Título: Juro afasta as empresas dos empréstimos
Autor: Janes Rocha
Fonte: Valor Econômico, 21/03/2005, Finanças, p. C1
Os balanços de 2004 dos grandes bancos mostraram crescimento vigoroso do crédito, mas quando se olha a distribuição dos empréstimos entre pessoas físicas e jurídicas, fica claro um desequilíbrio. Enquanto para pessoas físicas os índices de crescimento são de no mínimo 20%, chegando a 43%, para as empresas o crédito aumentou pouco e até caiu significativamente em instituições como Bradesco e Real ABN AMRO (-6,9% e -20%, respectivamente). No Itaú, o crescimento foi de apenas 9,6%, no HSBC de 0,57% e no Unibanco, 10,3%. Só no Banco do Brasil o volume de crédito aumentou tanto quanto as outras linhas (18,9%). "É uma armadilha, você acaba dificultando o investimento no país ao mesmo tempo em que estimula o consumo", critica Claudio Luiz Miquelin, diretor de crédito do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), ao mencionar o alto custo do dinheiro para as empresas. Miquelin é um porta-voz das críticas dos empresários e suas entidades de classe quanto ao elevado custo do dinheiro e a dificuldade de acesso dos pequenos ao crédito bancário. Mas, apesar das queixas, as micro, pequenas e médias ganharam algum espaço nos grandes bancos (veja tabela ao lado). Os volumes de empréstimos aumentaram de 30% a 70%, embora a participação desse segmento não seja do mesmo tamanho das grandes empresas e pessoas físicas. E mesmo esse movimento já começa a dar sinais de recuo. "A demanda das pequenas empresas continua grande, mas com a alta dos juros, parou de crescer", disse José Roberto Haym, diretor executivo do Unibanco, um dos bancos que mais ampliaram o número de operações com pequenas e médias empresas. Bem capitalizadas pelo bom desempenho das vendas - tanto das exportações quanto do mercado doméstico - no ano passado, as grandes empresas fugiram do alto custo dos empréstimos e partiram para alternativas mais baratas, como a emissão de títulos e fundos de recebíveis no mercado de capitais. Enquanto a carteira de empréstimos diretos do Bradesco caiu 6,9%, a de mercado de capitais está em alta, com mais de R$ 10 bilhões em emissões de papéis em análise para lançamento, diz Decio Tenerello, vice-presidente executivo do banco. "Houve uma redução na demanda por empréstimos diretos, as grandes empresas buscaram outras alternativas", disse o executivo. "As grandes empresas vinham de um período difícil anterior (2002 e 2003), com as reestruturações de dívidas. Por outro lado, houve um excesso de liquidez em linhas de financiamento internacionais", explicou Paulo Maia, diretor executivo do HSBC. Aquelas que têm acesso a essas linhas internacionais foram beneficiadas pelo custo - "Estava mais baixo que para países com risco menor que o Brasil", frisou Maia. Outro fator que segurou a expansão das carteiras de crédito para empresas foi o dólar em baixa, disse Antonio Francisco de Lima Neto, vice-presidente em exercício de Negócios Internacionais e Atacado do Banco do Brasil. São atreladas à moeda americana grande parte das operações de crédito das maiores corporações brasileiras e estrangeiras sediadas no país - boa parte delas, exportadoras - e com a queda do dólar, o volume financeiro baixa automaticamente. Já as pequenas empresas não têm acesso às alternativas de mercado de capitais e linhas externas. Resta pagar o preço dos empréstimos que, segundo Claudio Luiz Miquelin, do Ciesp, ultrapassam os 200% da variação da taxa interfinanceira, o CDI. Desde que o juro básico definido pelo Banco Central (Selic), começou a aumentar, em setembro de 2004, as taxas médias para financiamento de capital de giro pularam de 30% ao ano para 36% a 38% ao ano - custo final, já embutida a variação da taxa interfinanceira, o CDI - calcula o executivo José Roberto Salgado, vice-presidente do Banco Rural. Os bancos trabalham com uma expectativa de crescimento do crédito para 2005, embora a posição seja mais de cautela já que a Selic continua subindo. Paulo Maia, do HSBC, acha que a concorrência entre os bancos deve continuar derrubando os spreads.