo sido administradora de Brasília.

Sete dos oito suplentes chegaram ontem cedo na Câmara Legislativa para tomar posse, embora a sessão extraordinária estivesse marcada para as 10h. Os novatos não estavam acompanhados de assessores. Sozinhos, foram conduzidos à presidência da Casa onde receberam cafezinho e uma pasta com os pareceres do processo de impeachment de Arruda e com o ato da Mesa Diretora que cria regras para a atuação deles durante a estadia no Legislativo local.

O ato garante assessoramento técnico e administrativo aos suplentes apenas nos dias de sessão específica, ocasião em que a sala de reuniões da presidência e o auditório da Casa ficaram disponíveis para eles. Pela regra, o salário dos novatos será de 1/30 por dia de atividade, ou seja, R$ 413 por sessão. Eles não têm direito a 13º e 14º salários nem a verba indenizatória. Seis distritais abriram mão do pagamento. Por enquanto, Mário Gomes Nóbrega foi o único que fez questão de receber a quantia. Raad Massouh não pôde tomar posse ontem, pois estava viajando. Ele deve assumir o cargo ainda hoje.

Suspeição negada A 7ª Vara de Fazenda Pública do Distrito Federal indeferiu pedido de suspeição feito pelo Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT) contra Roberto Lucena, suplente do deputado Rôney Nemer (PMDB). O MPDFT alega que Roberto Lucena é irmão de um dos sócios da empresa Linknet, supostamente envolvida no esquema de propina denunciado pela Operação Caixa de Pandora, da Polícia Federal. O pedido de suspeição contra Roberto Lucena foi feito na mesma ação que pediu o afastamento dos oito distritais citados no inquérito que apura as denúncias de todo e qualquer ato referente ao processo de impeachment de Arruda.

Segurança para a Copa

Guilherme Goulart

Redução dos índices de violência, intensificação do policiamento e preparação para a Copa do Mundo de 2014. O delegado da Polícia Civil João Monteiro Neto assumiu ontem o cargo de secretário de Segurança Pública do Distrito Federal disposto a impedir a escalada dos crimes considerados mais graves e, assim, adequar Brasília a um dos eventos mais importantes no mundo esportivo. ¿Um dos nossos desafios será trabalhar com todas as corporações para reduzir os atuais índices de homicídios, roubos de latrocínios¿, explicou, durante cerimônia realizada na Secretaria de Segurança Pública do DF (SSP-DF).

O nome de João Monteiro saiu hoje publicado no Diário Oficial do Distrito Federal. Ele assumiu o cargo no lugar do também delegado Valmir Lemos, da Polícia Federal, à frente da pasta desde 30 de julho de 2008. Lemos deixou a função para fazer um curso superior na Academia Nacional de Polícia (ANP), obrigatório para a ascensão na carreira. No discurso de despedida, destacou investimentos de R$ 54 milhões em equipamentos de segurança pública e obras. Alertou ainda para a necessidade de contratação dos 380 policiais civis aprovados em concurso público, mas não nomeados.

O novo secretário afirmou que pretende contar com o apoio do governador interino do DF, Wilson Lima (PR), para a contratação dos agentes civis. Também revelou que dará atenção ao combate ao tráfico de drogas, em especial ao avanço do crack na área central de Brasília, em Ceilândia e em Taguatinga. Monteiro citou ainda o caso Villela(1), sem solução há mais de seis meses. ¿Acreditamos na capacidade do delegado Luiz Julião Ribeiro (titular da Coordenação de Investigação de Crimes Contra a Vida). Mas devemos ter paciência, pois se trata de crime complexo¿, avaliou.

O secretário-adjunto da SSP-DF será o coronel da PM Adauto Gama de Oliveira Filho. Ele assume a função anteriormente exercida pelo próprio João Monteiro. O novo secretário de Segurança Pública está na Polícia Civil do DF desde 1990.

1 - Triplo homicídio Na noite de 28 de agosto de 2009, o advogado e ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral José Guilherme Villela, 73 anos; a mulher dele, Maria Carvalho Villela, 69; e a principal empregada do casal, Francisca Nascimento da Silva, 58, foram assassinados a facadas. O crime ocorreu no apartamento dos Villela, no Bloco C da 113 Sul. Até hoje, os criminosos não foram encontrados. ]

O dia de Wilson O governador interino do Distrito Federal, Wilson Lima (PR), passou a terça-feira ouvindo reivindicações de servidores públicos e representantes de sindicatos e associações. O movimento intenso de políticos se repetiu. Pelo segundo dia, o deputado distrital Rôney Nemer (PMDB) ¿ um dos citados no inquérito da Operação Caixa de Pandora ¿ visitou o governador. Entrou e saiu por uma porta reservada. Outros dois investigados na Operação, os deputados Aylton Gomes e Benedito Domingos também passaram pela sala de Wilson.