Título: Colégio de líderes rebela-se contra atuação de Severino
Autor: Maria Lúcia Delgado e Raymundo Costa
Fonte: Valor Econômico, 28/03/2005, Política, p. A11

Preocupados com o iminente agravamento de uma crise de imagem da Câmara - provocada pelos excessos verbais do presidente da Casa, Severino Cavalcanti, e o estilo com que conduz os trabalhos -, os líderes do governo e da oposição pretendem forçá-lo a tomar decisões mais democráticas sobre a pauta de votações e nomeações de relator, levando em consideração a vontade dos partidos. Em reunião que deve ser realizada amanhã, os deputados vão exigir que Severino e seu grupo de aliados diretos - todos do chamado baixo clero - consultem semanalmente o colégio de líderes. Como já fizeram essas ponderações a ele antes e a rotina de trabalho do presidente não mudou, os líderes já admitem que poderão iniciar uma onda de obstruções no plenário para que Severino entenda o recado. Cabe ao líder, na hora de encaminhar uma votação, decidir o comportamento do partido. Estar em obstrução significa, na linguagem parlamentar, ausentar-se do plenário, ou seja, impedir quórum para que as votações prossigam. A avaliação dos líderes é quase generalizada: Severino Cavalcanti parece não ter a dimensão do impacto negativo do fisiologismo sobre a opinião pública. "Há uma preocupação de todos os líderes com a credibilidade da instituição. Há declarações dele (Severino) que são um desastre, polêmicas, e que podem estar aprofundando a distância entre a Câmara e a população. É um desgaste muito forte para todos os deputados, porque a população acha que, o que ele diz, é a Câmara que diz", afirmou o líder do PSB, Renato Casagrande (ES). "Do jeito que vai a coisa, qualquer dia vamos apanhar na rua", teme o deputado Ricarte de Freitas (PTB-MT). Ex-integrante da mesa diretora da Câmara na gestão passada, o deputado Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) acha que só um colégio de líderes forte pode levar à boa condução dos trabalhos da Casa. É ele, também, um dos poucos a lembrar que os deputados colhem o que plantaram: "Severino foi eleito. Agora, a Câmara vai ter que engolir", pondera. O líder do PL, Sando Mabel (GO), aconselha o presidente da Casa a não tentar decidir tudo sozinho. "O colégio de líderes sempre funcionou e auxiliou todos os presidentes. No começo de gestão, o presidente pode achar que pode decidir sozinho, mas isso não acontece na realidade", afirmou. Mabel recorda que o presidente da Câmara prometeu realizar uma reunião, toda quinta-feira, para decidir a pauta da semana seguinte. Virou discurso vazio. Severino convocou todos os parlamentares, à revelia dos líderes, para votar dois temas extremamente polêmicos nesta semana: a Medida Provisória 232 e a reforma tributária. Não há consenso para nenhuma das duas votações. "Esse comportamento preocupa, porque os líderes querem entender o que vai para a pauta, como vai, e definir estratégias de votação", acrescentou Mabel. As ponderações não são feitas apenas pelos deputados da base. Na semana passada, em plenário, o líder do PFL, Rodrigo Maia (RJ), anunciou que seu partido estava em obstrução. O pefelista disse que não tinha sido consultado sobre a pauta e que Severino descumpriu o acordo de colocar na ordem do dia a votação da urgência para o Estatuto do Desarmamento. "Severino e seu partido devem entender que não podem usar o cargo desta forma, para ameaçar o governo. Se ele reluta em atender aos líderes, vamos começar a era da obstrução. Não precisamos votar nem discutir uma pauta sobre a qual nada decidimos", sentencia um líder partidário.