Título: Com Paulo Bernardo, bancários chegam ao quarto ministério
Autor: César Felício
Fonte: Valor Econômico, 24/03/2005, Político, p. A8

A posse do ex-diretor da Federação dos Bancários do Paraná, Paulo Bernardo, no Ministério do Planejamento soma quatro representantes do sindicalismo bancário na Esplanada . A categoria já estava nos ministérios do Trabalho e da Comunicação Social , com os ex-presidentes do Sindicatos dos Bancários de São Paulo e Osasco, Ricardo Berzoini e Luiz Gushiken, e no das Cidades, com o ex-presidente do Sindicato dos Bancários de Porto Alegre, Olívio Dutra. Dos três principais segmentos do PT - sindicalistas, militantes da Igreja e egressos de movimentos revolucionários - os sindicalistas são, de longe, os mais representativos no primeiro escalão. E, dos 10 ministros com origem sindical no governo, os bancários são a categoria melhor representada. Em comum, os sindicalistas do setor bancário têm maior experiência em negociações com o sistema financeiro e atuação em fundos de pensão. A preponderância dos bancários não surpreende o cientista político e ex-bancário Sidney Jards da Silva. O contato com investidores impregnou boa parte das lideranças do setor com uma mentalidade pragmática e moderada, diz. A natureza da atividade deu aos bancários experiência em áreas como previdência, habitação e crédito. O fato de trabalharem em empresas com base nacional deu à categoria articulação em todo o País, com uma capilaridade ausente em categorias como médicos (Antonio Palocci, Humberto Costa e Agnelo Queiroz), professores (Luiz Dulci), petroquímicos (Miguel Rosseto e Jaques Wagner) e metalúrgicos (Luiz Inácio Lula da Silva). "Na vertente negociadora, os bancários se igualam às outras categorias que a Articulação controla. Eles ganharam espaço no governo e na política por terem mais quadros técnicos em funções diferenciadas", disse Jards. O paradoxo é que na entidade de São Paulo e Osasco, a principal base, a Articulação começa a ver a sua hegemonia desafiada. Com a unificação das campanhas salariais dos bancos públicos e privados, em 2004, aumentou a representação na base de partidos que fazem oposição a Lula, como o PSTU . A proposta inicial do sindicato para um acordo com o meio patronal substituia a concessão de abonos, que marcou os anos anteriores, por um reajuste. Na assembléia da categoria, de forma surpreendente, a diretoria do sindicato foi derrotada e prevaleceu a radicalização: a categoria deu início a uma greve, que levou pela primeira vez em muitos anos banqueiros e bancários pedirem a intervenção da Justiça Trabalhista. Um resultado ruim para um sindicato que é modelo do que a CUT busca com a reforma sindicaL: antecipa vários dos pontos propostos, como as comissões de conciliação, a presença do delegado sindical nas instituições, e a ausência do imposto sindical. Ministro do Trabalho durante a greve , Berzoini não interferiu. Dutra fez declarações condenando o meio patronal. Empolgado com os acontecimentos, o dirigente Dirceu Travesso, do PSTU, planeja articular uma chapa de oposição, tendo como mote o combate à reforma sindical. "Esta reforma transfere poder da base para a cúpula e ameaça direitos históricos", afirmou. Em 2004, Travesso foi preso em vários piquetes durante a greve. Era, ao mesmo tempo, candidato à prefeitura de São Paulo, e usou as imagens em seu horário eleitoral. Na corrida por votos, pouco conseguiu: ficou em décimo lugar, com 0,14% dos votos. No meio sindical, pode se transformar em um catalizador dos insatisfeitos com a reforma proposta pelo governo. Presidente do Sindicato, Luiz Marcolino procura evitar a disputa e tenta costurar uma chapa única. Mas mostra auto-confiança. "Se houver divisão, não tenho dúvida de que a CUT irá ganhar fácil na categoria", afirmou. De acordo com Marcolino, o processo de negociação no ano passado não se radicalizou pela ação do PSTU, mas por divergências dentro da própria articulação sindical. Mesmo com a incorporação dos funcionários de bancos públicos, não teria havido o crescimento da extrema-esquerda. "Estamos conseguindo índices acima de 90% para as nossas posições nas votações recentes entre os servidores da Caixa Econômica Federal e do Banco do Brasil", disse.