Título: Política do BC encarece o dinheiro
Autor: Alex Ribeiro
Fonte: Valor Econômico, 24/03/2005, Finanças, p. C1

Apesar dos poucos efeitos sobre o apetite de empresas e famílias para se endividar, o aperto na política monetária está sendo bem-sucedida para encarecer os juros cobrados nos empréstimos bancários. A taxa média das operações subiu de 46,8% para 47,5% ao ano entre janeiro e fevereiro, no segundo mês seguido de alta. Os dados parciais de março, até o dia 11, indicam uma nova elevação, de 0,5 ponto percentual. O principal fator por trás dessa alta é a elevação do custo de captação dos bancos, que passou de 18,2% para 18,6% ao ano. É um efeito direto da política monetária, que procura influenciar os juros cobrados dos clientes por meio do encarecimento da captação no mercado financeiro. Outro fator por trás do encarecimento do crédito é a elevação do spread bancário - ou seja, a parcela das taxas de juros que banca custos administrativos, impostos e o lucro dos bancos -, que passou de 28,5 para 28,8 pontos percentuais, entre janeiro e fevereiro. O spread bancário, que se manteve mais ou menos estável no segundo semestre de 2004, começou a se elevar lentamente a partir de dezembro, num movimento dos bancos para recompor as suas margens. Neste início de ano, também está sendo quebrada uma tendência de estabilidade nas taxas para as pessoas físicas. A taxa média subiu de 63,4% para 64% ao ano entre janeiro e fevereiro, pelo segundo mês seguido. No ultimo trimestre de 2004, os juros para empresas vinham subindo sistematicamente, e voltaram a subir entre janeiro e fevereiro, de 32,2% para 32,4% ao ano. Mas o mesmo não se observava nas taxas médias cobradas das famílias: a maior difusão dos empréstimos consignados em folha de pagamento, que têm juros abaixo das linhas tradicionais, vinha produzindo um efeito estatístico positivo, puxando para baixo a taxa média. Em fevereiro, o crédito consignado continuou a crescer, mas não em volume suficiente para segurar os juros médios. Além disso, houve um efeito estatístico negativo do cheque especial (com juros de 146,4% ao ano, os mais altos entre todas as modalidades de crédito), que registrou um avanço nos volumes concedidos em fevereiro, devido a fatores sazonais, como concentração de pagamentos de impostos. (AR)