Título: Sem medo dos espertalhões
Autor: Couto, Rodrigo
Fonte: Correio Braziliense, 22/03/2010, Brasil, p. 8

GRIPE SUÍNA

Ministro da Saúde afirma não temer onda de oportunistas procurando a vacina contra a doença em função do fato de o governo não exigir um atestado para doentes crônicos e gestantes

A não exigência de atestado de saúde aos doentes crônicos e às gestantes para receberem a vacina contra a influenza A (H1N1), popularmente conhecida como gripe suína, pode abrir uma brecha às pessoas que não estão nessas condições a se beneficiarem com a imunização. A hipótese, levantada por infectologistas, não é uma preocupação do Ministério da Saúde, que espera bom senso dos brasileiros. Depois de amplos debates, optamos por não burocratizar o processo. Fizemos isso com a intenção de facilitar a vida desse grupo de risco. Confiamos na maturidade dos cidadãos, afirma o ministro da Saúde, José Gomes Temporão.

Contrário à estratégia do Ministério da Saúde que excluiu as crianças e adolescentes em idade escolar da campanha de vacinação contra a gripe A, Julival Ribeiro, presidente da Sociedade de Infectologia do Distrito Federal, diz que a tentativa de pessoas, não incluídas no calendário, de buscarem a vacina poderia ter sido evitada se todos tivessem acesso à imunização. É claro que alguns cidadãos fora do grupo de risco vão procurar os postos de saúde para receber a vacina. E é até natural, pois todos querem se vacinar, observa.

A segunda etapa da vacinação, que ocorre hoje em 36 mil salas de imunização de todo o país, tem a meta de chegar a aproximadamente 18 milhões de pessoas cerca de 80% dos 20,3 milhões de brasileiros incluídos na faixa etária de seis meses a dois anos, gestantes e doentes crônicos até 2 de abril. Se o ministério tivesse optado pela exigência de atestado, poderia haver uma redução da cobertura vacinal, analisa Edimilson Migowski, infectologista da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Pode ocorrer de pessoas fora do grupo de risco procurarem os postos, mas isso não vai ser problema. Os brasileiros têm que ter consciência para não prejudicarem quem realmente necessita de imunização, acrescenta.

Ansiosa pela imunização, a autônoma Geralda Maria da Silveira não poderá se vacinar nas próximas duas semanas. Apesar de tomar remédios para pressão alta, ela tem 62 anos, o que a inclui na fase exclusiva dos idosos. Por isso, a moradora de Ceilândia deve comparecer a um posto de saúde somente na quarta etapa de imunização (de 24 de abril a 7 de maio), período em que serão vacinados todos os cidadãos acima dos 60. A vacina é para proteger os que estão dentro do grupo de risco. Confio e acho que ninguém vai ter coragem de procurar um posto e receber vacina sem necessidade. Além de ser errado, isso pode prejudicar pessoas como eu, que realmente necessita da dose.

Eventualidades

Amparado no exemplo de outros países, como o Canadá, o Brasil optou por não cobrar atestado médico para a aplicação da vacina contra a gripe suína. Depois de reuniões com alguns países das Américas, decidimos não exigir nenhum documento para a imunização. O Canadá, por exemplo, que tem um sistema de saúde capilarizado, começou cobrando atestado para a vacina contra a gripe A, mas depois decidiu revogar a decisão, explica o diretor de Vigilância Epidemiológica do Ministério da Saúde, Eduardo Hage.

Já prevendo que algumas pessoas fora do grupo indicado compareçam aos postos e ciente das imprecisões nos cálculos do número de gestantes e doentes crônicos, José Gomes Temporão diz que o ministério tem uma reserva para atender essas e outras eventualidades. Não vai faltar vacina. Nos preparamos para esses casos e temos um estoque.

Até 21 de maio, data do término da campanha de vacinação contra a gripe suína, o Ministério da Saúde espera imunizar pelo menos 91 milhões de brasileiros. O governo federal adquiriu 113 milhões de doses. Tira-dúvidas

O que é influenza A (H1N1)? É uma doença respiratória aguda, causada pelo vírus pandêmico (H1N1) 2009. Esse novo subtipo do vírus influenza, do mesmo modo que os demais, é transmitido de pessoa a pessoa, principalmente por meio da tosse ou do espirro e do contato com secreções respiratórias de pessoas infectadas.

Esse vírus é mais violento e mata mais do que o da gripe comum? O comportamento da nova gripe se assemelha ao da gripe comum. Ou seja, não se apresentou mais violento ou mortal na população em geral. Para ambas as gripes, pessoas com doenças crônicas, gestantes e crianças menores de dois anos são mais vulneráveis. Mas, quando consideramos a população jovem previamente saudável, esse vírus pandêmico tem um maior potencial de causar doença grave. Mas ainda são necessários estudos mais aprofundados, que estão sendo realizados em todo o mundo, para esclarecer o comportamento do novo vírus.

Se o processo de desenvolvimento de uma vacina costuma ser longo, como foi possível produzir a vacina pandêmica tão rapidamente? Os laboratórios já tinham experiência com a produção da vacina contra os vírus de influenza sazonal (administrada anualmente nos idosos no Brasil), e investiram em tecnologia para preparar a vacina preventiva do vírus pandêmico.

A vacina usada no Brasil é segura e efetiva? Ela já está em uso em outros países e não tem sido observada uma relação entre o seu uso e a ocorrência de eventos adversos graves. A vacina registra uma efetividade média maior que 95%. A resposta máxima de anticorpos é observada entre o 14º e o 21º dia após a vacinação.

Quais as evidências que levaram o Ministério da Saúde a selecionar os grupos prioritários? Os trabalhadores da saúde envolvidos na resposta à pandemia necessitam ser protegidos para garantir o funcionamento dos serviços de saúde. Entre as mulheres em idade fértil que apresentaram síndrome respiratória aguda grave (SRAG) por influenza pandêmica, 22% eram gestantes. Os indígenas são considerados grupo prioritário, pela maior vulnerabilidade a infecções e pela maior dificuldade de acesso às unidades hospitalares. As crianças menores de dois anos apresentaram a maior taxa de incidência de SRAG por influenza pandêmica (H1N1) 2009. Os jovens entre 20 e 29 anos foram o grupo etário mais acometido, representando 24% do total de casos. Os adultos entre 30 e 39 anos representaram 22% do total dos óbitos.

Não há risco para a gestante e para o feto? Segundo a OMS e de acordo com os padrões de segurança declarados pelos laboratórios produtores, a vacina é segura para a gestante. Não houve ocorrência de aborto nos países em que foi administrada.

A vacinação da grávida é feita em qualquer idade da gestação? Sim. Ela é indicada para qualquer idade gestacional.

Por que as crianças com menos de seis meses não estão incluídas? A vacina atualmente disponível não é recomendada para o grupo de menores de seis meses em razão de não haver estudos que demonstrem a qualidade da resposta imunológica. Ou seja, a proteção não é garantida.

Por que não haverá vacinação de toda a população? A vacinação em massa para a contenção da pandemia não é o foco da estratégia estabelecida para o enfrentamento da segunda onda pandêmica em todo o mundo essa contenção não é mais possível. Além disso, não há disponibilidade do produto em quantidade suficiente para atender toda a população do mundo. Há, também, a limitação da capacidade de produção por parte dos laboratórios produtores para entrega antes do início da segunda onda nos países do Hemisfério Sul.

SERVIÇO Para outras informações sobre gripe suína, entre em contato com o Disque Saúde, pelo 0800.611997