Título: Há ineficiência na oferta de recursos
Autor: Alex Ribeiro
Fonte: Valor Econômico, 24/03/2005, Finanças, p. C1

Apesar de o crédito ter crescido 18,9% no ano passado e mais 2,7% de janeiro a fevereiro, atingindo perto de meio trilhão de reais, o ex-presidente do Banco Central e sócio da Tendências Consultoria, Gustavo Loyola, identifica um sério problema de eficiência nessa atividade. "O crédito não chega em condições adequadas aos tomadores: a relação com o PIB ainda é baixa e o spread é elevado", afirmou Loyola, que prepara exposição sobre o tema em seminário que a consultoria realizará em 14 de abril com o tema "Perspectivas da Economia Brasileira - Agenda para o Crescimento". De acordo com dados ontem divulgados pelo BC, o crédito geral cresceu 20,5% nos últimos doze meses, atingindo R$ 498,305 bilhões em fevereiro, ou 26,7% do PIB. O ex-presidente do BC ressalva que houve uma melhora. "Há uma espetacular reação do crédito. Os bancos estão reagindo positivamente a medidas micro e à redução do risco macro com o crescimento econômico, do emprego e da renda. O prazo também está aumentando", afirmou. Segundo o especialista, o que "inibe o crédito é o stop and go. O crédito é pró-cíclico", afirmou. Para Loyola, o crédito não cresce mais "por problemas de mercado e da infra-estrutura do mercado". Entre esses problemas cita a informalidade ainda elevada, tanto entre pessoas físicas quanto pequenas empresas, que dificulta a avaliação dos bancos. O juro básico elevado também coloca um piso para o mercado. A criação dos birôs positivos de informação cadastral dos clientes ajudaria a amenizar o problema. A nova Lei de Falências e avanços processuais reforçam a mesma direção. O consultor minimiza a culpa dos bancos no custo dos juros do crédito apesar de recente estudo de pesquisadores do próprio BC terem apurado o peso importante das despesas administrativas no spread bancário. No estudo dos pesquisadores do BC, Ana Carla Abrão Costa e Márcio Nakane, os custos administrativos têm uma participação de 28,34% no spread bancário, superior mesmo à inadimplência, com 27,31%; o resultado apropriado pelos bancos é de 23,47%, cunha tributária, 12,33%; e os compulsórios, de 8,31%. Loyola explicou que influem nos gastos dos bancos fatores específicos do mercado brasileiro como os gastos com segurança e a escala.