Título: Net conclui processo de reestruturação da dívida
Autor: Talita Moreira
Fonte: Valor Econômico, 23/03/2005, Empresas &, p. B4

A Net, operadora de TV por assinatura, concluiu ontem a reestruturação de sua dívida financeira, cujo pagamento estava suspenso desde o final de 2002. A mexicana Telmex participou de uma oferta de ações da companhia e passará a integrar o bloco de controle da Net, que permanece nas mãos das Organizações Globo. Para isso, os grupos brasileiro e mexicano subscreveram R$ 318 milhões de um aumento de capital de R$ 638,8 milhões que está sendo conduzido pela Net e deverá ser concluído em abril. O restante das ações será oferecido aos investidores de mercado. A capitalização reduzirá a dívida bruta da Net de quase R$ 1,6 bilhão para R$ 680 milhões. O endividamento líquido deverá ficar em torno de R$ 480 milhões. O presidente da Net, Francisco Valim, afirma que a companhia efetuou ontem o pagamento de R$ 590 milhões em dívidas. Foram quitados uma parcela do principal mais todos os juros em atraso. O restante será amortizado até 2009 ou 2010, com prazo de carência ao longo de 2005. O pagamento foi feito com recursos levantados pelos acionistas controladores na capitalização, mais um empréstimo-ponte de R$ 200 milhões e R$ 72 milhões do caixa da empresa. "A reestruturação nos dá tranqüilidade para não ficar olhando no retrovisor a todo momento", diz Valim. "Os credores tinham sempre o poder de decretar a falência da companhia." Para analistas, o saneamento da dívida abre boas perspectivas para a empresa implementar seus projetos de investimentos e melhorar seus indicadores financeiros. Embora já viesse colhendo bons resultados operacionais, as demonstrações financeiras da companhia eram penalizadas com o peso excessivo da dívida. Na nova configuração, 51% das ações ordinárias da Net ficarão com a GB Empreendimentos, holding compartilhada pela Globo (51%) e Telmex (49%). Os grupos brasileiro e mexicano também terão participação direta no capital. BNDES, Bradesco, RBS e Microsoft reduziram suas participações nos últimos dois anos e não fazem mais parte do bloco controlador. O investimento da Telmex é limitado pela chamada "lei do cabo", que restringe a participação de estrangeiros nas empresas brasileiras de TV a cabo. O grupo mexicano já sinalizou o interesse em adquirir o controle da Net caso essa regra seja derrubada. A gestão da operadora de TV por assinatura ficará com a Globo. O grupo brasileiro indicará sete dos 11 integrantes do conselho de administração da empresa. A Telmex terá direito a quatro assentos. A divisão está prevista no acordo de acionistas assinado nesta semana entre as partes. Valim afirma que os sócios estão analisando as sinergias entre os negócios da Net e da Telmex, que no Brasil controla a Embratel e a antiga AT&T Latin America. Há expectativa de que seja firmado um acordo comercial entre a Embratel e a Net para oferecer serviços de telefonia sobre protocolo de internet (voz sobre IP). "A Telmex vai aportar uma tecnologia importante de voz sobre IP", diz o advogado Francisco Araújo de Lima, consultor da Globo para assuntos regulatórios. O grupo mexicano informou que não comentaria o assunto. Valim diz que lançar um serviço de telefonia usando a infra-estrutura da Net está nos planos para este ano. Segundo ele, a empresa deverá investir R$ 150 milhões em 2005, ante R$ 120 milhões no ano passado. "O segmento de internet em banda larga é onde está o maior potencial para a empresa." Em setembro de 2004 (dado mais recente), a empresa tinha 1,4 milhão de assinantes de TV. A base de clientes de internet em alta velocidade somava 41,2 mil. O acordo de acionistas firmado entre a Globo e a Telmex determina que o grupo mexicano não atuará no mercado de TV aberta no Brasil, na produção de conteúdo televisivo ou em plataforma de TV paga que não seja a Net. Também ficou estabelecido que a Net não deverá fazer acordos com os grupos Televisa, do México, ou Cisneros, da Venezuela - concorrentes dos sócios da operadora.