Título: Lula cobra eficiência e relação com aliados
Autor: Henrique Gomes Batista
Fonte: Valor Econômico, 24/03/2005, Política, p. A5
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi objetivo e incisivo na reunião ministerial de ontem, a primeira do ano, realizada para apresentar os dois novos ministros do governo - Romero Jucá, da Previdência, e Paulo Bernardo, do Planejamento - e marcar o encerramento do processo de reforma ministerial. O presidente pediu a retomada da iniciativa da administração. Em pouco mais de uma hora, Lula cobrou agilidade e conclusão de projetos. "Temos que colher em 2005 o que plantamos em 2003 e 2004", disse. O presidente também orientou os ministros a atenderem melhor os parlamentares. Segundo a orientação passada ao Ministério, "é um dever de todo o governo, recuperar uma base sólida de apoio ao governo no Congresso. " O deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP) foi apresentado como novo líder do governo na Câmara, e segundo assinalou o presidente, estará sob sua coordenação e do ministro Aldo Rebelo a articulação com o Congresso. Lula iniciou a reunião, segundo o porta-voz da presidência, André Singer, tranqüilizando a todos de que a reforma ministerial - arrastada desde outubro de 2004 - estava encerrada com a nomeação dos dois ministros. "Lula avisou que é preciso virar a página da reforma ministerial, e que quem faz mudanças é ele, no momento em que considerar necessário", disse o novo ministro da Previdência. Na reunião, que contou com todos os ministros exceto o vice-presidente e titular da Defesa, José Alencar, Tarso Genro (Educação) e Celso Amorim (Relações Exteriores), com os líderes do governo no Parlamento e com o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, os ministros ouviram instruções para trabalhar fortemente este ano que, segundo o presidente, tem que produzir resultados concretos. Muitos interlocutores do governo acreditam que a maior parte da reforma ministerial, que já estava praticamente fechada, foi adiada, sem prazos para sua conclusão, mas nada impediria que o presidente encontre, pontualmente, lugar para um ou outro parlamentar da base do governo. Lula afirmou que o governo ganha quando decisões são tomadas com celeridade e citou como exemplo as políticas contra a seca no Sul, além da intervenção em hospitais públicos do Rio de Janeiro. Alguns políticos da oposição acreditam que essa determinação é uma prova de que Lula já está em processo de campanha para sua reeleição, em 2006. Em um discurso de meia hora, o presidente cobrou, além da eficiência e rapidez nas decisões, melhor contato com a base aliada. "Todos os ministros devem se empenhar no diálogo com os parlamentares", disse. Lula reforçou as prioridades do governo para 2005: melhoria na gestão da Previdência - cercada de denúncias de fraudes e com a perspectiva do maior déficit da história neste ano -, o projeto de transposição do rio São Francisco, a conclusão da ferrovia Transnordestina e a implementação do projeto do Biodiesel. Lula pediu ao ministro chefe da Casa Civil, José Dirceu, que marque reuniões ministeriais para discutir a proposta do governo de reforma universitária e da transposição do rio São Francisco. O presidente fez um apelo aos ministros para que melhorem a eficiência dos gastos públicos, e que reduzam despesas. Em solenidade de premiação de micro empresas, o presidente resumiu: "Ganhei o dia hoje por dois motivos. Primeiro porque fiz uma boa reunião com meus ministros, decidimos algumas coisas importantes. Segundo porque resolvemos a engenharia do sistema ferroviário nacional que estava emperrado", disse ontem à noite. "Eu aprendi desde muito pequeno que não é possível fazer as coisas se a gente não sente emoção. Se não sentir no coração, a gente age como robô." (Colaborou Maria Lúcia Delgado, de Brasília)