Título: Articulação é de Aldo, mas reeleição é com o PT
Autor: Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 24/03/2005, Política, p. A6

Desgastado, porém credenciado pelo próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva para levar adiante a tarefa de articulação política do governo com o Congresso, governadores e prefeitos, o ministro Aldo Rebelo tenta reunir forças para retomar o diálogo do Executivo com os dirigentes de partidos políticos da base aliada. A ordem central de Lula para Rebelo é não misturar as conversas institucionais com os partidos da base - cujo objetivo é dinamizar a relação congressual - e a eleição de 2006. As duas coisas se misturam, mas ficou decidido que caberá ao presidente nacional do PT, José Genoíno, e ao ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, tocarem as conversas sobre alianças e a reeleição de Lula. Aldo Rebelo não entra nesta seara, até porque representa no ministério o pequeno PC do B. Nas últimas conversas com o ministro da Coordenação Política, Lula disse que não se pode fazer acordos para 2006 passando por cima do Congresso. Outra decisão de Lula que mostra mudanças no método da articulação política é que ele vai conduzir pessoalmente essas conversas com os presidentes de partido. Lula disse a Aldo Rebelo que não desistiu de ativar o Conselho Político, com participação ativa dos presidentes das legendas da base de sustentação, e que pretende colocar isso em prática nas próximas semanas. O presidente da República já iniciou o diálogo com o PMDB, e ontem chamou os dirigentes do PTB para uma longa conversa no Palácio. Aldo e o novo líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), vão participar de todas essas conversas. Na próxima semana será a vez do PL. O novo líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), promete trabalhar em sintonia com Aldo, mas já assume também seguindo novas regras de Lula. "Vou estar em sintonia com o Aldo e todos os ministros, porque o Lula quer todos os ministros no Congresso. É uma orientação geral do presidente", disse Chinaglia ao Valor. Depois de ter sido fritado pelos petistas, que queriam a todo custo retomar a articulação política para montar os palanques eleitorais em 2006, Aldo conta com o apoio de Chinaglia para restabelecer uma ponte institucional também com o PT. "Aldo é ministro da coordenação e eu líder do governo. Estou preocupado com a minha função. Se o PT tiver resistências ao nome do Aldo, cabe ao partido fazer. Não cabe a mim", afirmou o líder do governo. É possível que, nas próximas semanas, Aldo participe de uma reunião com a bancada do PT para expor qual é a visão de governo sobre a articulação política. O ministro fará isso em todas as bancadas, ao lado do líder do governo. Chinaglia mostra também que exigirá salvaguardas do Executivo para executar a função: "Vamos ouvir os líderes da base e o governo para tentar construir a unidade. Porque sou líder do governo, e líder do governo sem respaldo do governo não é líder. O trabalho de articulação política é cumulativo", avisou o petista. Rebelo e Chinaglia devem organizar uma ampla reunião com líderes da base provavelmente na próxima terça-feira. O governo está ciente de que o ponto crítico da articulação política está na Câmara. Tudo ficou muito complexo com a eleição de Severino Cavalcanti para a presidência da Casa. A aposta do governo, e dos aliados de Aldo Rebelo, é que o clima na base aliada melhore ao ponto de os partidos se articularem e exigirem de Severino respeito pelas decisões do Colégio de Líderes. Até agora, essa medida não surtiu efeito. Os líderes de oposição e da base aliada já reuniram-se com Severino e fizeram apelos para que o colégio seja informado de todas as decisões previamente, sobretudo em relação à nomeação de relatores e definição da pauta de votações. Cresce, na Câmara, uma preocupação com a imagem institucional da Casa. Ao suspender a reforma ministerial e reagir ao excesso de fisiologismo do PP, Lula mostrou que não permitirá a total contaminação do Congresso com essa política de planície. O presidente disse ainda aos presidentes de partido com quem já se reuniu que quer debates em torno de pautas, agendas. Só isso trará de volta um clima mínimo de civilidade na Câmara. A relação com o PP, aliás, segue problemática. O presidente Lula tem resistência em negociar com o líder do partido na Câmara, José Janene (PR). Lula demonstra-se muito incomodado com o fisiologismo escancarado de Janene, dizem interlocutores do presidente. A retomada do diálogo com o PP é um nó para o qual o Executivo ainda não tem solução mágica. Para os aliados de Aldo Rebelo, o ministro não sai derrotado na reforma ministerial e terá plenas condições de realizar este trabalho de condução das relações com o Congresso. Se Lula quisesse de fato substituí-lo, poderia ter tomado tal atitude sem custos políticos elevados. Preferiu reafirmar suas tarefas, entregando ao PT a missão de articular a sua candidatura à reeleição.