Título: Website flutuante leva tecnologia pelo Amazonas
Autor: Evaldo Mocarzel
Fonte: Valor Econômico, 24/03/2005, Valor Especial, p. F2

Mais do que um programa de inclusão digital, uma plataforma de comunicação da Amazônia com o resto do mundo. A idéia é do cineasta Jorge Bodanzky, um dos criadores do projeto Navegar Amazônia. Ele negocia com o Ministério da Cultura para que seu projeto de um canal móvel de TV digital volte a circular numa embarcação pelos rios da região ainda neste semestre. " O objetivo do Navegar não é apenas dar instrumentos a quem não tem acesso à internet " , diz o veterano cineasta de 61 anos, diretor de títulos seminais do cinema brasileiro, como " Iracema - Uma Transa Amazônica " , o primeiro filme a exibir imagens das queimadas na região. A intenção de Bodanzky é promover uma inclusão total com o mundo ligado à internet. A produção de conteúdos vai desde o turismo ecológico até o resgate de tradições locais das populações ribeirinhas. "Estamos dando a elas uma plataforma tecnológica para a produção de textos, conteúdos audiovisuais, fotografia, música, dança, desenho animado, videoconferências, enfim, intercâmbio permanente com as outras comunidades da Amazônia e com o resto do mundo " , explica. O projeto Navegar Amazônia é um website flutuante que vai percorrer os principais rios utilizados pela população nos Estados do Pará, Amapá e Amazonas. " Temos a intenção de estender o programa para outros Estados, como o Acre " , ressalta o cineasta. A trajetória do barco será pelo rio Amazonas e seus afluentes. Com design típico das embarcações da região, o Navegar tem três pavimentos e um moderno laboratório de tecnologia da informação, com ar refrigerado e sete computadores desktop e um laptop. Todos ligados a scanners, webcâmeras, câmeras digitais, filmadoras e impressoras, com capacidade para oito técnicos trabalharem simultaneamente. " O barco também está equipado com um sistema de videoconferência e geração de programas de TV digital, com o quais o espectador pode interagir, como se fosse na internet, com seu mouse " , explica Bodanzky. "A nossa intenção é ajudar a fortalecer a cultura local num mundo cada vez mais internetizado, através do registro e da difusão dessas experiências regionais na web", afirma o cineasta. A idéia é capacitar os agentes sócio-culturais da região e difundir informações e serviços a todos os cidadãos da Amazônia. Bodanzky lembra que o Navegar Amazônia é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip). Tudo começou em 1996, quando o cineasta foi convidado pelo Ministério do Meio Ambiente para fazer uma enciclopédia em CD-Rom sobre a Amazônia. Bodanzky acabou conhecendo o trabalho de desenvolvimento sustentável que estava sendo realizado no Amapá pelo então governador Alberto Capiberibe, que também era parceiro no projeto do Ministério do Meio Ambiente. O cineasta foi então convidado a produzir, além do CD-Rom, um site sobre o Amapá. " Nesse período, conheci o José Roberto Lacerda Ramos, que era presidente do Centro de Processamento de Dados do Amapá (Prodap) e se tornou meu grande parceiro. Naquela época, nós ficávamos sentados na beira do rio Amazonas, em Macapá, vendo os barcos passando e, de repente, surgiu a idéia de equipar uma daquelas embarcações com tecnologia de última geração " , lembra. Há oito anos, observa ele, o Estado do Amapá não tinha nem provedor. " Ficamos sonhando com aquela possibilidade: um barco regional com acesso à internet. O Prodap acabou montando esse barco, o Navegar, e ele funcionou durante dois anos, em 2000 e 2001, fazendo o trajeto de 12 horas entre Macapá e o arquipélago Bailique, na foz do rio Amazonas " . Inicialmente, o barco serviu de suporte para vários programas do governo de Alberto Capiberibe. As negociações com o Ministério da Cultura para que o barco volte a navegar estão sendo conduzidas por Jorge Bodanzky e pelo produtor-executivo do projeto, Aldo Wandersman. " A embarcação vai principalmente às vilas ribeirinhas, abrindo canais de comunicação com o resto do mundo, atividades culturais, documentários sobre as tradições locais, entre muitas outras possibilidades. As pessoas serão capacitadas e vão aprender a se filmar. A intenção é que as pessoas transmitam a própria imagem, a própria cultura. Tudo disponível em banda larga, ao vivo e em arquivos num canal de TV digital móvel transitando pela Amazônia " , explica. Bodanzky comenta que o objetivo é também interagir com atividades existentes nas regiões e colocadas em práticas por ONGs, escolas, associações, etc. " Vamos acrescentar a tudo isso o nosso know-how, a nossa tecnologia " , diz. " Vamos ajudar a preservar manifestações folclóricas, tradições locais e disponibilizá-las em arquivos. Vamos chegar numa região estagnada no século 19 e trazer a tecnologia de ponta do século 21 " . Ele adverte que o Navegar não é um " barco-escola " . A idéia é trabalhar em parceria com as escolas, recebendo e fornecendo conteúdos. Mas o barco "é essencialmente uma plataforma de comunicação com o resto do mundo " , insiste. A embarcação funciona também como um laboratório de tecnologia. A tecnologia do Navegar também estará aberta a projetos de voluntariado, universidades, ONGs, órgãos públicos e a todo tipo de entidade que esteja fazendo trabalhos voltados para a cultura amazônica. " Por exemplo: se o Ministério de Recursos Hídricos quiser utilizar a tecnologia do barco para fazer análise das águas dos rios da região, o Navegar estará aberto a esses pesquisadores " , diz. A embarcação terá uma equipe com cerca de 10 pessoas, mas tem capacidade para 20 tripulantes.