Título: Blocos "escondem" a melhor oferta
Autor: Assis Moreira
Fonte: Valor Econômico, 23/03/2005, Brasil, p. A5

O que se falou menos nas salas de reuniões foi o mais comentado fora delas: qual é, afinal, a melhor oferta de cada bloco em bens (industriais e agrícolas), serviços, compras governamentais e investimentos? "Não quero definir qual a melhor oferta com a imprensa, se tem um parceiro que se recusa a dizer qual é a sua"´, reagiu Karl Falkenberg, indicando que a "flexibilidade" depende também da resposta do Mercosul. A União Européia (UE) quer primeiro ver a oferta do Mercosul para então responder e dizer qual é a sua melhor proposta de acesso ao mercado europeu. Ele sublinhou que, ao contrário do que dizem os brasileiros, o Mercosul também fez ofertas verbais que vão bem além do que está no papel. De seu lado, negociadores do Mercosul acham que a UE tem pressa porque as ofertas, na situação atual, seriam mais vantajosas para os europeus. Falkenberg admite que o risco de desequilíbrio existe numa ou outra direção, ainda mais que a percepção em cada bloco é que a sua respectiva oferta é mais vantajosa para o outro. "Meus líderes políticos dizem que a negociação deve começar da melhor oferta, e tentamos fazer isso. Mas os coordenadores do Mercosul não querem fazer isso", acusou Falkenberg. A UE insiste que até sua proposta agrícola, vinda de um pais defensivo nesse setor, é melhor do que a do Mercosul. "A percepção na UE é que há obstáculos substanciais nas ofertas do Mercosul, que precisam ser melhoradas em todas as áreas." Deu como exemplo a oferta em bens industriais, que cobre 100% das trocas bilaterais, enquanto a do Mercosul cobre entre 77% a 87%, dependendo da oferta. A Europa elimina 60% das tarifas logo após a assinatura do acordo, e só 7% após dez anos. Falkenberg reclama que o Mercosul fez o contrário: elimina 10% no inicio e 60% após dez anos. Na agricultura, o parceiro competitivo é o Mercosul, e a UE recusa tratamento especial e diferenciado para o bloco do Cone Sul. "Até a oferta agrícola do Mercosul é menos importante que a nossa", insistiu. (AM)