Título: Esquema desde a gestão Roriz
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Fonte: Correio Braziliense, 27/01/2010, Cidades, p. 27

Caixa de Pandora

De acordo com investigadores da PF, Pedro Passos teria enviado carta a Arruda, na qual relata o recebimento de propina na época do governo anterior. Autor do texto pede nova mesada e sugere até a quantia que gostaria de ganhar

Uma carta apreendida pela Polícia Federal na casa do ex-chefe de gabinete do governador José Roberto Arruda (sem partido) e conselheiro afastado do Tribunal de Contas do Distrito Federal, Domingos Lamoglia, levanta suspeitas de que o pagamento de propina era uma prática comum desde o governo de Joaquim Roriz. A correspondência é atribuída ao ex-deputado distrital Pedro Passos, como revelou reportagem da revista Época. Em duas laudas, Passos dá notícias sobre sua situação financeira, descreve o esquema que mantinha durante a gestão de Roriz e pede mesada ao governador Arruda.

A carta é datilografada e estava assinada com as iniciais P.P., que, segundo os investigadores da Caixa de Pandora, identificam Pedro Passos. Em 2007, ele renunciou ao mandato na Câmara Legislativa para evitar o processo de quebra de decoro parlamentar por ser acusado de atuar num esquema de pagamento de propina investigado na Operação Navalha da Polícia Federal. Caso seja comprovada a veracidade da autoria no curso das apurações, não será a primeira vez que o ex-distrital usa do expediente da correspondência para cobrar apoio financeiro de aliados políticos no poder.

Durante a administração Roriz, Passos teria escrito um desabafo de 10 páginas exigindo mais consideração do ex-governador. Na ocasião, o ex-distrital, segundo uma fonte que teve acesso à carta, teria reclamado porque estaria sendo atrapalhado em seus negócios nos condomínios. Passos chegou, de acordo com o relato de seu interlocutor, a dizer que o trânsito que tinha no governo de oposição de Cristovam Buarque era mais fácil que o espaço na administração do aliado Roriz.

Dívidas

Na carta apreendida pela PF durante a Operação Caixa de Pandora, P.P. faz menção à administração de Roriz ao sugerir para Arruda que reprise sua situação anterior, enumerada em cinco itens: Detran (¿+ ou ¿ 150 mês¿), Valério (¿50 mês¿), Estrutura da CLDF, maior espaço no GDF e diversos outros negócios recorrentes de outros mandatos. Em seguida, o ex-distrital teria anunciado que ¿as cinco situações anteriores já não existem mais¿ para então desfiar percalços financeiros por que passaria: ¿Reduzi drasticamente despesas e me adaptei ao momento atual. Mesmo assim, remanescem dívidas, criadas na expectativa de que a situação anterior fosse mantida¿.

Por meio da correspondência, Passos supostamente pede a Arruda uma ajuda financeira para evitar que tenha de vender seus bens de família. Quer R$ 1.500 agora e R$ 100 por mês, valores que, de acordo com a reportagem da Época são na verdade cifras milionárias: R$ 1,5 milhão e R$ 100 mil mensais. P.P. diz que seu destinatário não se arrependerá da ajuda e que conta com ¿boa vontade, compreensão, generosidade e desprendimento¿ de Arruda. O ex-distrital se despede com a promessa de se tornar eternamente grato ao governador Arruda.

O Correio tentou fazer contato com o ex-distrital Pedro Passos e com o ex-chefe de gabinete de Arruda Domingos Lamoglia, mas, até o fechamento da edição, não conseguiu localizá-los.

Garantia de apoio

Deflagrada em 27 de novembro, a Operação Caixa de Pandora investiga um suposto esquema de corrupção envolvendo integrantes do governo, distritais e empresas contratadas pelo GDF. Segundo as investigações conduzidas pelo Ministério Público e Polícia Federal, deputados da base de apoio ao governador José Roberto Arruda recebiam mesada paga com dinheiro extorquido de empresários para votarem de acordo com os interesses do Executivo.

Reunião de suplentes na Câmara

Mara Puljiz Apesar das dúvidas que pairam em torno da constitucionalidade em relação à convocação de oito suplentes dos distritais envolvidos em suposto esquema de corrupção do Executivo local para a base aliada, a Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) deve dar prosseguimento à análise dos processos de impeachment do governador José Roberto Arruda (sem partido). Com o ingresso dos deputados, serão 32 ao todo na Casa. Segundo o presidente em exercício da Câmara, Cabo Patrício (PT), os termos de posse já estão prontos, faltando apenas que a Mesa Diretora baixe o ato de convocação. Hoje, às 10h, está marcada uma reunião na sala da presidência com todos os distritais que devem participar dos processos de investigação das denúncias reveladas pela Operação Caixa de Pandora.

Com os documentos formalizados, os oito suplentes podem tomar posse a qualquer momento. Segundo Patrício, a convocação dos substitutos cumpre as determinações previstas na Lei Orgânica. ¿Não vejo nenhuma anormalidade. Se os deputados tiverem de entrar em atividade gradativamente, também não haverá problema. O importante é que os trabalhos serão realizados de maneira isenta, o que permitirá o amplo direito de defesa dos acusados¿, garantiu. As atividades no Plenário deverão ser retomadas hoje, às 15h.

Depoimento

De acordo com Cabo Patrício, até agora está mantido o depoimento do ex-secretário de Relações Institucionais do GDF Durval Barbosa. O presidente da Câmara enviou ofício na última sexta-feira à Polícia Federal pedindo a confirmando da presença do autor das denúncias que geraram a crise no alto escalão do governo. A resposta foi positiva. O depoimento está marcado para as 10h de amanhã na Superintendência da PF, no Setor Policial Sul.

A expectativa é que Durval dê detalhes das denúncias e revele novos esquemas de corrupção em gestões passadas. Os integrantes da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Codeplan devem acompanhar a tomada de depoimento e fazer perguntas a Durval. Os deputados querem saber o teor dos 22 depoimentos que o ex-delegado da Polícia Civil e ex-presidente da Codeplan prestou no Ministério Público.

O parlamentar que quiser acompanhar o depoimento deve fazer o credenciamento até as 14h de hoje pela CPI, mas o pedido será enviado à PF, que autorizará ou não a participação do distrital. Todas as perguntas e as respostas serão gravadas pela Câmara.

Também é aguardado para o início desta semana o desfecho sobre a situação do presidente afastado da Câmara Leonardo Prudente (sem partido). Ele deve renunciar ao cargo de comando entre hoje e amanhã. Dois integrantes da base aliada se colocaram como candidatos à chefia do Legislativo: Eliana Pedrosa (DEM) e Wilson Lima (PR).

Protesto com ovos

Manifestantes do Movimento Fora Arruda fizeram ontem protesto à tarde em frente à casa da deputada distrital Eliana Pedrosa (DEM), no Lago Sul. Um grupo de 15 pessoas jogou ovos no imóvel. Os manifestantes têm realizado atos em frente à residência de parlamentares envolvidos no escândalo deflagrado com a Operação Caixa de Pandora ¿ mas a deputada não está entre os denunciados. Segundo o estudante da UnB Gabriel Colela, 20 anos, Eliana Pedrosa foi escolhida por participar da cúpula do Democratas, ser da base de apoio do governador e por ter tentado ¿sabotar a CPI na semana passada¿.

A Polícia Militar esteve no local, mas não houve confronto. O último protesto dos estudantes ocorreu na quinta-feira. Eles colocaram esterco na rampa de acesso à Câmara Legislativa. Tentaram entrar no prédio, mas foram barrados com truculência por policiais militares. Uma jovem foi jogada ao chão e fraturou o braço. Os manifestantes protocolaram denúncia contra o militar que agrediu a garota na Corregedoria da PMDF.