Título: Severino cede à pressão dos líderes partidários para a definição da pauta
Autor: Maria Lúcia Delgado e Henrique Gomes Batista
Fonte: Valor Econômico, 30/03/2005, Política, p. A16

O presidente da Câmara, Severino Cavalcanti, deu sinais ontem de que está sentindo o peso das críticas à defesa explícita que faz de privilégios para os parlamentares e às posições corporativistas que defende. "Eu já estou ficando cansado", confessou ele, em reunião do colégio de líderes, ao analisar a reação da imprensa a seus comentários. Severino teve que ceder à pressão dos líderes para uma discussão mais democrática sobre a definição da pauta de votações no plenário, mas fez questão de reiterar que "a decisão final" sobre qual matéria vai a plenário é dele. Os líderes poderão entregar sugestões semanais, e ficou acertado que toda quinta-feira será definida a pauta da semana seguinte. "Gostaria de dizer que este presidente e a Câmara dos Deputados vêm pontuando o noticiário, ora de forma verdadeira, ora de forma tendenciosa, mentirosa ou mal-intencionada. Pelos meus erros eu respondo. Só não posso responder pelo exagero que colocam nas minhas costas, com notícias e dados mentirosos que acabam por atingir a própria instituição", disse Severino, em mensagem que foi lida aos líderes no início da reunião e divulgada à imprensa em seguida. Severino disse aos líderes que não tem a intenção de dirigir os trabalhos da Câmara sozinho. Pediu a eles que enviem semanalmente, até quarta-feira à noite, uma lista à Secretaria Geral da Mesa de projetos que consideram prioritários para votação na semana seguinte. "Reitero a consideração que tenho pelos senhores líderes e por todos os deputados desta Casa", disse. "Não queremos retirar a prerrogativa do presidente de definir a pauta, mas queremos discuti-la", disse o líder do PFL, Rodrigo Maia (RJ). Para o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), será possível, a partir de agora, "voltar a valorizar os líderes e os acordos". Em relação às relatorias, o presidente da Câmara vai respeitar a proporcionalidade partidária, mas não avisar antecipadamente a qual partido caberá a indicação. Ficou acertado que é o partido quem indica o relator, mas é Severino quem decide a qual partido será entregue determinada relatoria, sempre respeitando a proporcionalidade. "O clima já está tão ruim, que ninguém quis abrir a boca", disse um líder ao Valor. Quem saiu em defesa do presidente da Câmara foi o líder do Prona, Enéas Carneiro (SP), que classificou a mídia de "perversa". O momento de maior confronto com Severino foi reservado ao plenário. Na noite de ontem, o deputado Roberto Freire (PPS-PE) levou ao plenário a discussão sobre o constrangimento institucional da Casa. Freire pediu à presidência que submetesse ao plenário a análise da decisão da Mesa Diretora de reajustar a verba de gabinete dos parlamentares de R$ 35 mil para R$ 44 mil. Severino impugnou o requerimento e decidiu não dar prosseguimento a ele. "É fundamental que a Câmara se pronuncie perante à sociedade, dizendo se aceita isso ou se considera um abuso", disse Freire. "A presidência segue à risca o regimento. Não há no regimento previsão para que ato da Mesa seja submetido ao plenário", disse Severino. Os dois discutiram ainda sobre o tema nepotismo. "Não estou aqui para dar privilégios. Minha posição é de igualdade, de igualdade para todos. Só que a proibição (de nepotismo) tem que ser para o Executivo e o Judiciário (além do Legislativo), municipal e estadual", argumentou o presidente da Câmara.