Título: Lucro com compromisso social
Autor: Mendes, Karla
Fonte: Correio Braziliense, 22/03/2010, Economia, p. 11

Os megaprojetos em andamento no Brasil não vão sustentar apenas o crescimento econômico a taxa médias anuais entre 5% e 6%, como projetam governo e mercado financeiro. Vão, também, garantir um avanço social importantíssimo em um país ainda maculado por graves diferenças sociais e regionais. A avaliação é de Jaime Almeida, diretor da Consultoria Diagonal Urbana. Atento, ele avisa que a era de empresários predadores está chegando ao fim. Um projeto para ter sucesso não pode mais ter com o foco único o lucro. Deve agregar renda à população onde as empresas estão instaladas e dar acesso a uma infraestrutura de qualidade e incentivar a melhoria da educação e da saúde. O melhor de tudo, acredita ele, é que a sociedade está ciente dos seus direitos e, cada vez mais organizada, não abrirá mão se beneficiar dos avanços o que é um direito. Confira os principais trechos da entrevista que Almeida concedeu ao Correio Braziliense.

Qual a importância para o país receber investimentos tão expressivos, da ordem de R$ 345 bilhões? Simplesmente, eles garantem o crescimento sustentado do país, com aumento da oferta de produtos, custos menores e inflação sob controle. É o que chamamos de ganha-ganha. Os investidores vão ampliar seus negócios, vender mais e lucrar mais. A sociedade terá produtos e serviços de melhor qualidade, a preços mais acessíveis. Além disso, os trabalhadores poderão pleitear salários melhores e o governo arrecadará mais impostos. Então, realmente, estamos diante de um quadro muito otimista e de uma oportunidade de a sociedade ter um nível de amadurecimento para ampliar a cobrança social.

O senhor poderia ser mais específico sobre essa cobrança social em relação às empresas? Vejamos o caso da Petrobras, por exemplo. Quando ela constrói uma refinaria, precisa levar em consideração todos os impactos sociais e ambientais oriundos de seu projeto. O mesmo ocorre com a Vale, ao explorar uma mina, e com o governo, ao construir o trem-bala. São projetos de grande amplitude, que têm de resultar em melhorias para a população que está próxima aos empreendimentos. A sociedade já está organizada o suficiente para, quando ver esses projetos, exigir que eles tragam melhorias locais e não mais problemas. O aproveitamento da mão de obra local, o desenvolvimento de fornecedores locais e políticas de reassentamento são sempre muito bem-vindos.

O senhor realmente acredita na mobilização da sociedade para exigir o envolvimento das empresas com políticas que também privilegiem a população dos locais onde estão instaladas? Com certeza. A organização da sociedade avançou muito. Não há mais espaço para investimentos irresponsáveis socialmente. Quanto mais a sociedade se organizar, melhor será para todos. As parcerias potencializam os ganhos. É uma missão coletiva da sociedade. Quanto mais a sociedade tiver essa capacidade, essa articulação, mais ela aproveitará a chance de obter ganhos.

Quais os benefícios dos investimentos sustentáveis? As condições de vida de todos melhoram, são mais empregos, mais renda, serviços básicos aos quais hoje muitos não têm acesso. Também se reduzem as desigualdades sociais. Hoje, não vemos mais grandes projetos concentrados somente nos principais centros urbanos. Há investimentos gigantescos em locais que, até bem pouco tempo, estavam fora do mapa do dinheiro, como o interior do Pará e do Maranhão. Isso resultará em educação e saúde de melhor qualidade.

A legião de empresários predadores está chegando ao fim? Não tenho dúvidas disso. E isso não está acontecendo apenas por vontade própria deles. Foi uma imposição da sociedade. Empreendimentos sem visão social, sem compromisso com a preservação do meio ambiente estão fadados ao fracasso. Bom investimento é aquele que se preocupa com tudo, inclusive com a infraestrutura. Entramos em uma nova era para os investimentos. (KM)

Não há mais espaço para investimentos irresponsáveis socialmente. Quanto mais a sociedade se organizar, melhor será para todos