Título: Jovens aprendem linguagem das ONGs
Autor: Silvia Torikachvili
Fonte: Valor Econômico, 24/03/2005, Valor Especial, p. F3

Gerar renda é um aprendizado que pode ter início na adolescência. Na Cipó, comandada por Anna Penido, essas lições começam quando os alunos de 15, 16 anos ainda estão nas escolas públicas de Salvador (BA). A razão de ser da Cipó é ensinar comunicação com ênfase no universo do terceiro setor. O diferencial tem motivo. Antiga funcionária de uma poderosa fundação, Anna constatou que faltavam profissionais que falassem a linguagem das organizações sociais. Descoberto o nicho, ela fundou uma entidade para apresentar esse mundo a jovens de comunidades desassistidas. Desde 1999, quando a Cipó Comunicação Interativa começou a funcionar, mais de sete mil jovens já passaram pelos cursos profissionalizantes. "A grande demanda pelos profissionais comprova que o mercado carece desses serviços específicos", diz Anna. Esses serviços incluem desde peças publicitárias, assessoria de comunicação, construção de sites, vídeo, fotografia, ilustração, diagramação, design, produção - tudo dirigido às necessidades do terceiro setor. A formação técnica é eficaz e tem gerado trabalho para todos: atualmente 148 jovens estão com a carteira assinada. "Nosso objetivo é encontrar saída para o binômio office-boy e carregador, que parecem ser as únicas perspectivas que restam aos adolescentes de baixa renda", diz Anna. A perspectiva de um futuro promissor teve efeitos visíveis no desempenho na escola formal - o mais claro é o aproveitamento. "Como os aprendizes estão sempre circulando acabam garimpando trabalho e gerando renda antes mesmo de entrar no mercado, e constatam que dedicação à escola pode fazer muita diferença na vida profissional", diz Anna. A arrancada para a profissionalização da própria Cipó foi em 2001, ao ser selecionada para o prêmio da Ashoka, quando recebeu capacitação específica para seu plano de negócio. "Trabalhamos com campanhas dirigidas e foco na causa social, que é muito diferente do produto comercial", diz Anna. Profissionalizar jovens é também a ocupação da Associação Caminhando Juntos (ACJ). A missão é identificar, fortalecer e motivar a juventude das áreas urbanas. Para tanto conta com a parceria de entidades com programas de educação profissional. A ACJ tem ainda a colaboração de empresas que contribuem com recursos humanos ou doações financeiras. Em conjunto com o G-8, como é chamado o grupo de oito organizações sociais parceiras, o ACJ aposta em projetos com dois objetivos: profissionalização e inclusão social. Um dos projetos é comandado por Latoya Guimarães, 22 anos, que trabalha com 37 pessoas em sua Cooperafro. A organização fica em Americanópolis, periferia de São Paulo, tem foco no empreendedorismo, parceria com o Senac e produz arte com material de reciclagem. "Fizemos um recorte étnico e constatamos que 70% dos jovens desempregados entre 18 e 24 anos são negros", conta Latoya. Com base nessa realidade, a ação da Cooperafro começou há 14 meses com objetivo de incluir socialmente esses jovens. "Já temos pessoas mais articuladas, formando suas redes, recebendo capacitação e se organizando para recolher material, transformar e vender". Ângela Borges tem 19 anos, cursa administração e comanda o projeto de geração de renda do Centro de Profissionalização de Adolescentes (CPA) de São Mateus, em São Paulo. Durante o curso são identificados empreendedores e suas iniciativas para geração de renda. Entre esses jovens, 15 já fazem parte do websocial, uma cooperativa que constrói sites para entidades sociais, enquanto outros 25 dão suporte em informática. A ACJ é afiliada a United Way International, responsável pela distribuição de fundos para projetos sociais em 41 países. O enfoque é o equilíbrio entre o desenvolvimento econômico, social e ambiental.